A Monocultura, tema do post anterior, se baseia na idéia de o capitalismo ter chegado ao ponto extremo de abraçar as subculturas como parte do mainstream, já que estas deixaram de fazer resistência aos valores da cultura dominate. O capitalismo é a chave de entrada desta postagem. Para isto, foquem nos valores comerciais, econômicos e visuais dos dias de hoje; pensem em comportamento consumidor. Vivemos numa sociedade em que absolutamente tudo é fabricável, desejável e comprável.
Vivemos na Era da Imagem
Não é preciso ler, mas é preciso ver! A prova é a quantidade de blogs e redes sociais que surgiram nos último anos. Tumblr é um blog cujo formato tem foco na publicação e re-publicação de imagens muitas vezes sem suas fontes de referência, um formato que passa a idéia de um mundo (de imagens) sem dono. As redes sociais Pinterest, I (heart) it, Instagram, Flickr, DeviantArt, Picasa, Fotolog, 500px, TweetPic, Orkut, Google + e Facebook, também tem foco na publicação de imagens. Quem nunca ouviu frases do tipo “tirou foto só pra postar no Orkut/facebook”? E honrando o nome do capitalismo: Fashiolista! A rede social onde as pessoas postam imagens das roupas e acessórios que desejam comprar. Até a plataforma Blogger se rendeu à era da imagem, vejam o Moda de Subculturas em versão flipcard:
O Alternativo se Apoderando de Hábitos de Consumo da Cultura Dominante
Quando pensamos em subculturas como a punk, a gótica e a rock/metal, lembramos de suas origens de jovens rebeldes, contestadores, questionadores, avessos às regras impostas pela sociedade e em alguns casos, com atitudes anti-capitalistas. Ser alternativo não era simplesmente ficar com o lado divertido da vida, era também buscar uma nova forma de evolução humana. As roupas entravam como expressão da criatividade, uma novidade estética proposta por estes grupos que não necessariamente visavam serem “aceitos”, mas mostrarem diferença de idéias.
A customização de roupas entre os punks era de praxe. A moda gótica tinha seus estilos de moda bem dividos - hoje, na moda gótica, há mais do que nunca a mistura de estilos. Estilo Heavy Metal? Antes uns spikes, botas e camistas pretas; hoje, existem marcas que fazem roupas específicas pra esse público que sempre disse “odiar moda”. Um novo segmento de moda alternativa surgiu no exterior, a “high alternative”, marcas que investem em roupas semi-alta costura, materiais caríssimos e algumas vezes conceituais. Quem diria que a moda alternativa se renderia ao luxo?
Roupa é uma linguagem que as pessoas empregam para se comunicar uns com os outros indicando interesses comuns ou envolvimento com atividades semelhantes. Individualidade e mente aberta são características da moda alternativa, porém, em algumas cenas alternativas, estar “bem vestido” é algo que dá status (assim como na moda dominante).
Se a proposta do alternativo é ir contra ou num caminho paralelo ao que o mainstream impõe como moda a ser seguida, porque está absorvendo o mesmo estilo de vida e de consumo? É inevitável? É parte da monocultura? Na sociedade de consumo "ter" é "poder". Se você tem a estética ou o produto do momento, você tem status, é popular, admirado e copiado. O que você consome forma a sua imagem perante os outros.
Blogs Alternativos x Publicidade e Consumo
Recentemente, populares blogs alternativos passaram a oferecer publicidade paga, o que mostra como certos blogs são tão acessados diáriamente que as marcas viram neles janelas para seus produtos. Como resultado, os blogs alternativos se profissionalizam através do patrocinio das marcas e conseguem oferecer aos leitores um conteúdo mais seletivo. Nestes blogs há espaço para publicidade paga ou patrocinada nos lugares mais atraentes da primeira página levando o leitor a clicar num banner e ser redirecionando para lojas de roupas, acessórios e maquiagens. O que nossas blogueiras preferidas usam, confiamos, queremos e compramos! Seja para ficar igual à elas, para ter o produto do momento e ter status, para satisfazer um desejo de consumo. Seria o impulso do sonho de se tornar alguém que não se é comprando a mesma coisa que elas? Seria o consumo pela vontade, pela pessoa linda e maravilhosa que o produto diz te transformar? Ou seria apenas o consumo por indução?
Também há um novo segmento de blogs alternativos cujo foco são testes de produtos cosméticos, “compras da semana ou do mês”, os já famosos “look do dia” em fotos deliberadamente montadas e planejadas. Os objetos de consumo que a blogueira compra, refletem suas idéias, personalidade, desejos materiais e sua classe social; afinal, quantas blogueiras postam que compraram determinado produto especialmente caro ou importado sabendo que algumas de suas mais fiéis leitoras nunca poderão comprá-lo, apenas desejá-lo e admirá-las por seu poder consumidor?
