É imprescindível falar das lojas de Malcolm McLaren e Vivienne Westwood, especialmente a mais emblemática delas, a SEX, quando falamos da história do Punk britânico.
Neste ano de 2016 comemora-se 40 anos da subcultura Punk e diversos eventos têm ocorrido ao redor do mundo para celebrar a data. Portanto, a partir deste mês publicaremos diversos artigos sobre a subcultura.
Neste ano de 2016 comemora-se 40 anos da subcultura Punk e diversos eventos têm ocorrido ao redor do mundo para celebrar a data. Portanto, a partir deste mês publicaremos diversos artigos sobre a subcultura.
Fachada da loja SEX, 1976 |
Malcolm McLaren se dizia fascinado por jovens rebeldes e em 1971, abre a loja Let it Rock na King´s Road, uma rua "moderninha" de Londres. A loja era localizada na parte mais decadente da rua e tinha foco em álbuns, memorabilia Rock n´ Roll e eventualmente moda para os Teddy Boys. McLaren alegou posteriormente que finalizou a loja tanto porque os Teddies eram conservadores e reacionários e ao mesmo tempo porque se negava a vender vários produtos por apego emocional.
Malcolm na frente da Let it Rock vestido como um Teddy Boy. À direita, a moça loira é Vivienne Westwood, usando roupa autoral e incomum para a época.
Malcolm e Vivienne Westwood, então uma professora escolar, decidem começar a criar peças, como patches para motociclistas, aplicar studs nas roupas... eles criam duas camisetas super famosas, a “Vênus” e a “Rock”, com a palavra escrita com ossos de galinha presos com alfinetes. E foi exatamente aí que o casal e a moda punk começaram a entrar pra história da moda! Foi nessa época que surgiu o primeiro confronto com jornalistas, que queriam emprestar roupas para editoriais de moda, eles recusam. É aí que surge o conceito anti-Vogue e anti-fashion da dupla.
Em 1972 o negócio é reformulado com o nome de “Too Fast to Live Too Young To Die”, com foco em material de cultura Rock n Roll da década de 1960, peças em couro e t-shirts customizadas e desconstruídas, especialmente camisetas antigas - consideradas entediantes - passam a virar peças artísticas de anti-moda.
Fachada da loja, 1973. |
Dois anos depois, em 1974, Malcolm vai à Nova Iorque para uma feira de negócios e lá conhece os glam rockers do New York Dolls. Na volta ao Reino Unido, funda com Vivienne a terceira identidade da loja, dando o nome de SEX, local que viria a ser considerado a primeira boutique de moda punk do mundo.
A SEX tinha letras em plástico cor de rosa fluorescente, algo completamente fora dos padrões da época. Houve uma mudança drástica no conceito: a loja não colocava produtos na vitrine e a intenção era vender roupas que nunca apareceriam nas páginas da Vogue. Hoje, vemos a ironia do destino: dezenas de lojas “cool” não colocam produtos na vitrine e a moda punk constantemente está relida e esvaziada de simbolismo nas páginas da Vogue e outras revistas mainstream. Até nisso o casal foi pioneiro!
A vendedora Jordan em dois momentos em frente a fachada da SEX. Reparem também no arreio no manequim, acessório em moda hoje na cena alternativa. |
Na SEX eram vendidas lingeries, roupas inspiradas em fetiche (pvc, borracha, couro), meias arrastão, calças baggy, t-shirts com imagens ofensivas, iconografia nazista e comunista e pornografia, se tornando um local atrativo para os desajustados, alguns se empregando no loja como Glen Matlock. Já Steve Jones e Paul Cook eram frequentadores. Assim, com Malcolm McLaren como empresário surge outro sex, desta vez os Sex Pistols. Johhny Rotten é quem mais absorve os aspectos bizarros da boutique SEX: o niilismo, o sarcasmo e a hostilidade. Posteriormente, quando Sid Vicious entra pra banda, sendo um fã fanático da mesma, McLaren adiciona seus cabelos espetados e sua aparência de delinquente juvenil.
À esquerda Sid Vicious, que foi vendedor na loja, veste camiseta da SEX.
À direita ele conversa com Vivienne Westwood.
Aqui podemos ver Siouxsie Sioux e Viv Albertine (The Slits) usando a blusa de seios que comentei no artigo dos 40 anos do estilo gótico. Viv usa cinto de tachas.
No mesmo artigo, alertei para o fato de que scarpins, stilletos e sandálias de salto eram usados pelas meninas punks, aqui dois deles, criações de Vivienne para a SEX.
