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5 de agosto de 2014

Alfinetes de Segurança: do Punk ao Mainstream

Devido à exposição “Punk: Chaos to Couture” ter sido tema do MET Gala de 2013, muitos elementos estéticos do movimento sobressaíram nas temporadas de moda internacionais. Entre os destaques, poderíamos ressaltar o enorme uso dos alfinetes de segurança.


Não é a primeira vez que eles reaparecem na moda. De tempos em tempos, os encontramos de volta nas passarelas. Porém, o que pouco se fala é como eles surgiram no punk e se transformaram num dos maiores símbolos de rebeldia. Nesse post, vamos relembrar o início e fatos importantes que ocorreram ao longo dos anos.

Os alfinetes fazem parte da indumentária há séculos. Eles tinham como objetivo prender as roupas, como ganchos. Uma lembrança conhecida são as fraldas de pano que necessitavam do objeto para serem fixadas. Ninguém poderia imaginar que no século XX, uma mudança total de conceitos poderia ressignificar a peça.

Era final dos anos 60, quando o Punk começou a tomar forma em Nova Iorque. Um músico conhecido como Richard Hell chamou a atenção do empresário Malcolm McLaren pelo jeito que se vestia. O inglês ficou fascinado pelo estilo anti-moda do rapaz, que usava roupas rasgadas e perfuradas por alfinetes de segurança. McLaren tentou empresariá-lo e levá-lo para Londres, mas não obteve sucesso.

Richard Hell no período em que tocava no grupo The Voidoids. Perfurar as roupas com alfinetes era também uma tentativa de "costurar" os rasgos, já que não se tinha dinheiro para comprar novas:


Malcolm então decide retornar à Inglaterra. Lá, ele tinha uma loja de roupas junto com a esposa, Vivienne Westwood, onde decidiu tentar reproduzir o que havia visto na cena americana, porém adaptando ao contexto social inglês. O empresário cria os Sex Pistols e, consequentemente, o grupo passa a ser vestido com criações de Westwood.

John Lydon (na época Johnny Rotten) e sua roupa pregada de alfinetes.

Sex Pistols usando as criações de Westwood e um cartaz da banda.

Influência: fã dos Pistols, Joan Jett usa o alfinete em duas ocasiões; com uma camiseta customizada por ela e na função primária da peça fechando seu jeans.

Trinta anos depois: o logo da liga London Roller Girls relembra o anúncio do grupo inglês.


Mesmo o Punk tendo nascido em solo americano, foi na terra da Rainha que ele se impulsionou. O movimento foi uma válvula de escape para os jovens da classe operária que estavam desempregados e sem nenhuma perspectiva de vida devido a forte recessão que assombrava o país.

Irritados, desiludidos e revoltados, passam a protestar usando como arma tanto a música quanto a estética, que deveria ser o mais chocante possível. Assim, os alfinetes de segurança perfuram em excesso as roupas, os acessórios e o corpo. Atravessam os tecidos, mas também o nariz, lábios, bochechas e orelhas, que muitas vezes, são interligadas por correntes de privadas. Dessa forma contestadora, o ano de 1977 costura de vez sua história na moda.

Punks anarquizando sua estética perfurando o objeto na boca e orelhas.


Os alfinetes na Moda Mainstream
Quando olhamos as imagens dos Sex Pistols e suas roupas cobertas de alfinetes, logo lembramos que a criadora daqueles trajes foi Vivienne Westwood. Durante esse período, e também nos anos posteriores, o aviamento volta e meia pontuaria as coleções da inglesa, como a de Outono/Inverno 1993.

Kate Moss fotografada por Ellen Von Unwerth, fazendo clara referência aos Punks. À direita, no desfile Outono/Inverno 93.

Mas Vivienne não foi a única estilista importante da época. Se ela era conhecida como a Rainha dos Punks, Zandra Rhodes seria a Princesa. E embora Zandra não tenha a fama comercial da primeira, sua influência no desenvolvimento da moda punk é significativa. Ela também utilizou dos cortes remendados por alfinetes nas suas produções.

A "Princesa do Punk" demonstrando seu total amor pelo objeto.

A estilista usou e abusou do material nas criações.

Embora outros estilistas tenham se inspirado na estética punk, um desfile no Outono/Inverno de 1992 iria causar furor na moda mainstream, talvez remetendo a mesma perplexidade que a sociedade inglesa setentista tinha ao enxergar um anárquico.

Gianni Versace trouxe para sua passarela o universo bondage, causando um certo espanto aos críticos de moda que observavam. Vestidos ultra-mega colados ao corpo, com decotes profundos, eram entrelaçados por fivelas e alfinetes de segurança. Em defesa as críticas que recebia, soltou a seguinte opinião: “Eu não acredito em bom gosto”. Dois anos depois, a atriz Elizabeth Hurley ganharia fama ao usar um dos vestidos na première do filme "Quatro Casamentos e um Funeral". Esse foi um ponto crucial ao acessório, pois obteve uma inversão de valor, sendo transformado em artigo de luxo.



Desfile Bondage da Versace Outono/Inverno 92, com as tops Naomi Campbell e Christy Turlington.

O vestido desfilado por Helena Christensen, ganhou fama dois anos depois pela atriz Elizabeth Hurley.

Da década de 90 para os dias atuais, os alfinetes de segurança ressurgiriam numa coleção ou outra. Um pouco antes da exposição surtir influência nos designers de 2013, a grife Balmain, ainda comandada por Christophe Decarnin, reviveu a estética punk de luxo nas roupas Primavera/Verão de 2011. A jornalista Nicole Phelps do site Style chegaria a questionar se “a balmainia ainda era tão forte para as mulheres desembolsarem altos valores numa jaqueta cravejada de metais, com um olhar tão DIY”.