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Há Algo de Podre no Reino dos Blogs de Moda e Beleza (não é uma matéria sobre blogs alternativos, mas dá idéia do ponto que os publiposts chegaram).
Blogs alternativos costumavam ser fonte de conteúdo diferenciado, novo ou inovador e se tornaram adeptos do consumo pela “imagem e desejo”. Hoje mais forte que a preocupação de ser “ser” é a de “ter”, e é cada vez mais raro encontrar blogs com conteúdo autoral ou inédito já que quando um formato ou tema de um blog faz sucesso, logo aparecem outros com conteúdo igual ou semelhante.
Neste mundo de consumo, existe também a publicidade velada e gratuita do “curta”, “tweete” e “compartilhe” o link de uma loja e seu sorteio. Nestes sorteios, você divulga uma marca em troca de uma chance de ganhar um produto. No instante em que você “curte” ou “compartilha” o sorteio, você promove a marca e lhes fornece mais “seguidores”; ao mesmo tempo, você arranja centenas de concorrentes e suas chances de ganhar o produto caem drásticamente. Antes um sorteio dependia apenas de sua participação, a divulgação do mesmo era por conta da marca. Hoje, depende de você divulgá-lo para poder concorrer. É um marketing muito barato para as lojas, já que é você quem faz o trabalho de divulgação de graça em troca de uma chance de ganhar um objeto de desejo.
E isso tudo são coisas más?
Não necessariamente. Isto é apenas um reflexo dos hábitos de comportamento e de consumo dos alternativos atuais, cada vez mais dispostos a consumir e a vender. Cada vez mais dentro da máquina que faz o mundo girar. Será mesmo que a monocultura nos engoliu e agora não repudiamos mais hábitos da cultura de massa?
Estética Alternativa Fabricada em Massa
A moda alternativa existe há pouco mais 30 anos e atualmente está no seu auge de fabricação em massa, variedade e acesso ao público. As marcas se desenvolveram muito na última década com a ajuda da Internet e com a mão de obra barata de países asiáticos como Camboja, Vietnã, Paquistão, Bangladesh e Índia que confeccionam roupas e acessórios a preços extremamente baixos. Já a China fabrica de tudo um pouco e em muita quantidade e Taiwan produz a preços baratos imitações das marcas alternativas de Harajuko e de grandes grifes européias.
Até o começo dos anos 90 houve criação e inovação estética na moda alternativa. Mas de lá pra cá, pouco foi criado em relação ao que foi reciclado e torna-se cada vez mais comum a apropriação de tendências da moda dominante. Tínhamos a idéia de que criações alternativas são únicas, exclusivas e especiais, completamente ao contrário dos produtos massificados e produzidos em grande quantidade que as marcas “normais” tentam vender.
Com a moda alternativa sendo fabricada em grande quantidade e a proliferação das imagens das mesmas através de blogs, redes sociais e a Internet em geral, o que se vê é uma moda alternativa globalizada: a estética pin-up retrô se espalhou pra todas as áreas; dançarinas burlescas pipocam aqui e ali; todas as mulheres sonham com um corset; cabelos em cores fantasia estão mais populares do que nunca; tattoos de caveiras mexicana deixam todos com o mesmo desenho na pele; o Steampunk deu um salto de popularidade; moda inspirada em épocas antigas nunca esteve tão em voga. Todas as estéticas se proliferam num click! Todos querem ser diferentes, autênticos e individuais, mas aparentam mais iguais do que nunca antes foram.
Marcas Alternativas Desejando o Público Mainstream
Recentemente, uma corsetmaker alternativa, postou em suas redes sociais que estava super feliz porque Lady Gaga usou uma peça sua e isto poderia trazer muitos mais consumidores pra ela. Durante sua carreira, a estilista teve seu foco no público underground e alternativo. Qual o motivo de uma corsetmaker de sucesso no meio alternativo desejar que sua marca seja reconhecida pelo mainstream? Reconhecimento de seu talento e de suas peças? Isso ela conseguiu através dos anos na cena alternativa que divulga sua marca em diversas mídias. A resposta pode ser “satisfação financeira”. Em nossa sociedade entendemos que ter sucesso ou ter seu talento reconhecido está ligado à dinheiro. Foi se o tempo em que corsetmakers criavam apenas pro mini-nicho do tight-lacing, para as góticas, se satisfaziam e viviam felizes contribuindo com o cenário alternativo underground. Hoje é preciso também desejar um público abrangente para que haja cada vez mais vendas.
