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12 de dezembro de 2020

Por que sumimos em 2020? Vem saber as respostas!



O ano de 2020 foi atípico em todos os sentidos, inclusive aqui no blog. 


Por que sumimos em 2020? Por que 'pausamos' o blog?




Em 2019 comemoramos 10 anos de blog. O trabalho de produção de conteúdo de 3 zines (físico e digital) e uma revista digital com 104 páginas, um projeto de financiamento na Vakinha e o envio do material aos apoiadores foi um processo superexaustivo (embora prazeroso!) pois fizemos tudo sozinhas na base do do it yourself - faça você mesma - e tudo 100% desenvolvido por mulheres (autoras, ilustradoras e colaboradoras), feito na raça, na vontade, sem conhecimento prévio, errando e acertando.

Produzir conteúdo não é fácil, o processo de pesquisa, de seleção de informações (tínhamos limites de páginas), de cessão de imagens, duraram o ano inteiro e não paramos o blog, mas diminuímos a frequência. Além disso, vínhamos atualizando o blog incessantemente por 10 anos. Assim que todo o material foi enviado,  pensávamos em uma só coisa: 


Tirar um ano 'de férias' do blog!
 

E assim o fizemos! 

Em março deste ano chegou a pandemia. Uma situação terrível que ainda vivemos e parece longe de finalizar! Além de termos de nos proteger usando máscaras, manter o distanciamento social, tem também a questão de manter a saúde mental pelos hábitos terem mudado tão repentinamente.


Hoje com as redes sociais, pessoas se ocupam de pessoas. São horas e horas vendo fotos, vídeos, dando likes ou acompanhando postagens de outrem. Se ocupar de pessoas não é novidade, sem dúvida a vida virtual tirou de nós a presença nas ruas, a conversa face a face. Vivemos em cidades que são propositalmente construídas para carros e não para pedestres, poucas praças, poucos espaços públicos pra se reunir. O motivo é óbvio, não é interessante para os governos que pessoas se reúnam, pois pessoas juntas, conversando trocam ideias. E ideias podem ser motes de mudança de atitude e pensamento, podem ser revolucionárias. Manter cidades para carros e não para que pessoas se encontrem nos  espaços públicos é um projeto político. E nestas horas a internet faz a função que o encontro nas ruas não faz. Especialmente com a pandemia.


Percebemos que assim que iniciou a pandemia, perfis começaram a produzir conteúdo sem parar, com a alegação que agora as pessoas que estariam em casa precisariam de algo pra ver/ler. Em poucos dias foi notável o saturamento de postagens, lives, sob o argumento de 'ser produtivo', porém se tornou impossível de acompanhar sem que ficássemos horas logadas, mesmo que selecionássemos só os perfis preferidos. E estas longas horas logadas favorecem os bilionários donos das mídias sociais e desfavorecem a saúde física e mental das pessoas que logo ficariam com suas mentes estressadas de tanta informação.


Optamos por não entrar nessa onda, a pandemia é pra nós um assunto seríssimo que exige reflexão e  uma oportunidade de rever velhos hábitos, não é um momento para jogar milhares de conteúdos numa sociedade já saturada, viciada e doente também por visibilidade.


A mente precisa de seus momentos de silêncio, tédio e reflexão, para que se desenvolva também o senso crítico na medida em que as informações adquiridas são processadas.


Estamos onde estamos 

Essa nossa ausência pode ter feito alguns pensarem que o blog acabou, que entramos em decadência, ou que "estamos onde estamos: na pior".  


Mas a questão é bem mais simples: desconectar é necessário numa era de estímulo excessivo, de exigência de interação sem pausas.


O blog em 2020 confirmou-nos que tem seu lugar garantido na web, mesmo sem postagens novas se manteve com milhares de acessos mensais, o que nos impressionou! Recebendo novos leitores (as gerações mudam) e novas visitas. Além das pessoas que voltam pra reler ou consultar. Considerando que não temos Youtube, nem Podcast e nosso Facebook e Instagram também diminuíram drasticamente o ritmo em 2020, é um feito que impressiona a nós e mostra como ainda é importante ter um espaço informativo que ofereça conteúdo acessível a todos.


Há quem critique blogueiras e influenciadoras digitais por só produzirmos conteúdo na web (não-físico). O que tenho a dizer é que todas são relevantes sim! É mais do que certo que o que é desenvolvido na web se espalha tanto que chega muito longe, em lugares e pessoas inimagináveis, indo muito além de muros limitantes de casas, escolas e universidades/academia. Ter blog e/ou ser influenciadora digital é colocar em prática o conhecimento de forma pública, à todos. Uma atitude super 'socialista': compartilhar com todos o que se sabe e construir juntos o conhecimento.


Nós prezamos por liberdade intelectual, pensamento autônomo, por isso gostamos de manter um blog: para postarmos o que quisermos, sem amarras. Como Clarice Lispector muito bem fala neste vídeo, acreditamos que a escrita não pode ser forçada, uma obrigação, um cumprimento de metas, a escrita é liberdade. E liberdade é autonomia. Autonomia, já dizia Kant, é termos nossas próprias escolhas através de nossos próprios pensamentos.


Em nossa ausência em 2020 me dediquei a ler e aprender cada vez mais dos assuntos diversos que me interessam: da filosofia ao feminismo, de história política à música, de história à museologia, buscando cada vez mais a autonomia de pensamento e a descolonização - esta talvez o conhecimento mais marcante do ano, ter orgulho de ter nascido na América Latina e cada vez mais exercitar o pensamento crítico sobre o Europeu e Norte Americano que tanto colonizam e imperializam nossas mentes. O ano foi por demais ativo intelectualmente. 


