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19 de dezembro de 2017

Pós Punk, Goth e Deathrock: Como é ser Alternativo no país africano de Angola?

Apesar da relação histórica entre Brasil e países africanos de língua portuguesa, pouco nos chega de informações sobre os mesmos, principalmente se a questão for cultura alternativa. Será que existem alternativos nos países daquele imenso continente? Que subculturas existem por lá? Como elas são? Seriam muito diferentes de nós ou temos mais em comum do que imaginamos? Nesta postagem, que faz parte de uma série em que mostramos como é ser alternativo ao redor do mundo, contamos um pouco sobre como é ser alternativo em Angola, país da costa ocidental da África. 

Matthew Cardoso é leitor do blogue e se identifica com subculturas. Foi com este morador da cidade de Luanda que troquei uma ideia sobre a cena alternativa local. 

Matthew Cardoso, à esquerda da foto.
 Foto: Kenned Flautas Negra

Moda de Subculturas: Como é ser alternativo em Angola, existe preconceito? Como é a questão musical?
Matthew Cardoso: Ser alternativo em Angola-Luanda não é nada pois é um país que se você não gosta de semba, kizomba, kuduro e nem de repper nem és gente. Principalmente quando tem rolê em locais públicos as pessoas sentem medo de chegar e obter informação, saber porque você é assim ou está assim. Muito amigos/as de infância foram se afastando porque não tenho os mesmos gostos que eles.
Existe sim preconceito, como qualquer um outro país, mas graças a nós dentro da nossa cena não. 
Infelizmente não temos festivais, por até o momento só temos um banda e que não é de Luanda (Piratas das Almas), banda de Darkwave, temos feito em cada dois ou três meses um evento para reunir o pessoal ao som das bandas, e nos primeiros sábados do mês e no último sábado temos os nossos rolês.

Créditos: Kenned Flautas Negra

MdS: Você considera então que os alternativos num geral são marginalizados em Angola?
MC: Sim de um modo são sim, muitos deles dizem que a sociedade angolana não está preparada para aceitar numa boa os alternativos. 

MdS: Além dos góticos e metalheads, saberia me dizer se também tem punks por aí?
MC: Punks somos nós rs, brincadeira minha. Não existem punks aqui não, não, não. Uns jovem que curtem do som mas só mesmo do som e param por aí.

MdS: E garotas, você conhece góticas ou meninas de outras subculturas?
MC: Nos anos atrás tinha muitas garotas na cena, mas muitas delas ficaram pelo caminho. 

Foto: Kenned Flautas Negra

MdS: A cena pós-punk/gótica que vocês fazem parte é grande ou pequena?
MC: Não é um número tão grande assim, mas pode a chegar a uns 15 para cima acho, mas a cena cá já teve mais aderência.

MdS: Como é a questão do preconceito estético, xingam ou mexem com vocês? Ou apenas olham torto e não falam nada? 
MC: Xingam, mas não chegam perto, somos demônios rs, falam, falam... Até os religiosos olham torto e xingam, mas nunca houve contato físico...

Os rapazes criam e customizam as próprias roupas para criar um estilo alternativo.
Foto: Kenned Flautas Negra

MdS: E as roupas, são vocês mesmos que fazem?
MC: São feitas por nós mesmos. Algumas vezes são desenhadas ou não... porque tem bandas que o logotipo é muito complicado, então tiramos cópias e recortamos, noutras vezes são desenhadas mesmo.

MdS: Usam estilo mesmo com o calor?
MC: Eu creio que o clima de Angola não é tão diferente assim de Portugal. Aqui é um país muito quente, muito sol do krl... e sim quando à rolê temos de andar assim mesmo, tudo pela cena!

MdS: Sobre a cena, são envolvidos com política ou os encontros é só para reunirem e ouvir música? 
MC: Nos nossos encontros/rolê a gente fala mais de cena, partilhamos bandas novas, falamos com o pessoal novo sobre a cena, partilhamos zines feitas com cada um.

Créditos: Kenned Flautas Negra

Foi muito legal conversar com Matthew e conhecer um pouco mais sobre a cultura alternativa num país tão pouco conhecido por nós. A impressão que tenho é que somos muito parecidos, independente das diferenças culturais de cada nação. A cultura alternativa une os semelhantes não importa qual local do mundo se viva!

Ah e se você é um leitor que mora no exterior, nos envie em relato sobre como é ser alternativo no país em que está ;) 


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10 de novembro de 2017

Como é ser gótico e alternativo em Portugal?