Debbie e Siouxsie usando camisetas da marca.
O símbolo nazi era fashion statement, usado como ironia política, protesto.
O símbolo nazi era fashion statement, usado como ironia política, protesto.
A modelo e vendedora Jordan usando peças em látex.
Steve Jones, desconhecida, Alan Jones, Chrissie Hynde (The Pretenders) que foi vendedora da loja; Jordan (vendedora e modelo) e Vivienne Westwood na SEX em 1976.
@David Dagley |
Algumas das t-shirts da loja |
As peças da SEX usadas pelos Sex Pistols influenciaram o look punk inicial, pois muitas roupas eram vendidas devido à banda aparecer com elas nos shows e na mídia. A febre das t-shirts veio quando o grupo começou a usá-las.
Vivienne usando a camiseta "God Save the Queen"
Em 1976 a boutique troca de nome novamente, desta vez para Seditionaries, continuando a ser o coração punk de Londres, unindo todos os interessados na popularidade dos Pistols. É dessa época outras duas famosíssimas novas criações, as calças bondage - colocando tiras entre as pernas, segundo eles pra simbolizar uma geração "amarrada" que parecia não ter pra onde correr - entraram pra história assim como as calças com zíperes na região genital, também criada pelo casal.
Legendárias criações: calças, camisas e casacos bondage.
Este trecho de vídeo do documentário Punk Attitude, inicia-se com Siouxsie dizendo que o ponto de encontro na King´s Road era a loja do casal. A seguir, Marco Pirroni, do Adam and the Ants, diz que nunca havia visto ninguém parecido com a estética de Vivienne, cabelos platinados arrepiados, assim como Chrissie Hynde que confirma que nunca havia conhecido ninguém tão bizarro como o casal Vivienne e Malcolm.
Há de se atentar que a estética pessoal de Vivienne acabou virando a estética das meninas punks, os cabelos curtos armados, o estilo de maquiagem nos olhos, batom escuro e sobrancelhas desenhadas com lápis colorido.
No vídeo, Vivienne na Seditionaries mostra as calças bondage e uma calça com zíper na virilha. A seguir Chrissie Hynde completa dizendo que não crê que a estética punk teria acontecido sem Malcolm e Vivienne.
Há de se atentar que a estética pessoal de Vivienne acabou virando a estética das meninas punks, os cabelos curtos armados, o estilo de maquiagem nos olhos, batom escuro e sobrancelhas desenhadas com lápis colorido.
No vídeo, Vivienne na Seditionaries mostra as calças bondage e uma calça com zíper na virilha. A seguir Chrissie Hynde completa dizendo que não crê que a estética punk teria acontecido sem Malcolm e Vivienne.
Boy George usando peças bondage da loja.
Mas o colapso da banda Sex Pistols e o punk ter virado mainstream desencanta o casal. Westwood, separada de McLaren em 1980, troca mais uma vez o nome da loja, desta vez para World´s End, nome que está ainda hoje, localizada exatamente no mesmo local de origem, sendo administrada pelo filho do casal, Joe Corré, que este ano declarou seu desejo de queimar a memorabilia punk original.
É interessante analisar o quanto as estéticas criadas pelo casal McLaren e Westwood influenciaram não apenas a estética da subcultura punk quanto o que veio depois na moda e em outras subculturas. A união de ousadia, choque e criatividade foi algo tão explosivo que sacudiu uma geração e virou os olhos da mídia para aqueles jovens atrevidos.
Este artigo é parte de várias postagens em homenagem aos 40 anos do Punk que publicaremos até o fim do ano. Espero que tenham gostado!
- Leia também: CBGB - O berço do movimento Punk
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*Artigo escrito por Sana.
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Muito bacana ver como surgiu a estética punk britânica e como isso foi importante para o movimento. Achei genial as blusas que foram criadas na época com o intuito de quebrar padrões e polemizar. Acho bem legal ver como a moda é tão importante no desenvolvimento de uma subcultura.
ResponderExcluirbjin
http://monevenzel.blogspot.com.br/
Com certeza! A roupa é a primeira coisa que as pessoas veem em você se tornando uma forma de passar mensagem :)
ExcluirFui punk nos anos 80 e confesso que minha inspiração veio de Vivienne e Sex Pistols....saudades.
ResponderExcluirQue demais, Aradia! É difícil ver punks oitentistas declararem influência da Vivienne, apesar da gente saber de sua importância. Obrigada pela participação. Bjs!
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