A gente acompanha a carreira da Madame Sher como corsetmaker faz tempo, bem antes dela chegar ao mainstream. Ver o seu crescimento profissional num país que pouco se dá valor ao mercado de nicho é um estímulo para os alternativos que estão começando ou querem investir num negócio novo. Há tanto buracos para serem preenchidos na indústria, por que sempre apostar no mesmo? Nós sabemos do desafio que é criar algo que saia do padrão no Brasil, não é fácil montar um empreendimento aqui, mas se desistirmos nas primeiras barreiras, nada mudará. É preciso ter persistência, e mesmo com tudo do contra, há como se vencer. Assim, confiram nossa rápida entrevista com a Sher, que dividiu conosco sua visão sobre moda e varejo.
Quando e como surgiu o seu interesse e fetiche pelo corset?
O meu interesse em corsets vem da minha infância. Minha mãe trabalhava em casa fazendo vestidos de festa para um ateliê, e eu sempre mostrei forte preferências pelos que eram divididos entre saia e corpete e era obcecada pelos de amarração nas costas, tanto que obrigava minha mãe a fazer espartilhos para TODAS as minhas bonecas quando tinha 4 anos de idade [risos].
Aos 11 anos quando meu corpo se desenvolveu, decidi que queria usar algo para mais elaborado que um cinto para modelar minha cintura e dar uma silhueta mais dramática aos meus vestidos. Eu queria um espartilho verdadeiro, mas a única coisa que existia no mercado para essa finalidade eram cintas e até que fiquei momentaneamente feliz quando consegui comprar, porém não durou porque ela deformou em pouco tempo de uso e eu não tinha meios de comprar cintas indefinidamente, então engoli minha frustração e esqueci os corsets.
Foi só em 1998, com a popularização da internet que eu descobri que ainda existiam profissionais dedicados a confecção de espartilhos à moda antiga na Europa, porém naquela época era impossível para uma adolescente mandar fazer um corset sob medida fora. O valor em Libras mais taxas de importação ficava exorbitante se convertido.
Quando você começou, pegava o público mais gótico e metal, ainda nem tinha chegado a "moda pin-up". Você se considera ou tem afinidade com alguma subcultura? Quando você se interessou pela cena alternativa?
Quando eu tinha 16 anos eu era chamada de gótica pela mãe dos meus amigos, mas naquela época eu nem sabia o que era, imagine! Também foi com o acesso a internet aos meus 17 anos que descobri e me encontrei na cena alternativa brasileira, naquele mesmo período acompanhava o que podia da cena gótica Londrina e ia ao delírio vendo as fotos dos figurinos. Cheguei a elaborar uma grife de roupas góticas no ano 2000, mas não deu muito certo. Eu sempre quis fazer roupas mais luxuosas e o público alternativo por ser composto naquele período por uma maioria muito jovem não tinha como consumir os meus delírios.
Já em 2003, eu tinha focado totalmente no desenvolvimento de corsets e a cena alternativa, tanto gótica (pelas festas do Carcasse), como fetichista estava aquecida e isso acabou colaborando com a exposição do meu trabalho com Corsets já que eu participava ativamente da organização de muitas festas.
Sher em 2004. Foto retirada de seu perfil pessoal no Facebook.
Durante séculos, o corset ficou conhecido por ser uma peça de roupa que aprisionou o corpo da mulher. Isso inclusive se tornou um estigma da vestimenta. Tão forte que, até hoje, onde temos a opção de escolha, há pessoas que ainda o consideram castrador. O que você acha dessa visão?
Existe uma tendência humana de buscar um culpado para evitar encarar a realidade como um todo. Não foi o corset que aprisionou a mulher. A exigência estética e social sobre o corpo feminino sempre foi impiedosa e se faz sentir até hoje, com muito mais força devido a explosão dos meios de propaganda e comunicação. Antes os corsets e demais peças de transformação externa da silhueta eram o principal foco, hoje as dietas, suplementações, exercícios e cirurgias plásticas, porém como essas são novidade, ainda não carregam tanto estigma.
No final das contas o espartilho é apenas uma peça de roupa que assume diferentes significados dependendo da forma que é utilizado.
Acompanhando grupos de corset, nota-se um grande interesse feminino no uso da peça para a prática de Tight Lacing. Mas o corset também pode ser usado como peça de estilo, sem um laço apertado. O que acha do uso do corset apenas como peça de estilo? Você é adepta?
Atualmente uso o corset muito mais como peça fashion. Sua imagem é contraditória mas que casa bem com a pluralidade da mulher atual. Acredito que estará sempre presente na moda, mesmo que em menor ou maior escala, por ser impactante e simbólico. Ao esculpir o torso destacando os atributos femininos e conferindo uma postura mais altiva à mulher o corset a transforma em ícone. Ao mesmo tempo que expõe a feminilidade, tem aspecto de armadura o que remete a uma figura sexualmente dominante e até mesmo agressiva. Mas o melhor é que o corset representa o duplo muito bem, existe a leitura da mulher solícita que se dispõe como objeto de desejo ao prazer alheio.
Você começou a grife porque não achava nada parecido no país. No Brasil, parece que os empresários têm medo de investir no mercado de nicho, eles preferem abrir mais uma marca “popular” do que algo com proposta diferente, conceitual. Acha que o consumidor tem dificuldade de ser individualista na hora de se vestir, preferindo seguir a massa ou é a indústria que não oferece opção?
A grande maioria dos empresários ou aspirantes nunca quiseram correr riscos. Espírito verdadeiramente empreendedor sempre foi raro e por isso sempre contou com reconhecimento. Agora com a difusão de internet e suas lojas virtuais é possível se dedicar a mercados de nicho com investimento reduzido.
