Mais do que em outras subculturas, os elementos da moda Heavy Metal são elementos masculinistas. Estes elementos foram emprestados de outras culturas juvenis ou do
mainstream e ganharam novos significados. A estética HM é majoritariamente derivada de duas culturas dos
anos 1950 e 1960: a da motocicleta (bikers no UK e Hells Angels nos EUA) e dos
hippies. E posteriormente da subcultura fetichista S&M.
Os cabelos longos no rock começaram com os Beatles em 1964 e
se tornaram maiores com o advento dos
hippies. Os longos cabelos distinguiam um metaller na multidão, servindo como
diferenciação do cidadão comum. O jeans se tornou universal na moda juvenil nos
anos 1950, assim como as camisetas (T-Shirt) e as jaquetas de couro. Já as
jaquetas jeans, herança hippie, mais baratas que as de couro, são mais usáveis e
leves para os climas quentes.
O Rock, de onde veio o Heavy Metal, tinha performances de dança como
o swing. Dança, na cultura ocidental é associada a algo erótico e sensual. Sendo
o heavy metal uma subcultura masculina e heterossexual, esta anula a dança,
sendo assim, ela se torna uma atividade individual nos movimentos do corpo,
como o braço ergudo de punhos fechados sacudindo no ar e o headbanging. O tipo
fisico dos adeptos da subcultura é mesomórfico, em contraste com o tipo ectomorfico
tipo encontrado no punk e no hardcore. O caminhar do metaller é pesado, às
vezes de pernas abertas, revelando a masculinidadeda da subcultura.
O vocalista do Judas Priest, Rob Halford, é quem leva o maior
crédito por revolucionar o estilo metaller, inserindo elementos
fetichistas na estética. Não demorou para que outras bandas percebecem que o couro passava
a aparência de agressividade que a música pedia. Paul Di'Anno (ex-Iron Maiden)
começou a usar jaquetas de couro e pulseiras cravejadas de spikes e tachas; Motörhead inovou com cintos de bala,
e Saxon introduzido o spandex/lycra.
Muito preto, couro, vinil, tachas e spikes vieram da subcultura
fetichista; Lemmy inseriu o cinto de bala.
A moda
heavy metal dos
anos 1970-1980, era composta por calça jeans azul justas ou calças
rasgadas, camisetas (T-shirts) geralmente estampadas com logotipos ou outras
representações visuais de bandas
favoritas. Acessórios de couro, cintos de
bala, tachas, correntes, bottons de bandas, anéis de caveira, cobras, dragões, imagens de horror, cruzes (associadas à idade média e aos cavaleiros templários), mitologia ou
simbolos de caos e
perigo. Botas de motociclista ou tênis de cano alto complementavam o
look.
Típico look metaller do começo dos anos 1980: calça jeans
azul, camiseta e jaqueta de couro ou jeans.
No fim dos anos 1970 e anos 1980, os cabelos longos também podiam ter um mullet. Tenis esportivos ao estilo basquete foram adicionados, assim como bonés de baseball com logos de bandas. Os elementos estéticos comecaram a se diversificar na década de 80, o mesmo aconteceu com os cabelos/penteados. O surgimentos dos video clips, foi um dos responsáveis pelo interesse estético e pela criação de novos estilos.
Na
década de 1980, uma série de fontes, do punk ao gótico
passando pela música de filmes de
terror influenciaram a moda de HM. A aparencia
exibida no palco se tornou algo importante e fundamental.
No Hard rock, inspirados
pelo glam rock dos anos 1970, cujos artistas tinham uma imagem teatral, a moda
e o estilo pessoal ganha grande importância para as bandas. Cabelos armados ao estilo mullet ou poodle,
muito laquê, estas bandas ganharam o apelido de glam (glamour) metal por
trocarem o uniforme jeans e camiseta típico da classe trabalhadora, por roupas
coloridas, elaboradas e extravagantes como o spandex (calças de lycra),
adoradas pelos membros das banda mas raramente usadas por fãs do sexo masculino.
Eles também podiam usar um pouco de maquiagem (batons, sombras, blush, pó,
lápis de olho etc.), lenços de seda e estampas de leopardo. Botas de salto ou
de plataforma também faziam parte da androginia estética. Essas expressões
estéticas geraram hostilidade à alguns glam mettallers, fazendo com que eles
fossem chamados de “posers”.
Hard/Glam: androginia nos penteados e na maquiagem. Muitos acessórios e roupas extravagantes. O spandex (lycra) era muito popular, tanto que até bandas mais tradicionais de HM aderiram à peça como Iron Maiden.
