Um dos longas mais icônicos dos anos 90 está completando 25 anos! Impossível deixar batido e em comemoração a data resgatamos mais um texto da Helena Machado onde será feito pequenos acréscimos na pesquisa.
O filme de Tim Burton, “Edward Mãos de Tesoura” é uma espécie de “conto de fadas” gótico. No início, quando Peg chega na mansão empoeirada em que mora Edward, há uma sensação de suspense. A certeza de conto de fadas é enfatizada quando percebemos que a escala da casa e dos móveis não é a mesma escala dos personagens, que são muito menores que a grandeza do local em estilo gótico europeu. Essa cena possui uma influência de filmes expressionistas como “O Gabinete do Dr. Caligari” e “Metrópolis”.
Uma das referências de Johnny Depp na composição de Edward teria sido Conrad Veidt de "O Gabinete do Dr. Caligari"
Edward é uma espécie de Frankenstein, remete à obra de Mary Shelley, “Frankenstein” e também a história de “Pinóquio” e “A Bela e a Fera”. Ao contrário do cientista Frankenstein, o pai de Edward (como em Pinóquio) criou-o com amor para que fosse seu filho. Porém, o pai morre antes de terminar sua obra. E a parte que falta em Edward são suas mãos, no lugar delas ele possui tesouras. Estas acabam cortando o seu rosto até mesmo em um ato simples como se coçar.
Vincent Price como pai de Edward, a última interpretação do ator
"Abrace-me."
"Não posso."
Colleen Atwood é a responsável pelo figurino, a parceria com Tim Burton começa nesse filme. Ela possui uma criação dark e ligada à fantasia que acabou por transformar em uma marca dos filmes de Tim Burton. Colleen é uma figurinista que consegue captar as expressões desejadas pelo diretor, unir essa subjetividade ao elenco e demonstrá-la nas vestes das personagens.
Em relação à fidelidade histórica, o figurino de Edward possui liberdade maior e não é fiel à época em que a história é narrada. Ele é diferente de todos os demais intérpretes do filme. Isso se deve ao fato do personagem ser criado artificialmente e diferente das outras pessoas. O objetivo é ressaltar essa diferença, pois ela será fundamental para a narrativa e coerência da história.
Em relação à fidelidade histórica, o figurino de Edward possui liberdade maior e não é fiel à época em que a história é narrada. Ele é diferente de todos os demais intérpretes do filme. Isso se deve ao fato do personagem ser criado artificialmente e diferente das outras pessoas. O objetivo é ressaltar essa diferença, pois ela será fundamental para a narrativa e coerência da história.
"O que te faz feliz, Edward?"
"The Cure e Joy Division."
Tim Burton e Colleen foram bastante audaciosos e criativos quanto à escolha de um período específico: os anos de 1970/1980 para a criação do figurino de Edward. Ele possui um visual gótico que lembra muito o Batcave ou Deathrocker. Batcave era o nome do bar onde acredita-se que surgiu a subcultura gótica. Um dos traços desse estilo é o cabelo igual ao do Edward. A maquiagem branca no rosto, com olhos e boca “carregados” também são características. O Batcave ou Deathrock possui influências do Punk Rock e temas de filmes de terror. As roupas de Edward, com diversas fivelas, recortes e costuras também são uma referência punk, ao mesmo tempo essa roupa de couro parece “armadura” que dificulta seus movimentos. A roupa compõe a sensação de estranheza e deslocamento que Edward possui na narrativa e em relação aos outros personagens. Parece que a roupa, assim como seu corpo foram feitos de retalhos. Isso faz com que haja mais coerência ao aspecto Frankenstein de Edward. Suas cicatrizes fazem reiterar essa proposta em conjunto com sua maquiagem, cabelos e roupa.
A história acontece no período dos anos de 1950/1960. A filha de Peg, Kim, usa uma silhueta famosa: o “New Look” de Christian Dior com a cintura marcada e saia ampla. Todos os jovens do filme possuem um estilo semelhante aos anos de 1950: suéter, cardigãs de malha, jeans, jaquetas coloridas, bobby socks (meias soquete) e tênis. Um estilo college que teve origem no sportwear. O figurino de Peg, a vendedora do Avon que encontra Edward, é um tailleur de linhas retas, gola e chapéu cor de rosa. Este figurino lembra os tailleurs e vestidos de André Courrèges e Pierre Cardin. As vizinhas também seguem a mesma linha de vestidos de formas retas, algumas com calça cigarrete e suéter, como a personagem Joyce Monroe no início do filme. Podemos observar algumas vizinhas com vestidos trapézio como o lançado por Yves Saint-Laurent e a influência da moda unissex. Também há uma influência dos anos de 1960 nas estampas da roupas. A maquiagem ao estilo sessentista, possui uma ênfase nos olhos e os cabelos com raiz alta impecáveis. Além disso, podemos notar o uso das franjas, como na personagem Kim. Porém, percebermos elementos soltos dos anos de 1980 em alguns cabelos, acessórios e maquiagem.