Marcas alternativas de maquiagem como Stargazer, Illmasqua, Sugar Pill, Lime Crime, entre outras, tem estampado páginas de revistas mainstream. Será que há a possibilidade de que estas marcas optem por adequar parte de seus produtos ao mainstream para alavancar vendas?
A Moda Alternativa Copiando A Moda Alternativa, alguns exemplos:
- A moda de rua japonesa influencia a moda alternativa européia e americana. O que se vê nas ruas de Tóquio, alguns meses depois terá sua versão européia/americana; com tecidos diferentes e modelagem adaptada ao corpo ocidental.
- Uma marca asiática faz vestidos aos estilo 50 e tem escritório em Londres. Estes vestidos de estética retrô fabricados em massa são vendidos em lojas alternativas americanas, inglesas, alemãs, polonesas, suecas, australianas e lojas brasileiras que as importam. Praticamente todas as lojas, independente do país vendem as mesmas peças. O sucesso foi tanto que outras marcas alternativas passaram também a fazer vestidos retrôs em grande escala como forma de concorrência; mesmo que algumas destas marcas sempre tenham tido foco na moda gótico-romântica...
- Iron Fist: A marca seguiu o
princípio do conceito da moda alternativa que é: “
criar algo novo ou ousado”. Criou sapatos de salto fino estampados. E claro que deu certo! Não havia algo semelhante no mercado! O público alternativo quer coisas diferentes! Por conta do sucesso dos produtos da marca, várias marcas alternativas copiaram a idéia da Iron Fist. Inclusive marcas cuja estética sempre foi focada em plataformas
darks e futuristas que nunca focaram em salto fino por ser “mainstream e normal demais”.
- Um caso dramático já abordado aqui no blog, um caso de cópia não apenas de uma idéia, mas da assinatura de um estilista, o “
corset camafeu” de Louise Black. Lojas européias e asiáticas já produzem diversos produtos (bolsas, blusas, cintos) oriundos de uma criação única e original: o corset da Louise. Não é bizarro que a própria Louise não fabrique as bolsas, cintos e blusas de “
corset camafeu” e sim outras marcas que apenas pegaram a idéia e copiaram? A artista que teve a idéia inovadora não está lucrando nada com isso, já que ela optou por trabalhar com peças exclusivas e sob medida e não com fabricação em massa como as cópias que visam o lucro.
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Project Runaway e Louse Black
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Cópias na Moda Alternativa
Devemos considerar estranho ver uma marca alternativa copiando outra marca alternativa, ou esta atitude tão “moda dominante - lucro a todo custo” veio pra ficar? Não é no alternativo em que a criatividade total e sem amarras é liberada? Porque uma marca alternativa copia a outra? Creio que pela certeza de retorno financeiro já que é comprovado que determinada estética vende. Copiar o que deu certo com outra marca, fazer sua versão e vender, independente de ser um produto autoral ou não. Todos querem um pedaço do sucesso (e vendas) alheio.
Concluindo:
Já debatemos muito neste blog que na era pré Internet era mais difícil encontrar roupas alternativas, tudo evoluía de forma forma lenta, embora existissem estilos variados. A Internet melhorou a comunicação e divulgação, temos acesso à todo tipo de informação e imagem. Há estilistas alternativos criando produtos super diferenciados e criativos e enquanto eles não caírem nas redes sociais e forem compartilhados ao extremo, sua arte será única e não massificada. A partir do momento que um público maior as conhecer, as cópias serão inevitáveis.
No Brasil, temos como referência de moda as tendências estrangeiras. Sempre foi assim porque eles são uma temporada à frente de nós. O mesmo acontece com a moda alternativa/underground: copiamos o que eles produzem. Mas não precisa ser assim, a Austrália, embora sofra influencias da moda européia e japonesa, é um país de clima peculiar e sua moda alternativa tem várias características próprias, adaptadas ao clima e ao público. O mesmo fez a Alemanha, Inglaterra e EUA que criaram versões para a moda de rua japonesa adaptados ao público e às particularidades climáticas de seus países. E no Brasil, espera-se que este seja o futuro de nossa moda alternativa, olhar pro exterior, mas criar de forma autoral, de acordo com nossos hábitos, clima e nossa criatividade sem esquecer do empreendedorismo, característica fundamental de líderes de negócio.
A criatividade deve sempre avançar e não regredir nem estagnar. O consumo da moda das subculturas deve ser um reflexo da criatividade e originalidade do público e não um consumo baseado na fuga de problemas, na ilusão de que um produto vai te fazer ser que não se é, essa é uma característica de consumo da cultura dominante.
Mas uma coisa eu sei, é característica do underground se refazer de tempos em tempos e sempre surpreender com algo nunca feito antes.