Hard/Glam: androginia nos penteados e na maquiagem. Muitos acessórios e roupas extravagantes. O spandex (lycra) era muito popular, tanto que até bandas mais tradicionais de HM aderiram à peça como Iron Maiden.
No começo dos anos 1990, a moda metalhead mudou, aparentemente devido ao aumento das formas musicais mais diversas e extremas. O Death metal, assim como o Thrash em geral, rejeitavam o teatro dos estilos anteriores, optando por um look cotidiano de jeans rasgados e jaquetas de couro simples. A a Guerra do Vietnã teve grande impacto na juventude dos anos 1970 e 1980, o militarismo inspirou as bandas de thrash. Jaquetas de campo/trincheira, camuflagem verde oliva, uniformes, botas de combate... Udo Dirkschneider, ex-Accept, é considerado o primeiro a vestir calças militares a partir de 1982.
O cabelo comprido
deu lugar à penteados mais curtos e até mesmo cabeças completamente raspadas, que
ganharam popularidade e aceitação. A influência nacionalista-socialista entre
alguns membros da subcultura heavy metal foi parcialmente responsável, mas a escolha de bandas e artistas de
usar o cabelo curto foi o que teve maior influência. Membros do Metallica, Bruce Dickinson, Kerry King e Phil
Anselmo cortaram o cabelo curto ou o rasparam completamente. Barbas e cabelo facial cresceram em
popularidade naquela década. Até então não era comum metallers usarem barbas, pois
estas eram associadas desde a segunda guerra com pessoas envolvidas com a
intelligentsia (uma categoria ou grupo de pessoas engajadas em trabalho
intelectual complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e disseminação de
cultura) sendo portanto, um choque com a cultura tradicional heavy metal.
Kerry King contrasta com seus companheiros de banda: cabeça raspada e barba.
Kerry King contrasta com seus companheiros de banda: cabeça raspada e barba.
Muito
se fala de como o grunge “matou” o heavy metal nos anos 1990. Os metallers
tendem a falar mal do grunge o tempo todo, mas será que eles pararam pra pensar
que boa parte das peças que usam hoje, no dia a dia, eram parte da estética grunge? O estilo
desleixado, “largado”, bermudas e calças cargo, camisas abertas sobre
camisetas, meias e tênis é uma aparência grunge. Na foto acima, do Slayer, reparem no visual de Tom Araya (à direita): jeans largos e de lavagem "gasta", camiseta, jaqueta xadrez e cabelos desgrenhados. Ele se vendeu ao grunge? Não, mas a foto ilustra bem como a moda grunge foi absorvida pela moda masculina da época. Gostando ou não, boa parte da moda masculina casual atual (mainstream também) é de herança grunge.
A crescente influência do gótico, da música industrial e do hardcore punk tornou-se vez mais evidente no vestuário metal. Calça jeans preta substituiram o jeans tradicional azul. Os acessórios eram os mesmos mas tornaram-se mais discretos, minimalistas.
Um dos responsáveis por trazer de volta ao HM o estilo Glam foi Marilyn Manson. Mas não um glam como o dos anos 80 e sim, um glam sombrio, maquiagens de terror, plataformas gigantescas e referências ao industrial gótico. O visual de Manson também tem toques de dandismo com o uso de ternos e peças clássicas do vestuário masculino. O visual do artista foi tão impactante em sua época que um "estilo Marilyn Manson" pode ser encontrado em roupas e em bandas jovens até hoje, demonstrando uma influência estética que ultrapassa uma década.
Looks preto total se popularizam a partir dos anos 90, assim como o minimalismo (reparem como há poucos acessórios).
Os
membros de bandas e fãs de Metal e Black Metal ainda mantém os cabelos pretos e
longos e às vezes barbas longas também,
seus acessórios, em couro, ostentam pentagramas e spikes de tamanhos imensos, ilustrando
o extremismo do estilo.
Black Metal: o extremismo se revela no tamanho gigante dos spikes e no excesso de couro e studs.
Black Metal: o extremismo se revela no tamanho gigante dos spikes e no excesso de couro e studs.
Os
estilos musicais como o Black Metal, o Power, o Metal Sinfônico e outros que
seguem valores celtas, saxões, pagãos ou vikings e apostam na imagem medieval
cavaleiresca, no ethos do guerreiro, nos cabelos e barbas longas. Pingentes com
o martelo de Thor e símbolos pagãos adornam seus acessórios. Também apostam em trajes
que lembram a Renascença, em justas calças de couro e amplas batas ou túnicas
de mangas compridas. Imagens de bardos e menestréis, bem como cavaleiros é
popular da moda power metal.