A leitora portuguesa Oriana Bats do blog "Bats on the East Tower" nos enviou esse relato sobre como é ser gótico ou alternativo em Portugal. Se você é nosso leitor e mora no exterior, fica o convite para nos mandar suas observações sobre a cena alternativa no país em que reside, basta enviar o texto para este e-mail. Confira também a postagem escrita pela colaboradora Cha Trinsi sobre Como é ser alternativo na Suécia.


Festival Entremuralhas - Fonte

A existência de diferentes culturas é um fenómeno mundial. Nascem e crescem. Espalham-se e alteram-se (não necessariamente por essa ordem). Mas existem, regra geral, em todo o lado. O meu país, Portugal, não é excepção.
Portugal é um país de dicotomias: tanto existem as chamadas “cidades grandes”, como terreolas no meio de nenhures onde, depois do fenómeno da TDT (Televisão Digital Terrestre), há quem não consiga ver o Telejornal. 

Sinto que o mesmo se passa com as culturas consideradas mais alternativas/diferenciadas: nuns lados são bem aceites. Noutros, bem… são menos. Foi graças a essas dicotomias que resolvi pedir ajuda a alguns amigos para escrever este post. Pensei que, dar apenas a minha opinião (sendo eu uma pessoa que vive numa zona mais rural) seria pouco para abordar o tema. Falemos então primeiro das minhas vivências, antes de passarmos às dos meus amigos. 

A localidade onde vivo, apesar de apenas distar 50km da capital, já é considerada zona rural. A zona tem imensos cafés, cabeleireiros e alguns locais abertos à noite onde se pode ouvir música e beber algum copito. No entanto, esses locais apelam mais para música considerada “mainstream”, o que por aqui significa kizomba e grupos/cantores mais conhecidos. 

Apesar de, na maior parte do tempo, não ter quaisquer problemas, também por aqui podemos ver algumas reacções bem engraçadas. Lembro-me, por exemplo, de uma senhora que foi contra uma placa de um café (e a deitou ao chão), porque não fez outra coisa que não olhar para mim. No entanto, nem tudo são coisas divertidas. Uma vez fui seguida por 2 homens que distribuíam panfletos religiosos (sobre a família, e como só uma boa relação com Deus levaria a que a pessoa fosse feliz, etc). Enquanto vinham atrás de mim, diziam que tinha de deixar o Diabo, que Deus me ia perdoar… aparentemente cabelo azul e roupa preta dá em coisas destas.

Tal como já mencionei, pedi ajuda a alguns amigos de diferentes partes do país para compor este post. Recebi então alguns relatos, desde estereotipização, dificuldades em arranjar emprego/conseguir expressar-se (em termos visuais) um pouco mais no emprego onde está, passando por “purificações com água benta” e recordações constantes acerca da época do ano em que nos encontramos (o típico “Ainda não é Halloween/Carnaval” ou “O Halloween/Carnaval já passou”). Isto tudo entre outras situações.

No entanto, nem tudo são coisas más. Em 2010, surge o festival Entremuralhas. Com o lema “Há uma cultura que não se vende nas prateleiras do hipermercado”, o festival foi-se desenvolvendo em torno da música menos comercial (alguns dos nomes que já passaram por cá: Clan of Xymox, VNV Nation, Vive La Fête, Har Belex, Aesthetic Perfection, She Past Away e Parzival). A atenção dada por parte dos media a este evento (assim como o aparecimento de algumas reportagens mais sérias) contribuiu para esclarecer alguns mitos. No entanto, este não é o único festival dedicado a música mais diferenciada que existe em Portugal, sendo que outros bastante conhecidos são o SWR Barroselas, o Vagos Open Air e o Amplifest, entre outros. Temos também eventos mais pequenos como o Halloween Metal Fest, que se realizará pela primeira vez este ano. Existem ainda alguns eventos relacionados a modificação corporal, que também costumam ter algum destaque nos media. Todos, à sua maneira, contribuem para uma diferente visão das culturas alternativas/diferenciadas em território português.

Godvlad no Vagos Metal Fest - Fonte

Portugal tem ainda muito que mudar, começando pelos membros de culturas alternativas/diferenciadas em si. Aqui ainda existe muito quem diga que há pessoas que se “põem a jeito”*. Lembro-me de ver num fórum relacionado a música vários posts (já algo antigos) que criticavam outras culturas alternativas, por exemplo. Isto para além de comentários sobre as pessoas que se “punham a jeito”* (no sentido de receber comentários negativos ou preconceituosos) porque chamavam muito a atenção (seja por atitudes, roupas, etc) e depois queixavam-se, na opinião dos comentadores, sem qualquer razão. Sinceramente não vejo muita gente vestida “over the top” em Portugal, a não ser para eventos e acontecimentos do género. Mas, como passo pouco tempo em cidades, essa observação pode ser tendenciosa. No entanto, como tentar que haja mudança, se os próprios têm semelhantes pensamentos? 

