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28 de janeiro de 2011

Iluá Hauck da Silva: Punhados de Possibilidades

Lembram da Iluá, a única modelo alternativa brasileira a trabalhar no exterior?
Se não a conhecem, fiz uma entrevista com ela que você pode ler aqui.

Iluá também é artista plástica e está com sua primeira exposição individual de seus trabalhos aqui no Brasil, chamada "Punhados de Possibilidades", na cidade de Itatiba/SP.

A mostra tem esse nome porque ela trouxe ao Brasil exatamente punhados de peças e materiais que couberam em sua bagagem. "Ao chegar em Itatiba, cidade em que morei por dez anos e onde meu pai reside até hoje, fiz com que estes punhados se desabrochassem em diferentes e inesperadas possibilidades".
Em entrevista ao Jornal de Jundiaí Regional, Iluá falou sobre a complexidade da técnica de seu trabalho: "O vidro utilizado em obras como Luxúria, Decadência, Sinhá Deflorada e Viúva, por exemplo, foi soprado com folhas de ouro e depois quebrado, polido e requeimado".

Sua inpiração para as obras foram as estéticas passadas, mitologia grega,a redenção de acordo com os princípios católicos, pensamentos de outrora e fatos e tradições históricas comparados ao mundo de hoje.

A exposição  tem 16 peças, algumas delas já expostas em Londres, como os pôsteres "Salomé" e "Seja Minha Família Medici", inspiradas na relação entre artistas e patronos e sobre a viabilidade da democratização da arte. Há uma grande instalção chamada "Pudica sem Pose", que é uma releitura  de uma antiga escultura grega de Afrodite. Também tem fotografias, esculturas, posteres, telas, quadros em madeira, veludo e vidro ou em madeira e renda. 

 
A exposição está no Museu Padre Lima, na cidade de Itatiba/SP, até dia 06/02.
Horário: de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 15h. 
R. Praça da Bandeira, 122
Telefone 4524-1264.

2 de julho de 2010

Entrevista com a modelo alternativa Iluá Hauck da Silva

Iluá Hauk da Silva é a única modelo alternativa brasileira oficialmente reconhecida como tal. Paulista e radicada em Londres, ela deu uma entrevista exclusiva ao blog Moda de Subculturas  falando sobre sua carreira e sobre o mercado de modelos alternativas.
Só tenho a agradecer muito à Iluá por ter trocado palavras comigo, emails que começaram numa entrevista e acabaram em conversas de comadre sobre moda. No presente momento, Iluá é única modelo brasileira nesse ramo! Não é de dar orgulho? 
Abaixo a entrevista com ela ilustrada com fotos de seus trabalhos.

Há quanto tempo você trabalha como modelo alternativa e como entrou nesse ramo?
Trabalho com modelo alternativa aqui na Europa há 9 anos. No Brasil, quando era agenciada pela Select, há uns 14 anos atrás, fazia trabalhos comerciais e trabalhos mainstream, mas já estava envolvida com moda alternativa, desfilando no Hell's Club para estilistas underground como Sandro Brasil, Caio Gobbi e Escola de Divinos. Tambem desfilei na faculdade Santa Marcelina para formandos e ainda na area underground fotografei para Andre Meyer, Sportswear Brasil, pra artigos sobre moda underground para a Folha da Tarde e para algumas boutiques pequenas. Obviamente estes trabalhos não pagavam tanto quanto os grandes trabalhos comercias que fiz para Mesbla, Amil, Playcenter, BIC, etc, mas era muito mais curtição fazê-los.
Comecei a trabalhar com moda alternativa aqui da mesma forma que comecei no Brasil. Por frequentar eventos alternativos, ou seja, concertos, exposições, casas noturnas, e assim acabar conhecendo estilistas, produtores, maquiadores, jornalistas, donos de revistas, etc.
A pessoa a qual conheci aqui, num concerto da Diamanda Galas no Royal Festival Hall em 2001, foi a designer finlandesa Kaisu, ja falecida, que na época trabalhava para a House of Harlot, mas estava comecando sua própria marca. Nos demos super bem, e ela me falou que tinha pedido pra Dita Von Teese ser a modelo da sua nova marca, mas gostou muito de mim, de forma que preferiu me usar ao invés da Dita. Depois de trabalhar pra ela comecei a receber muitas propostas.
Ainda no Brasil, modelando com peça de látex de Alexandre  Herchcovitch em 1997.

