Por que lançar um zine em tempos de informação fácil, rápida e democrática na internet?
Entendemos a importância que as novas tecnologias trouxeram para o compartilhamento de informações para o crescimento das subculturas, mas a internet também tem sido usada inclusive para a disseminação de desinformação e ódio. É verdade que as publicações impressas também não estão livres desse mal, mas em meio à links, tags, publicidade abusiva (e não sinalizada) e desvio de foco, as publicações impressas emergem como uma alternativa à esse caos de informação.
O trecho acima foi uma adaptação do texto que abre a primeira edição do zine Última Quimera, editado por Freon (Sad). Enquanto lia, balançava a cabeça concordando com tudo! Como é dito no texto original, mesmo uma subcultura tão citada como a gótica, ainda tem-se a necessidade de rediscutir e refletir sobre a identidade desta tribo no século 21. O zine nasce com a proposta de trazer conteúdo aberto, diverso, sem rivalidades e vaidades à todos que se interessem pelo tema.
Última Quimera #1 - Março de 2017
Além da ótima introdução citada no início do post, o zine trás logo de cara um texto de Everton Alves "Rei Peste", com o seguinte questionamento: "Góticos: Crise de Identidade?" onde é abordado o que se tornou a subcultura gótica atualmente. A seguir, Coconut Sioux vem com o interessantíssimo "O Feminino e o Gótico", abordando o machismo na cena e o feminino no imaginário gótico.
O Programa Memória & Vida do Cemitério da Consolação é a entrevista da edição. Surgido em 2014, o projeto entende os cemitérios como potencial local de atividades artísticas, pedagógicas e turísticas a exemplo do que acontece em outros cemitérios do mundo como o Père-Lachaise em Paris. A edição finaliza com o texto "Um olhar sobre a WGT" do alemão Robert Forst falando sobre as mudanças no festival ao longo dos anos, a superficialidade dos "góticos de ocasião" que frequentam o local visando apenas serem fotografados e sobre como o evento necessita se reinventar.
Durante os anos de blog, sempre fui muito questionada sobre o significado da cor preta nas subculturas. Acabei desenvolvendo uma pesquisa própria, não publicada, é um assunto do qual serei estudante por muito tempo ainda. À convite de Freon escrevi um breve texto sobre o tema! É um artigo que vocês só encontrarão lá! É exclusivíssimo do Última Quimera.
É a primeira vez que revelo um pouco do que pesquisei sobre o significado da cor preta nas subculturas.
Última Quimera #2 - Julho de 2017
Eu poderia dizer que essa edição se torna icônica. Quem tiver vai ter que guardar! Ocorre que nela estão duas matérias que considero registros históricos importantíssimos para a história da subcultura gótica brasileira. Inicia-se com "Soulshadow - O fim de um ciclo" contando a história da lendária loja de música gótica aberta em 1995 que se tornou a única loja física de discos especializada em gótico e EBM de São Paulo e talvez do Brasil.
Segue outro artigo que pra mim é o mais impressionante publicado até então: "Treibhaus - A primeira casa gótica do Brasil". Imensurável o valor desta matéria num país como o nosso onde é dificílimo encontrar informações sobre a história das subculturas nacionais. Um país onde não valorizamos a memória do passado. Com seu nome tirado do livro "Christiane F", Treibhaus foi abrigo para punks e góticos na São Paulo de 1989.
Imaginem um mundo sem internet, onde você iria para encontrar pessoas que eram como você? E como ficaria sabendo de sua existência? Como eram produzidos os flyers, como eram as pessoas que lá frequentavam, como era o local por dentro, quais famosos deram as caras por lá, quais os nomes importantes da cena na época, tudo isso está na matéria! Minha dica é que poderia ser pensado seriamente no futuro alguém produzir um livro ou documentário sobre este local.
O zine finaliza com um texto meu "O fim das subculturas", onde é levantando o que são as subculturas hoje, o que elas se tornaram com o advento da internet e uma abertura à reflexão sobre como serão de agora em diante.
Última Quimera é um respiro no meio do mundo virtual em que vivemos. Quem hoje produz conteúdo na internet tem que "concorrer" de forma
extremamente desigual com "likes" pouco acrescentam na proliferação e
manutenção da cultura alternativa. Um mundo de publicidade disfarçada, não sinalizada, e conteúdo efêmero prolifera. O conteúdo intelectual que propicia conhecimentos duradouros que servirão para a vida toda, ficam em segundo plano ou são desvalorizados.
É importante dizer que a cultura alternativa só se mantém viva se o conhecimento sobre elas for passado à frente. Se cada geração se envolver com esse conhecimento. Senão criamos um imenso espaço vazio propício para que desentendimentos, erros e preconceitos cresçam. Muitos não conhecem o básico do que é subcultura gótica, punk ou qualquer outra, isso acontece porque a informação que deveria ter sido passada adiante não foi. Então todos sabemos pela internet como uma menina gótica se veste, que marcas usa, como se maquia, como se penteia, mas o que sabemos sobre a cultura da subcultura? É neste momento que percebemos como zines e revistas que chegam focados em informações que enriquecem os debates são fundamentais!
Aproveito a ocasião para oferecer meus textos ou escrever artigos exclusivos a quem tenha zine e queira abordar cultura alternativa. Quem tem zine alternativo e quer me enviar uma edição pra conhecer, ou quem está se livrando dos seus (jogando fora mesmo) pode me enviar! É só me contatar que conversamos!
Aproveito a ocasião para oferecer meus textos ou escrever artigos exclusivos a quem tenha zine e queira abordar cultura alternativa. Quem tem zine alternativo e quer me enviar uma edição pra conhecer, ou quem está se livrando dos seus (jogando fora mesmo) pode me enviar! É só me contatar que conversamos!
Infelizmente
esse post sai um pouco atrasado, moro fora da capital paulista e
recebi os exemplares do zine um tempinho atrás. Mas o zine segue ativo, novas edições virão! Fica aqui a dica para encontrá-los no Sebo Clepsidra.
O
zine é distribuído gratuitamente. Vale pegar a publicação apenas se tiver real interesse na leitura.
Publicações gratuitas às vezes são descartadas logo que a pessoa percebe
que pegou algo que não lhe interessa, então é fundamental valorizar o
trabalho mantido e apoiado por quem acredita na cena. ;)
Zine Última Quimera
Onde Encontrar:
Sebo Clepsidra
R. Dr. Cesário Mota Júnior, 296
Vila Buarque, São Paulo - SP
[Editado 09/10]: O zine também é enviado pelo correio, basta entrar em contato:
E-mail: ultimaquimerazine@gmail.com
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Pedimos que leiam e fiquem cientes dos direitos autorais abaixo:
Artigo das autoras do Moda de Subculturas. É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer nosso trabalho. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.
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