Tenho plena consciência de que as coisas já estiveram piores. Basta ver uma reportagem, penso que dos anos 90, sobre Black Metal que começa assim: “A música de Satanás, uma década depois, os seguidores do Black Metal, anticristãos e satanistas, aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Profanar cemitérios e incendiar igrejas são rituais satânicos cumpridos por muitos dos que fazem do Black Metal uma forma de estar na vida.”. Ou mesmo algum artigo sobre um crime que ocorreu em Ílhavo em 1999, que foi definido como tendo conotações satânicas, pois o autor tinha uma banda de Heavy-Metal e vestia-se a rigor. Claro que as coisas já estiveram piores e, nalguns lados, pouco mudaram. Como faço muita pesquisa relacionada ao tema, é fácil ter essa noção. No entanto ainda há muita coisa que precisa de ser alterada. Tanto no meu país como no resto do mundo.



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Artigo de Oriana Bats em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens das mesmas foram feitas por nós baseadas na ideia e contexto dos textos.

31 de outubro de 2017

Conheça SABAT, a revista especializada em Bruxaria

Na década de 1990, houve uma intensa redescoberta pela bruxaria, a qual resultou em filmes como Jovens Bruxas e séries iguais a Charmed, Buffy, A Caça Vampiros e Sabrina, Aprendiz de Feiticeira. Essa atmosfera retornou há pouco tempo, tomando força pelo crescente interesse da nova geração pelo Feminismo. A união desses elementos acabaram impulsionando o nascimento de uma revista: a Sabat.

Revista sobre bruxaria - A Donzela
The Maiden

A ideia tinha formato de zine no início, e pertencia ao mestrado de jornalismo de moda da norueguesa Elisabeth Krohn no renomado London College of Fashion. Sabat acabou então evoluindo para revista, sendo lançada impressa em Março de 2016 com quase duzentas páginas sobre bruxaria e feminismo, arquétipos femininos e arte contemporânea. Surgindo na hora certa, a publicação ganhou notoriedade de forma orgânica, sendo apresentada em diversas matérias de mídias alternativas britânicas.

Revista sobre bruxaria - A Mãe
The Mother

Krohn já revelou em entrevistas que a Sabat é uma revista que fala de bruxaria encorajando e orientando os leitores a encontrarem seus poderes dentro de si. Com olhar moderno, utilizou o Instagram como sua maior fonte de pesquisa e a #witchesofinstagram serviu de inspiração para Elisabeth perceber o interesse ao tema, entrando em contato com pessoas envolvidas com o movimento, o que a ajudou a descobrir diferentes tipos de feitiçarias, ampliando o seu conhecimento e recebendo contribuições de bruxas ao redor do mundo. 


A bruxa é uma figura de resistência?  
Sim e uma poderosa. O que realmente gosto da bruxa é que em qualquer encarnação, ela mantém um senso de individualismo e independência, de ser o estranho ou o arquétipo ambivalente necessário que desafia o status quo em suas políticas, pensamentos, práticas ou simplesmente no seu modo de vida. Elisabeth Krohn para We Are Grimoire.

Cada publicação envolveu buscas que levassem a visões alternativas sobre o feminino. Por isso a criadora tinha o objetivo de lançar apenas três revistas, seguindo a concepção da Deusa Tríplice: Donzela (The Maiden), Mãe (The Mother) e Anciã (The Crone), nomes que batizam cada edição e refletem a tradição pagã dos três estágios da mulher. "Maiden era uma bruxa adolescente que encontrou os seus poderes. Com a Mother e Crone, acho que fomos capazes de mergulhar mais a fundo no mundo da feitiçaria, mas também em aspectos mais complicados da existência feminina."

Revista sobre bruxaria - A Anciã
The Crone

Entre os assuntos abordados está incluída a Moda, porém esta sendo apresentada tentando fugir do esteriótipo "witchy", evitando marcas especializadas nesse tipo de vestuário e colocando outras, como Céline e Acne. A última publicação saiu em Março de 2017, fechando o ciclo. O resultado positivo, além do esperado, abriu espaço para novos projetos. A segunda edição ganhou um prêmio de design da D&AD e o mais legal é que o Diretor de Arte - e fundamental no apoio para existência da ideia de Krohn - é o brasileiro Cleber Rafael de Campos.