No figurino masculino, os jovens usam “t-shirts” coloridas e listradas e calças jeans ajustadas. Em oposição aos rapazes, os homens mais velhos como o marido de Peg, Bill Boggs usam o paletó comprido, camisas lisas e estampadas, calça social e bermuda em cores sóbrias. O ator Vincent Price, conhecido por sua atuação em filmes de terror, faz o papel de inventor com um figurino e interpretação que são uma referência aos filmes que ele interpretava nos anos de 1950 e 1960.
O cabelo e a make Vamp de Edward (que demorava duas horas por conta das cicatrizes) tem influência no visual gótico, em especial Robert Smith do The Cure
Já o figurino observa-se referência Punk quando Vivienne Westwood criava roupas voltadas ao universo Fetiche/BDSM. Tanto Edward quanto Johnny Rotten, usam trajes inspirados no Bondage Suit
No figurino masculino, os jovens usam “t-shirts” coloridas e listradas e calças jeans ajustadas. Em oposição aos rapazes, os homens mais velhos como o marido de Peg, Bill Boggs usam o paletó comprido, camisas lisas e estampadas, calça social e bermuda em cores sóbrias. O ator Vincent Price, conhecido por sua atuação em filmes de terror, faz o papel de inventor com um figurino e interpretação que são uma referência aos filmes que ele interpretava nos anos de 1950 e 1960.
Kim com looks anos 50/60 típicos de uma garota americana popular
O contraste estético entre Edward e Peg quando se conhecem
O tailleur que Peg usa no primeiro encontro deles lembra ao famoso Chanel de JacKie O utilizado no dia do assassinato do ex-presidente John Kennedy
Quanto à arquitetura, as casas da cidade são iguais, padronizadas e coloridas. Assim como os carros que combinam suas cores e as pinturas das casas. As roupas dos moradores também são bastante coloridas. Essa padronização faz o contraste entre os moradores da cidade e Edward ser ainda maior. Quando Peg leva Edward para a cidade, ele parece estar muito feliz em ver tantas cores, novidades e um lugar que não parece com o ambiente sombrio em que vivia. A discordância da aparência de Edward e o restante das personagens é interessante porque é também um contraste de caráter. Edward é ingênuo e encantador, possui uma aparência aterrorizante para as pessoas. Alguns moradores chegam a implicar com sua estética diferente do convencional. Mas suas mãos que cortam tudo que tocam também são capazes de fazer coisas extraordinárias e ele começa a ser visto de forma positiva pelo que é capaz de construir. Posteriormente, Edward é acusado de algo que não cometeu, porém é cômodo acreditar em uma pessoa e não em uma criatura estranha que possui tesouras no lugar das mãos. Edward passa a ser visto como um monstro, um perigo em potencial. A partir do momento que não é mais útil para os moradores da cidade, seja cortando os cabelos, pelos dos cachorros ou os arbustos de seus jardins, ele passa a ser visto de uma maneira diferente.
Caindo numa armadilha por inocência, o "erro" de Edward reverbera o preconceito velado dos moradores perante as suas diferenças. O único a ficar ao seu lado é o cachorro.
"As pessoas têm medo de mim porque sou diferente"
O filme de Tim Burton, “Edward Mãos de Tesoura” marcou a história do cinema com o figurino de Edward. Tal caracterização é facilmente reconhecível, parodiada e homenageada. A vestimenta tornou-se imprescindível para a coerência da história narrada, além de não ser estereotipado como um “Frankestein” convencional. Uma das cenas mais bonitas e conhecidas é a de Edward fazendo esculturas de gelo em homenagem a sua amada Kim, enquanto ela rodopia seu vestido. O figurino complementa as belas cenas do filme, sem chamar mais atenção que a história narrada.
Um clássico!
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