A questão cultural também tem um grande papel, pois é ela quem define os anseios do consumidor.
Alguns modelos Overbust destacando a variedade da grife.
Durante muito tempo, foi normal que lojas e alternativos do país não quisessem se envolver com a grande mídia mainstream devido ao julgamento estético equivocado. Atualmente, isso mudou um pouco, já existem alternativos em canais de TV e reality shows. Você teve algum conflito interno por topar participar de programas mais populares ou encarou tudo como uma oportunidade de divulgação de seu trabalho?
Na minha adolescência eu tinha uma grande aversão à mídia, tanto que recusei os primeiros convites para dar entrevistas, mas como o canal em questão iria levar a pauta ao ar de qualquer forma e naquela época existiam alguns aproveitadores querendo pegar carona na moda dos espartilhos sem comprometimento em dar informações para o uso seguro, eu acabei voltando atrás e aceitando o convite, por mera preocupação com o futuro dos corsets no Brasil. Eu não queria que se repetissem os erros históricos de produção em larga escala e abuso no uso. Minha paixão pelo corset estava, e ainda está, acima de uma questão meramente comercial.
Na mídia: Pitty, Fernanda Young, Adriane Galisteu
e Gisele Bündchen usando corsets Madame Sher.
A nova coleção The Front Ladies, é inspirada em mulheres à frente de seu tempo com peças minimalistas mas com design. O corset é muito associado a momentos de erotismo. Você enxerga essa coleção como uma evolução do seu trabalho, uma forma de mudar conceitos e mostrar que a peça também pode ser usada em situações mais formais do dia a dia?
Eu sempre quis empurrar o corset um passo além do erotismo e anular a associação direta com lingerie. Depois de exorcizar os extremos do romantismo na coleção Beautiful Darlings com sua predominância de cores claras, elementos barrocos, boudoir e pitadas de steampunk, eu quis partir de vez para uma proposta mais madura e dar uma opção para os eventos limítrofes entre a formalidade e a informalidade. No dia-a-dia propriamente dito, poucas mulheres sustentariam o uso do corset à mostra. É necessária muita austeridade para rebater os preconceitos ao redor e geralmente na maioria dos ambientes de trabalho há necessidade de concentrar energia em outros objetivos.
Lina Bo Bardi, Émilie du Châtelet, Mata Hari, Anita Garibaldi, Marie Curie, Evita Perón, Amelia Earhart e Helene Faasen e Anne-Marie Thus (AnneHelene) foram mulheres à frente de suas épocas que inspiraram a mais recente coleção.
E pra acompanhar o trabalho da Madame Sher, basta acessar o site oficial e a fanpage no facebook.
Lina Bo Bardi, Émilie du Châtelet, Mata Hari, Anita Garibaldi, Marie Curie, Evita Perón, Amelia Earhart e Helene Faasen e Anne-Marie Thus (AnneHelene) foram mulheres à frente de suas épocas que inspiraram a mais recente coleção.
Espero que tenham gostado da entrevista! :D
Vocês têm ou querem ter uma peça da marca? Qual seu modelo preferido?
E pra acompanhar o trabalho da Madame Sher, basta acessar o site oficial e a fanpage no facebook.
Gosta do Moda de Subculturas?
Acompanhe nossos links:
Acompanhe nossos links:
O trabalho da Sher é belíssimo e ainda admiro sua postura em sempre colocar questões políticas e sociais nas suas entrevistas ou msm no facebook. Sem dúvida várias peças dela estão na minha lista de desejos <3
ResponderExcluirAdorei a entrevista! Conheço a marca há pouco tempo, mas cobiço vários modelos que ela produz. Eu tenho problema em usar corset pelo fato de ter seios pequenos e acabar achando estranho, mas ainda vou achar um modelo que me faça sentir bem de verdade pra usar.
ResponderExcluirZona de Conspiração | Facebook da Zona
Muito bom a entrevista, o trabalho dela é lindo de mais *-----------*
ResponderExcluirEntrei no link do site e já estou desejando
Beijos :*
http://www.cherryacessorioseafins.com.br/
Adorei o entrevista, e que trabalho maravilhosos fiquei babando, nunca usei um corset mais tenho muita vontade, acho que a mulher fica linda e poderosa neles
ResponderExcluirBeijos
Blog Segredos da Cáh
Instagram
Facebook
Canal do You Tube
Ótima entrevista, muito bem questionada e muito bem explicado pela entrevistada. Os corsets dela realmente são um sonho.
ResponderExcluirO trabalho dessa mulher é incrível! *-*
ResponderExcluirQuem me dera ter um corset dela.. ta além das minhas possibilidades financeiras... mas que eu sou apaixonada, eu sou!
Amooo espartilhos e se pudesse, usaria quase sempre. ^^
Adorei a entrevista!
bjin
http://monevenzel.blogspot.com.br/
Muito boa a entrevista! A parte que fala sobre o corset ser uma ferramenta de aprisionamento e hoje mudar de conceito foi muito bem colocada. Excelente!
ResponderExcluirAdorei a entrevista! <3
ResponderExcluirInfelizmente, não possuo nenhum corset da Madame Sher, pois não há CA$H suficiente pra completar minha transação. Mas, sonhar é de graça! rs'
Beijões! :*
Amei a entrevista! Sou apaixonada por corsets e pratico Tight Lacing :D
ResponderExcluirSonho em comprar um corset da Madame Sher, são tão perfeitos!! *--* A nova coleção está lindíssima!
Quem quiser saber mais sobre o Tight Lacing pode passar no meu blog: diariodocorset.blogspot.com !
Eu fiz dois modelos com a Sher e são perfeitos, realmente peças de desejo p qq mulher...
ResponderExcluirHoje não uso mais mas na época eram minha obsessão rs...