Ficamos a espera de novidades e quem sabe, que elas possam chegar até o Brasil, já que aqui existe uma rica história de rituais e tradições religiosas e que infelizmente vem sendo apagada por puro desconhecimento e intolerância.

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20 de outubro de 2017

Killstar, Iron Fist, Sourpuss, Hot Topic, Dolls Kill e etc: como grandes lojas influenciam negativamente e positivamente a moda alternativa?

 

Qual a influência de grandes lojas alternativas como Killstar ou Dolls Kill na moda alternativa? Qual a relação da moda dominante com o mercado alternativo? Neste post levando algumas análises sobre a influência de grandes marcas na Cultura Alternativa Mundial.

 

Estilo Witchy + Harness = modas alternativas. (Foto: Killstar)

Um ponto levantado no blog com certa frequência é que nos anos 1990, tudo que restava de ideologia nas subculturas foi cooptado até o último suspiro pelo mainstream, isso associado à popularização da internet, provocou um esvaziamento ideológico e comportamental das subculturas musicais. Esse buraco do esvaziamento foi preenchido pela Moda, pela estética. Se as subculturas foram engolidas pelo mercado, nada é tão ligado ao mercado quanto a área de Moda.


Por que a Moda tem se destacado na Cultura Alternativa?
O contexto cultural que vivemos hoje, de individualismo e consumo, favorece a moda.
A Moda surge no fim da Idade Média ligada à burguesia, ao comércio e ao status social. A roupa que usamos é uma mensagem não verbal, normalmente a mensagem é:
expressão individual, diferenciação, status e/ou poder de consumo dentro de uma sociedade/grupo. Uma das coisas primordiais da Moda é ser um mercado, mexe com o desejo de ter algo para se tornar o que deseja ser.


A Moda está se sobrepondo à cultura das subculturas?
Pode ser, os indícios estão fortes. Uma amostra disso é que quem chega do nada pode pensar que ser gótico, por exemplo, é só estética. Jovens podem chegar nas subculturas primeiramente pela estética que lhes atrai visualmente, dando-lhes status e diferenciação no ambiente em que vivem. Quando alguns deles descobrem que cada subcultura tem uma cultura própria e não fazem questão de segui-la, se afastam mantendo apenas a estética pelo poder social que o visual fornece. Esse comportamento vem sendo identificado há pelo menos 20 anos, não é novidade, mas se intensificou na última década na medida que o individualismo e a "sociedade liquida" (Bauman) se impõem.

Algumas estéticas de subculturas tem fundamento e explicação para o uso de determinada peça ou maquiagem. Mas não é regra geral. Alguns visuais foram adotados meramente para chamar a atenção dentro de determinada cena ou um desafio sobre quem criava um visual mais diferenciado - a "estética como discurso", como auto afirmação, mas sem necessariamente um significado profundo por trás. A estética quando usada como diferenciação resulta em status.


Killstar, Iron Fist, Sourpuss, Hot Topic, Dolls Kill e etc: como grandes lojas influenciam negativamente e positivamente a moda alternativa?

Assim como ocorreu o esvaziamento ideológico e cooptação das subculturas pela cultura dominante de forma muito forte nos anos 1990 (embora o fenômeno seja anterior à isso), o crescimento de algumas lojas alternativas como Killstar, Iron Fist, Hot Topic, Sourpuss, Dolls Kill (por exemplo) fez com que elas passassem a produzir peças em grande escala para alimentar o mercado mundial de moda alternativa

Ter peças destas marcas dá status e diferenciação. É uma "diferenciação" entre aspas mesmo, já que se vestindo igual,
une-se os semelhantes, criando uma legião de fãs de determinadas grifes. Fãs de x marca/que só vestem x marcas - comportamento semelhante à cultura dominante onde determinadas pessoas só vestem grifes (Chanel, Gucci, Versace etc). Essas lojas alternativas não diferem muito de uma loja mainstream no sentido de que massificam determinadas estéticas e determinam tendências e modismos aos consumidores alternativos.


Pentagrama é Moda (Foto: Killstar)



Quando grandes lojas alternativas tem o mesmo tipo de processo produtivo que as lojas mainstream, elas ainda podem ser consideradas alternativas?

