O individualismo, que era a coisa mais legal que as subculturas tinham, se tornou, com o passar das décadas - com a ajuda do capitalismo - uma faca de dois gumes, que muitas vezes pode ser responsável pela intolerância ao próximo, pelo egoísmo, pela "minha opinião vale mais que a sua", porque perdemos o hábito de em grupos, dividir tudo e saber lidar pessoalmente com opiniões divergentes. Por que nos isolamos em frente do computador e reclamamos da falta de amizade e solidão? Enquanto que no passado, tudo que o jovem queria era sair pra rua encontrar as amizades pra dividir e debater, cara a cara, as opiniões divergentes e praticar a diplomacia. Largamos nosso interesse pela comunidade em troca de prazeres individuais tendo a moda como reflexo de tudo isso.
Vamos para 60 anos atrás. Esqueçam o hoje.
Imagine uma jovem mulher na década de 1950.
De repente, se anunciava: a moda primaveril é um vestido verde com um laço nas costas. Todas as mulheres precisavam ter um vestido verde com um laço nas costas. A moda ditava: "tem que usar" cor de rosa nesse verão. E todas as mulheres precisavam ter um vestido cor de rosa para o verão! E se não usassem? Seriam vistas como deselegantes e fora de moda. Os julgamentos sociais eram fortes e levados em consideração.
Mas... e se elas não gostassem de rosa, de verde ou de laço? E se elas não gostassem do penteado ou da maquiagem da moda? Não tinham escolha. Elas TINHAM QUE usar para serem respeitadas. Haviam linhas seguir, silhuetas a corretas a se vestir...
Embora o conceito de indivíduo como conhecemos hoje tenha surgido no século XIX, a falta de individualidade ainda era bem presente na década de 1950.
É relativamente fácil estudar história da moda até a década de 1950,
pois tudo era meio que padronizado. Homens e mulheres usavam as mesmas
roupas e estas se diferenciavam pelas classes sociais. As pessoas mais simples usavam a silhueta da moda com tecido de menor qualidade e apenas os
pobres "tinham o direito" de não seguir moda. As classes sociais eram muito divididas através das roupas. Quem sabia costurar imitava a roupa dos ricos depois de economizar meses pra comprar um bom tecido.
O pai mandava, filho obedecia.
Na real: não havia uma ALTERNATIVA
Mas daí... veio por exemplo, o Rock n Roll.
O rock dizia "eu quero escolher minha vida, quero ser diferente dos meus pais, quero ter liberdade de escolha".
Rockers
E foi lá, na década de 1950 que surgem jovens
que contrariavam essa obrigação de ser igual. Jovens rockabillies que usavam jeans (calças usadas por trabalhadores),
camiseta (peça que era considerada underwear) e jaqueta de couro chocavam a sociedade. E tão cruel era a sociedade da época, que os pais destes jovens sofriam preconceito da vizinhança. O que acontecia com os jovens? Eram expulsos de
casa por serem a vergonha da família, mães choravam porque seus filhos
eram párias e as envergonhavam socialmente. Tudo isso porque estes
jovens estavam expressando sua individualidade. Estavam expressando que não queriam mais viver a vida como seus pais queriam escolher seus próprios caminhos.
Por isso até hoje, jovens encontram nos segmentos musicais do Rock uma identificação tanto estética quanto comportamental. Porque o rock tem um viés questionador, contestador e socialmente desafiador.
Na década de 1960, por causa da minissaia, a bainha feminina diminui. Desta vez, as mulheres tinham que encurtar suas saias mesmo que elas não gostassem de mostrar as pernas. Os jovens ousavam expressar sua individualidade e foi nessa época que eles passaram a ditar a moda na sociedade, nesta década também, surgem as múltiplas escolhas de moda. Por causa dessa revolução juvenil, chocavam muito a sociedade, vide a Swinging London e os hippies.
Rockabillies
Por isso até hoje, jovens encontram nos segmentos musicais do Rock uma identificação tanto estética quanto comportamental. Porque o rock tem um viés questionador, contestador e socialmente desafiador.
Na década de 1960, por causa da minissaia, a bainha feminina diminui. Desta vez, as mulheres tinham que encurtar suas saias mesmo que elas não gostassem de mostrar as pernas. Os jovens ousavam expressar sua individualidade e foi nessa época que eles passaram a ditar a moda na sociedade, nesta década também, surgem as múltiplas escolhas de moda. Por causa dessa revolução juvenil, chocavam muito a sociedade, vide a Swinging London e os hippies.
Até que no fim da década de 1970, surge a estética Punk e aquilo foi um choque social tremendo! Imaginem o absurdo: jovens usando o que quisessem, desconstruindo tudo e expressando suas individualidades ao máximo em visuais nunca antes vistos?? Inaceitável né? (#ironia).
Esses jovens eram da geração chamada Baby Boomer. Jovens que expandiram o conceito de individualidade estética.
Hoje idosos, a geração Baby Boomer revolucionou o conceito de juventude.
Quando no post "Subculturas e o conceito de liberdade" escrevi que subculturas não aprisionam e quem tende a fazer isso é o mainstream, era sobre isso escrito à cima que eu me referia. Sobre o contexto histórico em que elas estão inseridas. Vocês conseguem perceber como as subculturas "libertaram" os jovens de padrões comportamentais e estéticos permitindo que eles expressassem suas individualidades através da livre escolha de moda?
Os programas de TV desde sempre eternizando a ideia de que alternativos são "errados" e precisam ser "consertados". Neste anúncio do começo de 80s, o canal ABC pergunta: "O que fazer quando seu brilhante, amável e talentoso filho vira punk da noite para o dia?" Na imagem, o ator tem atitude agressiva e desafiadora perante a família, já passando a ideia de que o problemático é ele (e não a sociedade preconceituosa).
Hoje, ao invés da autoridade na moda, há a pluralidade. Hoje, existem várias alternativas. Hoje, o termo "tem que usar" nunca esteve tão fora de moda. E foram os jovens, foram as subculturas que impulsionaram isso. Impulsionaram estas mudanças sociais. Por isso não tem como negar que eles foram e ainda são extremamente importantes na nossa história. Querer fechar os olhos pra cultura alternativa, querer não respeitar o direito dela existir, ou não levar os jovens à sério em qualquer época que seja, é um grande atraso seja na questão da moda, seja no entendimento do que nossa sociedade é hoje. Porque o jovem empoderado de si mesmo tem poder de mudança social!
Podemos conviver pacificamente e tolerantes com todas as idades e com todas as diferenças, basta estar de mente aberta, ter empatia e julgar menos quem é diferente de você nas ideias e no visual. O julgamento e o desejo de mudança do estilo do outro alimentam o preconceito.
Podemos conviver pacificamente e tolerantes com todas as idades e com todas as diferenças, basta estar de mente aberta, ter empatia e julgar menos quem é diferente de você nas ideias e no visual. O julgamento e o desejo de mudança do estilo do outro alimentam o preconceito.
Vou continuar falando de individualismo da década de 1980 até chegar aos dias de hoje pra continuar esse questionamento amplo sobre solidão, infelicidade, subculturas, individualismo, egoísmo e quanto o mundo pós moderno pode ter sua responsabilidade sobre isso. E a Moda no meio disso tudo, claro! No próximo post! ;)
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