Que tipo de trabalho você faz como modelo alternativa? Cite alguns.
Ja fiz fotos, desfiles e catálogos. Os trabalhos que eu mais gostei de fazer foram: catálogo para Tonia Merz (Das Korsett), vou desfilar pra ela  de novo em Leipzig agora em maio. Capa da revista de rock Kerrang, editorial para a revista 125 Magazine, editorial para a revista Marquis, catalogo para Kaisu (TG Clothing), catalogo para Catwalk Collection, editorial pra a revista Skin Two.


Como é o mercado de modelos alternativas na Europa? Existem agências específicas ou o trabalho é feito na base dos contatos e castings com profissionais da área?
O mercado é pequeno. Essa é a natureza de propostas alternativas. Se a proposta fosse grande, se o mercado fosse grande, não seria mais alternativo, seria mainstream.
As duas únicas agencias que conheço sao a TG Productions (que me agencia) e a Ugly Models. Eu trabalho mais mesmo por contatos - eu conheco todo mundo, há muitos anos, fica fácil mas existem outras modelos que preferem nao ter um agente.


Exitem "Top Models" alternativas? Há algum pré-requisito pra ser um top neste meio?
Não. Mas sei que Esme Bianco, que é atriz mas tambem trabalha como modelo, esta se dando super bem, ela fez um video para o Depeche Mode e agora esta trabalhando como Marilyn Manson. Viktoria tambem se destaca, mas ela tambem é cantora e namora com o dono da Torture Garden. Devido ao seu relacionamento com David, Viktoria deslanchou. Eu sou bem conhecida no meio aqui, mas tambem sou artista plástica ou seja, todas nos temos outras carreiras. Sendo assim eu diria que o pré-requisto fundamental para se trabalhar na área é ser inteligente e ter conhecimento de artes em geral (arte, teatro, literatura, musica, arquitetura), de cultura alternativa em geral - a menina pode ser linda, mas se não tiver 'edge' or 'cool' e outros talentos, não vai vingar no meio alternativo.

Uma dúvida sobre a pergunta das "Top Models": eu vejo com muita freqüencia na internet  Razor Candi, a Ulorin Vex e a Xarah von den Vielenregen em diversos ensaios, pensei que talvez por elas fazerem muitos trabalhos elas poderiam ser consideradas tops. O que você acha?
Com relação às modelos: Nunca tinha ouvido falar da Razor Candy, ela é americana, que eu saiba ninguem a conhece por aqui. A Ulorin é colega de trabalho minha! Já trabalhamos juntas pra Torture Garden, mas diferentemente dela e de outras modelos eu me recusei a ser capa da Bizarre Magazine, eu acho que sair naquela revista proderia comprometer minha carreira de artista! A Ulorin trabalha e tal, mas ninguem suspira dizendo que queria ser top que nem ela, a Xarah, assim como eu e outras meninas tambem faz burlesque e é mais conhecida na Alemanha e Holanda, por aqui não é muito conhecida. 

É possível sobreviver sendo apenas modelo alternativa ou os trabalhos são esporádicos?
Eu também trabalho fazendo arte. Os trabalhos são esporadicos, mas isso pra nós é bom - eu não quero ficar só  modelando - acho um saco ter que ir a castings - prefiro receber a proposta diretmente em passar o resto do tempo fazendo minha arte.

Quais os países que mais tem trabalho pra essa área?
Inglaterra, Alemanha, França. Acredito que Italia, Suécia e Espanha também tenham uma cena alternativa e portanto um mercado, mas não conheço o suficiente para comentar.