Enquanto lojas crescem e dominam o mercado, lojas menores, mais artesanais enfrentam dificuldade de se manter. Devido ao poder das grandes lojas que praticamente definem os modismos, as marcas menores sentem a "obrigação" de acompanhar as tendências para se manter no mercado. Sobrevive quem consegue atingir essa massa de alternativos ávidos por estar na moda. Algumas marcas menores que já possuem uma identidade bem definida se mantém, mas sempre competindo de forma desigual. As pequenas marcas precisam criar um padrão de qualidade e um diferencial ao cliente, quando o cliente se torna fã e a consumirá independente dos modismos.


Tem lado bom nestas grandes lojas?
Claro que tem! Elas empregam. Empregam pessoas alternativas. É uma oportunidade para estilistas, ilustradores, vendedores, fotógrafos, modelos, fornecedores e toda uma equipe que trabalha digitalmente.
Quem fez faculdade de moda e um dia sonhou trabalhar com moda alternativa pode um dia ser funcionário destas grandes marcas. Quantos alternativos se formam em moda anualmente e não encontram emprego? Grandes lojas podem ser a porta de entrada. Além de que, um bom departamento criativo é possível porque elas tem o dinheiro em caixa para desenvolver coleções incríveis. Estas lojas alternativas cresceram e se desenvolveram porque se adaptaram ao grande mercado, sabem que para se manter é preciso entrar no sistema da moda de vender status (seja qual nível que for), diferenciação (estilo) e um senso de comunidade (fãs da marca se identificando entre si).



A roupa como diferenciação, a marca como status. (Foto: Iron Fist)


Devo parar de consumir estas marcas? 
Você deve consumir o que gosta e se identifica. 
Este post é apenas para mostrar uma evolução mercadológica que ocorreu na história da moda alternativa. Mostrar que as lojas alternativas se adaptaram ao mercado (análise de 2013). Eu adoro as peças que estas lojas produzem, adoro a criatividade sem limite e ao mesmo tempo adoro peças de lojas menores, lojas artesanais, sou consumidora de ambas. Acredito que o importante é consumir de forma consciente, de acordo com o que você acredita.


O sistema de Imitação
Esse sistema da Moda adotado pelas grandes lojas encontrou nas redes sociais o local perfeito para espalhar o desejo de consumo de um determinado estilo de vida baseado na diferenciação: o Instagram.
Ao utilizar garotas populares no Instagram para divulgar os produtos mais "tops" do mercado de moda alternativa, a estética que as "influencers" divulgam se torna desejos de consumo para seus seguidores. Alimentando aí uma outra característica da Moda: a imitação
E caímos aqui exatamente no mesmo ciclo de moda da cultura dominante: Diferenciação (que dá) status (no grupo), consumo (o poder de consumir algo diferente) que resulta em (imitadores) que adotam o visual por status (voltamos ao começo do ciclo).

Para finalizar, vale lembrar que nada é tão preto no branco, existem centenas de nuances nesse processo todo. Gosto de olhar o lado positivo e refletir sobre os pontos negativos. Acredito que estas análises possam ser úteis aos que estão envolvidos com o estudo de moda, da história da moda alternativa e seu futuro. Como profissional de Moda, adoraria que houvesse mais mercado de trabalho para nós em marcas alternativas, no entanto isso não ocorrerá sem uma adaptação ao sistema de mercado dominante, isso é um fato e está fazendo parte do desenvolvimento da moda alternativa.



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21 de setembro de 2017

Juventude, depressão e subculturas (Setembro Amarelo)

Fui uma adolescente deprimida. Não sei se alguém não o foi. Sempre fui muito sensível às opiniões alheias e ao mundo ao meu redor, sendo que qualquer coisinha me fazia chorar. Era realmente uma "manteiga derretida", como alguns colegas de escola gostavam de me chamar. Por sentir tudo demais, era óbvio que eu me tornaria uma deprimida. E posso dizer hoje que foi por isso que conheci o rock e suas subculturas. Penso que esse foi o caminho de muitos outros adolescentes também.

Leia também: Garota Interrompida e Setembro Amarelo

Ultimamente tenho pensando nessas questões por causa da popularização de uma série do Netflix, 13 Reasons Why, que eu não assisti (nem pretendo, por motivos particulares), mas li inúmeras resenhas sobre, que trata de bullying, depressão e suicídio juvenil. O impacto que essa série está tendo sobre a juventude é avassalador, o que me leva a crer que somos uma sociedade que não está se preocupando o suficiente com os seus jovens.