Rhapsody of Fire é uma das bandas que apostam na moda histórica medieval e renascentista: batas e túnicas são usadas com calças de couro. Arkona e Mägo de Oz também investem em trajes de época.
Algumas bandas doom metal como a Saint Vitus, incorporaram o retrô de calças jeans boca de sino, headbands, tye-dye ou camisas coloridas inspiradas nos anos 60 e no rock psicodélico dos anos 70. Ao lado, banda doom Colosseum e seus membros usando calças boot cut (boca de sino) misturado com o visual tradicional do metal (camiseta + jaqueta).
A ascensão do nu-metal com calças largas (cultura hip-hop), bermudas cargo e cultura de gueto, incluindo a adoção de sportswear, cabelos curtos arrepiados e dreadlocks invadiram a cena HM no fim dos anos 90. Naquela época, houve uma popularização do skateboarding. Este estilo se popularizou tanto que muitas lojas copiaram e venderam em shoppings. Assim como aconteceu com o Hard Rock, alguns destes aspectos foram vistos como um desacordo com a imagem de um metalhead tradicional.
Rhapsody of Fire é uma das bandas que apostam na moda histórica medieval e renascentista: batas e túnicas são usadas com calças de couro. Arkona e Mägo de Oz também investem em trajes de época.
Algumas bandas doom metal como a Saint Vitus, incorporaram o retrô de calças jeans boca de sino, headbands, tye-dye ou camisas coloridas inspiradas nos anos 60 e no rock psicodélico dos anos 70. Ao lado, banda doom Colosseum e seus membros usando calças boot cut (boca de sino) misturado com o visual tradicional do metal (camiseta + jaqueta).
A ascensão do nu-metal com calças largas (cultura hip-hop), bermudas cargo e cultura de gueto, incluindo a adoção de sportswear, cabelos curtos arrepiados e dreadlocks invadiram a cena HM no fim dos anos 90. Naquela época, houve uma popularização do skateboarding. Este estilo se popularizou tanto que muitas lojas copiaram e venderam em shoppings. Assim como aconteceu com o Hard Rock, alguns destes aspectos foram vistos como um desacordo com a imagem de um metalhead tradicional.
Nu metal inseriu elementos esportivos, cabelos curtos e coloridos/descoloridos na cena.
Esse estilo mais streetwear de jeans, camiseta e boné, acabou naturalmente se expandindo do nu metal e foi abraçado até mesmo por integrandes de bandas extremas.
No
heavy metal vemos alguns integrantes de bandas usando saias. É preciso levar em conta que como uma
subcultura machista, assim como na sociedade atual, os
homens só aceitam usar saia se ela for revestida de um peso histórico, como a
saia escocesa (kilt) ou saias que passam um visual másculo e agressivo, que
lembram guerreiros medievais e devem ser acessorizadas com correntes ou cintos.
Essas saias costumam ter um nome bem agressivo, as "saias de combate", um termos bem
masculino.
Saias no HM: ou elas tem referência histórica (kilt escocês) ou tem aparência agressiva.
Saias no HM: ou elas tem referência histórica (kilt escocês) ou tem aparência agressiva.
Também
notável o uso crescente por diversas bandas, de peças clássicas como o blazer e camisas formais em vídeos de música e performances de palco. Embora Manson tenha sido um dos precursores do estilo, isso não se limita à um tipo específico de metal.
Blind Guardian posa usando peças clássica do vestuário masculino.
Blind Guardian posa usando peças clássica do vestuário masculino.
No início de 2000, um grupo de metalheads começou a ser conhecido como "Moshers" devido ao tipo de dança adotada (moshing). Mosher é um termo mais associado ao metalcore e nu metal. Eles usavam jeans baggy (largas e em vários numeros maiores) com barras longas sobre os pés sustentadas por cintos de tachas e uma corrente presa da parte da frente à de trás das calças e camisetas pretas com emblemas de suas bandas favoritas, chamas ou crânios. Camisas abertas usadas sobre uma camiseta para mostrar a estampa. Moletons com capuzes com o logotipo de bandas se tornaram populares. Calçados como os da marca Vans e piercings eram comuns assim como cabelos tingidos em alguns casos.