Em 2020 comecei a seguir no Instagram perfis associados aos temas acima, mantendo contato com novos conhecimentos fora da Moda e da aparência. E todos esses temas, embora pareçam não ter nada a ver, tem super a ver com o conteúdo do blog! As conexões mentais feitas durante o aprendizado, serão úteis para aprimorar nosso conteúdo.


Se aprofundar no feminismo fez-me aprofundar na forma como a moda e cultura alternativa está afundada em machismo, misoginia e opressão de gênero. Nós mulheres das cenas alts reproduzimos sem perceber, algumas vezes seduzidas pelo 'biscoito', 'lacração' e 'close' em estéticas que se associam diretamente ao machismo e pornografia. Uma vez que se treina o olhar é difícil se livrar da análise. Queria trazer essas reflexões pro blog no futuro, embora eu saiba que seja uma questão polêmica.


Das conquistas de 2020, uma foi o incrível sucesso da coleção Dark Glamour com a loja Dark Fashion, com peças superelogiadas e superbem vendidas, assim como o sapato Glamour Ghouls com a loja Reversa, que esgotou várias vezes. De fato não tenho do que reclamar desse ano. Estou exatamente onde queria estar: realizada com as lojas, com a relevância do blog e com essa oportunidade de ter me aprofundado em novos, libertários e emancipatórios conhecimentos. 


E teve a superparceria com Henrique Kipper que me ajudou a tornar a revista Moda de Subculturas impressa! Com 54 páginas. Além de, é claro, eu ter escrito mais uma coluna de História da Moda para a quinta edição da Revista Gothic Station! 


Em termos de moda, subculturas e moda alternativa, algumas coisas interessantes aconteceram em 2020, como as tendências que tinham tudo pra abalar o universo da moda e com a pandemia elas foram 'canceladas' (a palavra do ano!). Algumas dessas trends tinham referência a um estilo de vida superburguês. E foi exatamente esse estilo de vida que a pandemia revelou absurdo. Estou cogitando postar sobre uma tendência em específico porque ainda vejo algumas publicações tentando empurrá-la goela abaixo. Tiveram outras tendências bem legais na moda alternativa que com o passar dos meses se tornaram moda. Lembrando que tendência não é o que já está ocorrendo no grande público ou dominando as lojas de nicho. Tendência tende... tende a acontecer, ou não! Às vezes ela não acontece. Mas a gente registra mesmo assim. 


Antes de finalizar nossa cartinha anual, vale dizer que o blog sempre abordou temas políticose um dos pontos que mais alertamos era sobre tomar cuidado com o conservadorismo que é enraizado em nosso país (até mesmo na moda), já que tal forma de controle social não favorece os alternativos e os LGBTs. Em março, um deputado pró governo divulgou um dossiê antifascista - sabe-se que já circulava em grupos de direita desde 2019 - ao acessarmos o dossiê nos deparamos com 90% de pessoas alternativas. Isso acendeu um alerta, confirmando algo que já sabíamos: os alternativos são dos primeiros a serem perseguidos num governos autoritário. Portanto não acreditem em 'nova política'. Não haverá nova política enquanto nosso sistema eleitoral se basear na democracia representativa. 


Outra marca de 2020 e que devemos parar para refletir, foi sobre o contínuo assassinato da população negra. É importante ressaltar que não podemos manter uma mente colonizada e pautar nossas lutas pelos eventos gringos (como BLM), nós deveríamos estar nas ruas lutando contra o racismo e assassinato dos negros PELO MENOS desde a morte de Marielle Franco. Poderíamos estar antes sim, mas o assassinato de uma vereadora eleita, mulher, negra, bissexual e autônoma, foi fato gravíssimo que poderia ter sido o gancho que precisávamos. Falhamos. E continuaremos falhando enquanto só nos espelharmos nas lutas que vem de fora. 


Aproveitando, vale citar o Black Lives Matter (Vidas Pretas/Negras Importam) que foi tão celebrado nas primeiras semanas de protesto e logo depois foi rechaçado pela mídia, famosos e celebridades, que inicialmente os apoiavam. O movimento passou por um processo absurdo de despolitização quando descobriram que foi criado por três mulheres negras, cuja ideologia é o marxismo radical que luta contra a "supremacia branca, imperialismo, capitalismo e patriarcado. Buscando a destruição total da nação como a conhecemos e sua substituição por uma nação socialista"*. Assim que isso foi sabido pelo grande público, o BLM foi enfraquecido e pior, pessoas obviamente brancas e liberais, modificaram o discurso, dizendo "todas as vidas importam".


2020 de fato, não foi/está sendo um ano fácil.

Mas com certeza é um ano que merece uma pausa para reflexão. 


Para finalizar essa carta, vale dizer que foi um prazer tão grande desenvolver os zines em 2019 que estamos pensando em novos zines. Sobre uma nova revista: também não descartamos! 

Mas para 2021 existe um projeto que estamos desenvolvendo e queremos participação de vocês. Divulgaremos em breve em nosso Instagram.


Espero que este resto de ano finalize o melhor possível para todos nós.

E em 2021, continuaremos aqui.


Acompanhe nossas mídias sociais: 

* Informação via Black Lives Matter.

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Artigo original do blog Moda de Subculturas. 
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2 comentários:

  1. Me identifiquei tanto com essa linha de pensamento! Obrigada pela sensibilidade, seguimos juntas!

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    1. Obrigada Melissa! Sabes que és sempre muito bem vinda <3

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