A mim, preocupa a romantização que esse tipo de produto faz da depressão e do suicídio, como se fosse algo poético e até mesmo bonito. Essa ideia é reforçada dentro de algumas subculturas, como a gótica, e dentro do grunge também. Quando eu era mais jovem, costumava pensar que "os bons vivem pouco" e muitas outras meninas da minha idade pensavam o mesmo. Que o bom era morrer cedo, sem envelhecer, pois assim seríamos jovens para sempre. Exemplos não nos faltavam: Kurt Cobain, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, curiosamente todos mortos aos 27 anos. Pra um adolescente, 27 anos é muito, pois a inteligência temporal da maioria deles ainda não está bem sólida. Hoje, aos 28 anos, eu percebo como é curto esse tempo!
 
Imagem: Reprodução

Também sinto que a falta de adultos referência é o que faz o adolescente ter esse tipo de pensamento. Adolescentes reparam nos adultos que os cercam, e não gostam absolutamente do que eles veem. Por exemplo, a falta de adultos que seguem suas subculturas mesmo depois de certa idade, faz o jovem pensar que para ser adulto, ele deve abrir mão de seus gostos musicais, pessoais, estéticos, etc. Há alguns anos eu sentia isso, que para ser adulta era necessário deixar as subculturas para trás, e esse assunto já foi abordado várias vezes aqui no blog (links no fim do post). A falta de referências adultas é muito prejudicial, e faz com que o adolescente não queira se tornar adulto, não queira seguir sua vida, afinal, "os bons morrem cedo".



Por outro lado, ainda que exista essa romantização da depressão e do suicídio em algumas subculturas, o que faz muitos jovens seguirem em frente depois de entrar em contato com elas, é a auto aceitação que as mesmas promovem, como uma via de mão dupla. Ou seja, não interessa o quão estranho e deslocado você se sinta, você é importante justamente por ser assim, não fazer parte da grande massa, não ser apenas mais um no meio da multidão. Dessa forma, pertencer a uma subcultura é, com certeza, um exercício de resistência (porque você vai se aborrecer com os outros que não te entendem) e muitas vezes, de sobrevivência (como quem diz: EI, EU ESTOU AQUI! EU EXISTO!).

Leia também:
- Adultos e a moda alternativa: manter ou abandonar o estilo? 
- Subculturas não tem idade: adultos que adentram no mundo alternativo
- Adultos em idade produtiva: criatividade tem limite de idade?
- Crescer é abandonar o estilo alternativo?



Autora:

Nandi Diadorim.

Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul.
Guitarrista em uma banda de punk rock.
Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa.


Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos; a seleção e as montagens das imagens foi feita exclusivamente para o blog baseado na ideia e contexto do texto.


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2 de maio de 2017

Pensata: Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais?

Neste fim de semana (30/04)  faleceu o cantor Belchior aos 70 anos de idade, há polêmicas envolvendo sua vida, o compositor tinha uma veia melancólica, irônica e questionadora que se revelava em várias de suas letras. “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, imortalizada na voz de Elis Regina em 1976, é uma das principais composições de sua carreira e chega hoje para nos confrontar novamente em diversas questões.

Talvez a maior característica da adolescência seja a ruptura. A ruptura com a infância e com o universo dos pais. Os jovens tem a energia da mudança e são os primeiros a aderir às novidades que o mundo lhes apresenta, sejam elas boas ou más, várias vezes, sem filtro. Não queremos quando jovens, de forma nenhuma ser como nossos pais, que se tornam "ultrapassados".

Só que vamos ficando mais velhos, chegamos à faixa dos 30 anos e podemos ter nos tornado aquilo que combatíamos na juventude, repetindo os mesmos erros dos pais. Um alerta sobre o que realmente precisava ser mudado não foi e nem está sendo feito por nós. Nós progredimos mas mas ainda há muito o que fazer.

No século passado, os jovens que não queriam ser como os pais 
se envolviam com subculturas ou movimentos juvenis.
Uma amostra sobre diferentes gerações e suas vestimentas.