Balmain por Christophe Decarnin, Primavera/Verão 2011.

Kristen Stewart com vestido da grife no MTV Movie Awards de 2011.

No Brasil, o estilista Alexandre Herchcovitch, que sempre teve ligação com as subculturas, se inspirou na estética de Boy George para o desfile Primavera/Verão 2013. Apesar do tema oitentista, as clutches da marca eram recheadas de alfinetes em diversos tamanhos. Já para o Inverno 2014, João Pimenta colocou entre os detalhes de sua coleção masculina, enormes alfinetes que transpassavam golas ou cachecóis.


Coleção Primavera/Verão 2013 Alexandre Herchcovitch.

Coleção Inverno 2014 de João Pimenta.

Quem costuma observar a moda mainstream, é provável que tenha notado a volta significativa do material em roupas e acessórios, muitas vezes usados por celebridades que nem são alternativas. Além de retornarem nos tecidos, os alfinetes também estão perfurando novamente as orelhas, como brincos.


O cantor britânico Shane McGowan usa o alfinete com o mesmo espírito dos anos 70.


Famosas alternativas ou não aderindo a peça: Kate Nash, Isis Queen, Kelly Osbourne, Miley Cyrus, Rihanna e Jessica Alba.


Além das orelhas, Kelly Osbourne fez uma versão no seu cabelo. Antes dela, Giovanna Bataglia apareceu com os fios entrelaçados por alfinetes no MET Gala de 2013.



Faro hipster: em 2009, na sua primeira visita ao Brasil, Marc Jacobs já tinha o alfinete como brinco. Aliás, esse é um motivo interessante a se notar: quando alternativos usavam alfinetes ou clips nas orelhas, muitos debochavam de tal atitude. Agora com o renomado estilista usando a peça, será que as mesmas pessoas que criticavam mudaram de opinião??? São nessas horas que descobrimos as vítimas da moda.

Marc Jacobs usando o acessório, em 2009.


A difusão do alfinete na moda se tornou tão forte que conseguiu atingir diversos públicos. Chegou-se a um ponto incontável de exemplos. Isso confirma o quanto o objeto foi diluído e dominado pelo mercado mainstream.



Editoriais de 2013: Teen Vogue de Setembro e Tyra Banks na Faulty Beauty Magazine de Julho.


Na exposição The Little Black Jacket, o famoso casaco da Chanel também foi alfinetado.

Apesar do aviamento ter penetrado no mercado de luxo, ele ainda permanece em roupas alternativas, como das cantoras Avril Lavigne e Brody Dalle.

A rede de departamento Zara trouxe na versão estampa.

Max Cavalera mostra que os alfinetes também pertencem ao metal.


Nessa imagem da Tokyo Fashion, a criatividade dos japoneses se revela como sempre além do esperado, em "tatuagens" nos seus rostos.


Até a monstrinha Draculaura ganhou alfinetes em suas orelhas. Será que as crianças de hoje já enxergarão com mais naturalidade um alfinete sendo usado como brinco?
 

Jean Paul Gaultier provoca no desfile de Inverno 2014, ao trazer um modelo com mais idade. Nele, a gravata é espetada por alfinete cheio de penduricalhos, como se fosse um pingente. Nos anos 70, era também comum punks criarem colares e pingentes feitos só do aviamento.
 

O alfinete é mais um exemplo de objeto que teve seu uso desconstruído pelas subculturas e como vimos, cooptado pelo mainstream. Teve o seu significado amenizado ou esvaziado de forma a que fosse melhor vendido para as massas. Mas será que a ideologia morreu por completo?



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9 comentários:

  1. Enfim um blog que abrange tudo o que gosto com conteúdo e sucinto. Estão de parabéns!

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  2. uso alfinetes na orelha, em roupas, no cabelo e até em meias esrsrsrs
    é um acessório que, saindo de moda ou não, nunca vou deixar de usar :D
    AMEI esse post. <3
    http://torporniilista.blogspot.com.br/

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  3. me lembro quando comecei a me interessar por uma estética mais "trevosa" eu cheguei a usar alfinetes no lugar de brinco, isso com uns 12 anos e sem conhecer nada de subculturas e a história por trás delas... Interessante como algo que pra mim parecia ser tão "moderno" vem de tantos anos atras :D

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  4. Gosto muito desse tema, sempre quis usar nas orelhas, mas por causa do mangá e anime Paradise Kiss, que dois personagens usavam (Arashi e Miwako) e acha muito bonito, mas sei que minha mãe iria pedir a morte se eu fizesse isso... rsrsrsrsrsr ela já pede a morte com minhas orelhas toda furada. Ótima matéria.

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  5. Encantada com o leque de inspiração desse post!!!
    Sinceramente sempre achei interessantíssimo a ideia de usar os alfinetes de segurança para pequenos reparos. Daí quando vi aquele corpete/blusinha d Balmain todo cravejado nos alfinetes fiquei louca.
    Porém sempre por onde ando, nas minhas viagens, procuro mas nunca encontro a quantidade suficiente de alfinetes para comprar. Hehe, porque fica mais lindo ainda em grande quantidade.
    Adorei o post, muito, muito.
    bejos enoormes!

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  6. O alfinete no mundo punk significa anti aborto. O resto é invenção.

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    1. Oi Carol, aqui não inventamos nada, usamos fontes históricas para escrever o texto. Mas manda pra gente uma fonte sobre ser anti aborto; quando surgiu essa ideia, em qual grupo, qual contexto...
      Bjs!

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    2. Fonte? Não encontrei site nenhum ou fonte onde aparecia o alfinete nesse significado

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    3. Nem liga para esse coment, Vitória. Conta fake, já ficou claro que é a própria invenção.

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