O metalcore, desde 2002 também trouxe mudanças
na moda HM. Os fãs do gênero são mais puros na aparência e com o cabelo mais
curto, geralmente tingido de preto, e com tendência a favorecer determinadas marcas de vestuário ou calçado. Muitos desses fãs são
vistos como associados a cultura por
razões puramente estéticas. Sob
o argumento de que o HM deve ser anticomformista e de modo algum influenciados
pela sociedade em geral, bandas como Avenged Sevenfold, Motionless in White e Bullet For My Valentine são objetos de
criticas dos ouvintes não apenas pelo apelo sonoro mas pela estética que usa
bastante a cor preta, cabelos tingidos e por vezes maquiagens e penteados que se assemelham à
estética emo e hard.
Algumas bandas de metalcore tem um apelo visual muito forte: roupas e cabelos tingidos de preto com cortes repicados ou ao estilo "emo", uso de determinadas marcas de roupas, maquiagem e influência gótica. Mas também existem bandas de metalcore com um visual mais puro e streetwear como Bleeding Through.
Algumas bandas de metalcore tem um apelo visual muito forte: roupas e cabelos tingidos de preto com cortes repicados ou ao estilo "emo", uso de determinadas marcas de roupas, maquiagem e influência gótica. Mas também existem bandas de metalcore com um visual mais puro e streetwear como Bleeding Through.
A
partir de meados dos anos 2000, houve um forte revival de tendências antigas, mais
especificamente oitentitsta.
O estilo “trad metal” com jeans justo azul e camisetas pretas de bandas old
school ficou muito em voga. Ter uma camiseta vintage ou de turnês antigas se tornou muito valorizado e o postador ganha
status na subcultura. A camiseta com o logo da banda é vista como um
comprometimento ao genero Heavy Metal. Usar estas camisetas junto com uma
jaqueta ou colete jeans adornado com patches, bottons, alfinetes e
spikes junto com cinto de bala, pulseira com spikes, coturno ou tênis de
basquete (cano alto) foi uma das mais fortes tendências retrô em anos recentes na
subcultura HM.
Outro
tipo de estampa valorizada na cena são as da marca de motocicletas Harley Deivdson. Uma Harley é grande, poderosa
e cara. Poucos fãs de HM tem uma, mas a harley é um icone do metal, um link com
os seus antecessores, os bikers. Uma forma barata é ter uma camiseta da marca para mostrar a
identificação com as raízes da subcultura.
Outra tendência retrô foi o revival do estilo Hard Rock oitentista inclusive através da cena sleaze sueca.
Outra tendência retrô foi o revival do estilo Hard Rock oitentista inclusive através da cena sleaze sueca.
Como vimos, a moda heavy metal se diversificou através das décadas. Antigamente era praticamente um uniforme e atualmente tem grande diversidade.
Aguardem o próximo post sobre Moda Alternativa Heavy Metal.
Aguardem o próximo post sobre Moda Alternativa Heavy Metal.
Fontes consultadas: Popular Music:
The Key Concepts de Roy Shuker; Extreme Metal: Music and Culture on the Edge de
Keith Kahn-Harris; Hell Bent for Leather: Confessions of a Heavy Metal Addict de Seb Hunter e Heavy Metal: The Music and its Culture de Deena Weinstein .
*O texto foi escrito pela autora do blog de acordo com pesquisas em
livros de subculturas lançados no exterior. Se for usar trechos ou o
texto na íntegra em trabalhos ou sites, citem o blog como fonte ;)
é um estilo muito forte que dificilmente será possivel de usar no cotidiano pelo grande trabalho na produçao
ResponderExcluirDepende do estilo. A moda básica e cotidiana do heavy metal é jeans, camiseta preta, jaqueta e tênis. Os looks mais elaborados e produzidos são mais vistos em shows. ;)
ExcluirParabéns pela pesquisa.
ResponderExcluirOlá, quanto ao estilo de cabelo.
ResponderExcluirSerá que hoje não fica bem um homem usar cabelo comprido com franja como
o Bruce Dickinson ou os caras do Manowar? alguns anos atrás meu cabelo era assim.
Particularmente acho legal! Dá um ar retrô oitentista ao visual!
Excluirola,ao estilo do cabelo fica bem um metaleiro usar cabelo afro??
ResponderExcluirAcredito que sim, é seu estilo pessoal e daria um diferencial pra quem sabe mais rapazes usarem. Sem falar de cabelo afro, de certa forma, não deixa de ser comprido ;)
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelíssimo texto! *_*
ResponderExcluirmadessy.blogspot.com.br
eu uso um mulletmisturado com a do jhon stamos com a do xororo !
ResponderExcluire ficou foda ! ate hoje nunca fui discriminado pelo estilo retro !