Nos últimos anos vivemos o reflexo de tempos incertos não apenas no Brasil como no resto do mundo. Certo dia uma leitora disse que não gostava do blog abordando temas políticos ou ideológicos. Mas isso é possível? É possível falar de hippies, punks, skinheads, Riot Grrrls e beatniks sem falar de suas ideologias e o momento político em que surgiram? É possível falar de feminismo e não falar de políticas para mulheres? É possível ser alternativo e não falar de corpo político? Não há como separarmos o corpo, o que vestimos, de política. O corpo é político. Se você quer ter o direito de andar na rua como quer: políticas para isso. Se você quer trabalhar como quer, precisa ter um respaldo político: uma lei. Se você não quer apanhar na rua pelo que veste: políticas pra isso também. Não tem como separar o que almejamos como alternativos de direitos  que visamos adquirir. A política rege a sociedade, o nosso presente e  futuro. Se não nos interessarmos por principalmente como ela funciona iremos continuar vivendo como nossos pais. E portanto nada mais inadequado no momento do que sermos como nossos pais. A letra nos faz acordar para a realidade de que estamos empurrando para baixo do tapete certas situações que não deveríamos silenciar.

“O homem é um animal político. A função da política é impor limite às dores e às injustiças. É lutar por um mundo melhor, buscando conciliar permanentemente as diferenças. Não é função da política esmagar as diferenças. O pior resultado para as novas gerações diante do conflito que está vivendo o Brasil é que se termine com a conclusão de que a política não serve para nada”. - Pepe Mujica.

O sinal está fechado pra nós que somos jovens?
Muitos adolescentes não trabalham e não votam. Por isso é comum que quando um jovem se rebele seja chamado de "vagabundo", um termo bastante injusto já que não trabalhar não significa ser ocioso. O jovem não está fora da sociedade, ele está inserido nela, consumindo, absorvendo-a e interagindo, portanto ele está perfeitamente apto a questioná-la. A mente juvenil pode ter um leque de ideias questionadoras exatamente porque enxerga a sociedade sob um ângulo ainda não "viciado", diferente da mente de quem trabalha e já se robotizou em hábitos e deveres. Quando um jovem exige mudanças, ouve "você é jovem e ainda não tem maturidade"; o adolescente politizado "ainda não sabe do que está falando", já parou pra pensar quem inventou essas frases? Um grupo de políticos que sabe que os jovens tem capacidade de mudar a sociedade e por isso promoveram estes pensamento para que permaneça a ideia que domina nossa sociedade de que o jovem não tem voz. Por isso alguns adentram em subculturas, canalizam esses questionamentos em grupos e se aproveitaram disso para ter voz através da música, por exemplo. 

Compor músicas e criar bandas foi a forma que jovens encontraram para ter voz.
Atingindo assim outros jovens com as mesmas angústias e questionamentos.
Joan Jett

Superado o esforço pra concluir uma universidade e adentrar no mercado de trabalho, o jovem enfrenta exigências descomunais para um iniciante na carreira, é um "sinal fechado". Quem são estas pessoas que geração após geração ceifam os desejos juvenis de mudança social e estrutural? São os mesmos que “se tornam como nossos pais”? É nosso destino após adentrar ao mercado de trabalho, nos tornarmos zumbis consumidores exatamente como criticávamos na adolescência? Simplesmente "sossegar" após adquirir certa idade? Mas não é isso mesmo que querem, que sosseguemos e paremos de incomodar o sistema, que aceitemos tudo calados e passivos?


Nossos ídolos ainda são os mesmos
"Ai hoje não tem mais bandas de rock como antigamente"- no passado eram as gravadoras que escolhiam 5 ou 6 bandas  pra se tornarem imensas e dominar o mundo. Elas definiam o que você iria escutar. Celebre o hoje, que você pode aproveitar e escutar o que você quiser e não o que o mercado fonográfico te impõe. Quantas bandas ótimas ficaram esquecidas porque não foram escolhidas pela indústria? O novo sempre vem

Outra musica de Belchior é Velha Roupa Colorida também interpretadas por Elis Regina. Velha Roupa Colorida, é  um sacolejo: acorde, que uma nova mudança em breve vai acontecer / E o que há algum tempo era novo jovem / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer. Isso me faz pensar que devemos ficar em constante atualização, não devemos parar, estagnar e sossegar a mente quando ficamos mais velhos.

No presente a mente, o corpo é diferente pois a maturidade nos muda, é verdade. Mas essas coisas que te travam, que te fizeram acreditar que você deveria ser como seus pais, devem se tornar uma roupa que não serve mais.
Manter-se atualizado é uma evolução. Se adultos não queremos viver como nossos pais, precisamos deixar o passado acomodado para trás e trazer a mente  de volta para o inconformismo juvenil, não sei se faríamos um mundo diferente, mas pelo menos não deixaríamos mais certas situações passarem quietas. 

Recentemente a publicação The Economist usou uma frase de Kurt Cobain em uma matéria
sobre corrupção. Subculturas e política são interligadas. Kurt era jovem e suas músicas se direcionavam à outros jovens com as mesmas angústias.
"O dever da juventude é desafiar a corrupção."


