Esta semana ficamos sabendo que o músico Fenriz, do Darkthrone foi eleito para o conselho municipal de sua cidade na Noruega. A história é um tanto bizarrinha: ele foi convidado a fazer parte de uma lista de candidatos a suplente de um vereador da cidade de Kolbotn. Ele topou, pensando que seria uma brincadeira. Mas como todo rebelde que se preze, escolheu o slogan "não vote em mim" com uma foto segurando um gatinho (pela cor, acredito ser gatinha). Não dá pra saber se as pessoas votaram por achar o gatinho fofo ou só pra sacanear, o fato é que Fenriz foi eleito! Tudo que ele precisa fazer é ocasionalmente, durante quatro anos de mandato, quando os titulares do cargo estiverem ocupados, ele deverá assumir a função "no meio de um monte de gente careta", ele diz. E complementa "sou um pilar na minha comunidade."
Duas coisas me chamaram a atenção: a primeira é que ele diz ser um pilar na comunidade, eu entendo que de alguma forma, ele se importa com o local ou é respeitado lá. E a segunda coisa foi a ausência (ou quase) de pessoas alternativas na política. Isso deve se dar porque muitos alternativos realmente querem distância do sistema. Só que política é algo praticado no dia a dia de muitos alternativos. Exemplos? Se engajar em causas dentro e fora da web - como o feminismo e/ou direitos LGBT.
Um caso famoso aqui no Brasil é de Alberto Hiar, também conhecido como Turco Loco, proprietário da marca Cavalera. Em entrevista para João Gordo declarou que o motivo dele ter entrado pra política foi devido à um show gratuito do Sepultura que organizou em 1989. Ao pedir a um vereador para liberar o local do show, o que recebeu foi desdém e piada com a cara dele, e ainda ouviu do mesmo "se quer fazer as suas coisas entra pra política". Ele entrou.
E se tivéssemos representantes políticos lutando por direitos alternativos?
Como transformar o assédio a quem é diferente ou de subculturas em crime de ódio, como aconteceu com Sophie Lancaster [leia aqui]? Ou pra se posicionar sobre a PLS 350/2014 que prejudica o trabalho dos tatuadores?
Mesmo que algumas pessoas não gostem de política, é inegável que as conquistas sociais desejadas precisam ser pautadas por representantes destas minorias.
O caso do Fenriz me gerou toda essa reflexão, inclusive sobre como a frase "política não se discute", faz nos afastar dela. Talvez queiram mesmo que a gente fique quieto nossos cantos, caladinhos e com medo, só porque somos minoria. Mas acho que hoje em dia as pessoas tem mais consciência de suas causas e das mudanças que desejam. É torcer pra um dia termos nossos representantes! Que eles entendam que agredir, humilhar e ser preconceituoso com pessoas de visual alternativo é algo que não pode mais ficar impune.
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Tenho duas teorias:
ResponderExcluirTeoria 1: Acho que as pessoas votaram nele, principalmente por ser 'algo novo'. Tipo a campanha do Tiririca sabe? Ok, que pelo texto dá pra ter um mínimo de ideia da política de lá em relação ao Brasil: há sentimentos bem diferentes, vide pela fala do próprio Fenriz. Mas talvez ainda resida a ideia (preconceituosa diga-se de passagem), por lá, de que gente tatuada, músico e ainda sendo de um tipo de música não tão popular não é tão atraente para representar alguém. Então talvez o considerem como uma "zebra".
Teoria 2: a comunidade alternativa o colocou lá justamente para fortalecer a cena e mostrar que um músico pode e deve ser levado a sério. E também garantir a representatividade. Uma contrarresposta (ou seria contra-resposta? Ainda me embaralho nessa nova regra). Tipo 'Nós existimos e queremos debater política também. Somos da mesma comunidade, afinal de contas'. Ok, que esta teoria pode ser mais infundada, mas é algo que surgiu na minha cabeça haha
Thamyris, sabe que eu me lembrei também do Tiririca rsrs! Essa coisa de um candidato "bizarro" que as pessoas votam achando que não vai ganhar... e no fim ganha!
ExcluirAmbas as suas teorias fazem sentido. E na questão da segunda, foi uma boa observação. E também se ele "é um pilar na comunidade" como ele mesmo diz, as pessoas já devem ter ideia do tipo de cidadão que ele é né? Pois como você disse, o modo que fazem política lá parece ser diferente de aqui do Br em termos de cidadania ;)
bjs!
Eu sempre achei que na política deveriam ter representantes de todos os tipo de minorias, pois só assim essas pessoas são ouvidas. Mas o problema disso tudo é que nossos políticos são tão sujos e corruptos, que qualquer pessoa que queira entrar pra fazer a diferença e mudar o que tá errado, eles dão um jeitinho de acabar com ela (algumas vezes literalmente).
ResponderExcluirE eu acho que é por isso que a maioria dos alternativos se mantém afastados disso tudo. Porque é tudo uma grande quadrilha que não deixa o diferente ser aceito. É medo. Pois eles sabem que isso pode tirar o poder (e o dinheiro) deles.
Enfim, ainda temos um longo caminho pela frente para que algo parecido possa acontecer aqui tendo credibilidade.
Mas vale a reflexão.
bjin
http://monevenzel.blogspot.com.br/
Isso! Precisamos ter na política todo tipo de representação.
ExcluirNosso povo não falou de política abertamente por muito tempo devido à ditadura, além de repreensões de extrema violência antes desse período, como as guerras civis que vivemos desde o Império. Nosso povo tem ignorância política e também sobre a própria história como país. É um passo necessário que todos nós nos começemos a ir atrás de estudar nossa própria história se quisermos mudanças.
Apesar dos pesares há bons políticos no Brasil e precisamos que as pessoas não desistam da política e se tornem cidadãos engajados em causas importantes. Também é necessário entenderem o valor do voto e como tudo funciona.
Temos um longo caminho, mas podemos começar já ;)
Bjs!