Há muitas lojas de moda alternativa/underground na Europa?
Sim. Muitas.


Há público para consumir essa moda?
Sim, definitivamente sim.


Como é a relação qualidade + preço das roupas por aí? As roupas tem preço compatível com a qualidade, há roupa de todo o preço e toda qualidade? 
A relação é proporcional. Ou seja, quanto mais cara a roupa, melhor a qualidade. Quanto mais barata, pior a qualidade.



Qual o seu estilo?
Interessante essa pergunta! Comecei a ter noção de estilo com uns 2 anos de idade, na época tudo tinha que ser vermelho, eu adorava tomara que caia e roupas antigas, assim pedia para minha tia-avó, que costurava, fazer pequenas cópias das roupas da minha avó para mim. Na adolescencia comecei a usar as próprias roupas antigas da minha avó (saias longas de veludo, de seda, etc) com coturno e tops rasgados,  e roupas do meu pai de quando ele era jovem e magro. Na mesma época comecei minha vasta coleção de terços, por um tempo me considerei 'gotica/antiga/punk/nova romantica'.
Hoje em dia ainda uso muitas das mesmas peças da minha avó, que continuam inteiras, eu tenho um talento incrivel para preservar roupas, tenho um colete que uso ha 21 anos! Mas diria que meu estilo hoje é o meu estado de espírito: um dia estou usando roupas antigas e espartilho, no outro estou de calça jeans, bota, camiseta de museu e minhas bijoux 'angustia de adolescente' (como eu chamo todos os items no meu gurada-roupas que tem muitas caveiras e cruzes); no outro estou com um dos meus ternos poderosos da Dolce & Gabbana (usados com brincos angústia de adolescente, só pra desconcertar qualquer diretor/executivo ou galerista com o qual eu tenha que trabalhar); ou uso um dos meus looks angélicos ao estilo 'fairy-like', são muitos: muito rosinha e tons 'aqua' clarinhos, muita renda, muita coisa delicada, fina e elegante, com muitas caveiras e cruzes, lógico! Looks masculinos, com calca risca de giz ou xadrez, camisa, espartilho e gravata tambem é um forte meu. No mais, eu absolutamente amo lingerie e comecei minha colecao aos 15 anos. Pena que não da pra usar na rua, mas faço sobreposições.

Quais suas marcas ou estilistas alternativos preferidos?
Tonia Merz, Atsuko Kudo, Patricia Fields e Fabiola de Freitas (brasileira que mora aqui e atualmente está desenvolvendo uma coleção com a ex-mulher do baterista da banda Queen). A loja Fairy Goth Mother vende alguns estilistas que gosto também, mas no geral compro minhas roupas em brechós ou uso as que tenho ha décadas.

Modelando para Tania Merz (Das Korsett) em Berlin:



Qual a sua dica para as meninas do Brasil que querem se tornar modelos alternativas?
Sugiro que fiquem atentas e por dentro do meio alternativo, em contato com os novos talentos da moda (estudantes da Santa Marcelina e outras faculdades de moda aí do Brasil), que sejam cultas, estudem e permanecam envolvidas nas artes. Acredito que ser modelo alternativa não é só ser o rosto de uma marca underground ou aparecer em revistas descoladas: existem várias possibilidades interessantes que ligam moda e arte, música, teatro, etc, que se aproveitadas, dão às modelos alternativas muito mais 'gravitas' (nota: gravitas=peso,seriedade). Modelos alternativas que são engajadas em produzir cultura alternativa e contribuem pra que a cena no geral seja respeitada e admirada, acho que sao de pessoas assim que o meio precisa.


Abaixo: Iluá na capa da revista inglesa Kerrang!; modelando para a TG Clothing e em editorial da 125 Magazine em 2007.


Em anúncio para Catwalk Collection; na Marquis Magazine e modelando para Laura Clare James.


Abaixo, Iluá no picnic vitoriano da Viona e com seu gramofone:


Um pouco de sua arte: "Poster Project" exposto nas ruas de Londres e sua belíssima peça "Flagellation".




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