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17 de abril de 2017

“Mãe, minha professora tem o cabelo azul!” - Sobre ensinar e aprender sendo uma profe alternativa

A frase que dá nome a este post foi proferida por uma aluna minha quando me descrevia para a sua mãe, e foi dessa maneira que a mãe pôde me reconhecer na reunião de pais. Essa é apenas uma faceta de ser uma professora alternativa. Fora os cabelos, tenho um visual relativamente “passável”, pois consigo esconder bem as oito tatuagens que tenho. Mas por que as tatuagens seriam um problema?

Em verdade elas não são; mas sempre que entro em um novo ambiente de trabalho, em uma escola em que ainda não estou familiarizada nem com os colegas de trabalho nem com os alunos, prefiro escondê-las, porque sei que o preconceito vem muitas vezes dos outros professores e das famílias dos alunos. É engraçado ver que os alunos não tem preconceito com tatuagens; pelo contrário, eles amam!

Mas enfim, em ambientes novos, nunca mostro as tatuagens de primeiro; espero conhecer bem os professores, conhecer bem as turmas pra depois ir mostrando aos poucos. A reação dos alunos é sempre positiva. Um dia encontrei na internet esta matéria aqui: "Desempenho dos alunos é melhor se o professor tem tatuagem" e fiquei bem feliz! Essas novas gerações estão vindo com bem menos preconceito do que seus pais e avós tinham com relação a isso. Às vezes ainda pego algumas pessoas que fazem parte da comunidade escolar me olhando torto, mas é minoria. Nas escolas em que trabalhei nunca me foi pedido para esconder os desenhos, mas alguns colegas meus de profissão já passaram por constrangimentos do tipo; em um dos casos, a diretoria da escola pediu que o professor usasse camisetas de meia manga, para que não aparecesse a tatuagem do braço. Ainda temos que lidar com isso, em pleno 2017. 

Trabalhinho escolar: releituras de retratos antigos
e mumificação (as góticas piram!)


Em relação às roupas, sempre que me arrumo pra dar aula, eu fico alguns minutos na frente do espelho me olhando e pensando se a roupa está “adequada”. Alguns anos atrás, quando eu era uma riot grrrrrl indignada, eu ficaria furiosa comigo mesma, pensando em “amenizar” o visual para trabalhar (sendo que eu procurei por uma profissão que não fosse me incomodar muito na questão estética). Mas como já escutei de tudo em relação às minhas roupas, e aluno é uma criatura que repara em ABSOLUTAMENTE TUDO que está bagunçado em você, ando evitando bermudas muito curtas (short nem pensar), saias muito curtas, vestidos muito curtos. Nunca fui uma grande fã dos curtos (só dos cabelos curtos) e não gosto quando adolescentes ficam cuidando o tamanho da sua roupa, e eles fazem muito isso. Ao mesmo tempo enfrento um dilema, pois não sei se é moralismo meu não querer ir trabalhar assim justamente pra não me incomodar com os comentários que podem surgir (porque tem dias que a gente simplesmente não quer responder nada!) ou se eu deveria ir assim mesmo e ser a louca problematizadora que responde à todo e qualquer comentário com uma aula (HAHAHAHAHA).

Quando comecei a dar aula: tinha escola que não me queria por lá!

Bem, essas são questões que eu tenho que lidar todos os dias. Seja na hora de escolher um colar (“coloco a caveira no pescoço? Ou Baphomet? Muito assustadora pra crianças?”), pentear (ou não) o cabelo, até a escolha do sapato (“será que ir de chinelo seria um pouco demais?”). Muitas coisas podem surgir aí. Uma vez uma amiga minha, também professora, me disse que não sabia se estava na profissão certa porque ela não tinha “jeito de professora”, se referindo àquelas imagens idealizadas de professoras perfeitas e meigas que só existem na ficção. Ora, mas qual é o jeito de professora? Ser professora também é ser plural!


Autora: 
Nandi Diadorim. Historiadora e professora na rede municipal de ensino no Rio Grande do Sul. Guitarrista em uma banda de punk rock. Cachorreira, gateira, vegetariana, feminista...em suma, a incomodação em pessoa.




Artigo de Nandi Diadorim em colaboração com o blog Moda de Subculturas. É permitido citar o texto e linkar a postagem. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia do autor. É proibido a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos; a seleção e as montagens das imagens foi feita exclusivamente para o blog baseado na ideia e contexto do texto.


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