Como vimos no post anterior, a chamada geração Baby Boomer, tinha uma sede de mudança e de rompimento com padrões sociais. Eles queriam ser e viver completamente diferente de seus pais, assim saíam as ruas exigindo direitos e liberdade; deram origem à várias subculturas e mudanças estéticas e comportamentais. Esta geração, que está hoje entre os 50 e 70 anos continua mudando o mundo, mas desta vez, com relação aos limites de idade.
Particularmente, acho impossível não associar as grandes mudanças da década de 1960 com o feminismo. Durante muito tempo, em nossa sociedade (machista), quando a mulher entrava na menopausa não contava ao marido, pois era algo vergonhoso. O fim da capacidade de procriar significava o fim de seu sentido de existência. Há 10 mil anos atrás, quando o homem deixou de ser nômade, o machismo "nasceu". Com a moradia fixa e divisão de trabalho na agricultura, os filhos se tornaram força de trabalho, assim, as mulheres, geradoras filhos, viviam grávidas ou amamentando, nasce aí, o conceito de "mãe" e "sexo frágil", e neste contexto fazia sentido a mulher não trabalhar.
Depois de alguns mil anos, quando doutrinas monoteístas surgiram, a ligação da mulher com a natureza e pela capacidade de gerar a vida, incomodava, e aspectos negativos passam a ser associados à elas. A maternidade que ao mesmo tempo é uma dádiva é também o maior peso que as mulheres carregaram ao longo da história. Num determinado ponto, ser mãe era algo tão idolatrado, que nos tempos da renascença criou-se mentalidade que esta era a única forma da mulher se realizar na vida. A frase "uma mulher não está realizada se não vira mãe", vem desde essa época. Romper com pensamentos que nos são ensinados há 500, 10 mil anos não é nada fácil e coube aos Baby Boomers dar se não o primeiro, o mais forte passo em direção às mudanças.
Patti Smith, poetisa, punk, viveu um romance com o fotógrafo gay Robert Mapplethorpe, diz: "eu gosto de envelhecer". Ninguém representa mais o conceito "bitch" (termo comumente associado à mulheres de personalidade e que incomodam) que a amada/odiada Courtney Love. Doro Pesch rompe padrões e se mantém solteira, algo que na geração de seus pais, era negativo para uma mulher. "Swifties" é o termo que surgiu pra designar solteiras acima de 50 anos.
Quando começa a mudar?
Quando as mulheres passam a ter força de trabalho, lá pela virada do século XIX para o XX e logo depois o direito ao voto. Mas a mudança definitiva foi a invenção da pílula anticoncepcional nos anos 60. Pela primeira vez, em 10 mil anos, a mulher pode escolher ou não ter filhos, não ficava mais refém de ficar a vida toda parindo sem poder trabalhar. E este grande passo, se deu na geração Baby Boomer.
Se este fato não tivesse ocorrido, talvez nossa idéia de subculturas e cultura alternativa fossem totalmente diferentes, já que com métodos contraceptivos e inseridas no mercado de trabalho, as mulheres ganharam um voz na sociedade e tinham poder de decisão sobre suas vidas. Sem isso, não haveriam garotas tão ativas nas subculturas, não haveriam as primeiras rockstars, a contracultura, a mini-saia, a era disco e nem as famosas groupies!
Cada um à seu modo, dentro de suas subculturas, os baby boomers Iggy Pop, Alice Cooper e Ed Vedder, influenciaram gerações com suas músicas.
Revolucionando o conceito de juventude
Tudo que pensamos sobre ser coisa jovem ou velho, está virando do avesso.
Hoje, aos no mínimo 50 anos, esta geração está colocando em pratica uma nova revolução: "seja quem você quiser após os 50 e tenha a idade que a cabeça mandar".
"Velho" não é de jeito nenhum a palavra adequada pra se referir à eles, que não lembram nada a imagem física e mental que temos de "avós", seja a plastificada Madonna ou a naturalíssima Jane Birkin.
Quem tem 60 anos hoje, quer no minimo viver até os 80. A Google está criando uma empresa voltada a fazer estudos anti-envelhecimento e já há estudos para gerar medicamentos geroprotetores, que retardam o processo de envelhecimento. Uma das motivações para estas pesquisas não é somente "rejuvenescer" por causa da beleza, mas sim também porque se todos os boomers resolverem se aposentar ao mesmo tempo, os sistemas previdenciários de muitos países quebrariam, pois não haveria forma de sustentar tanta gente. Então pros governos, é interessante e importante que as pessoas mais velhas tenham e mantenham saúde, vitalidade e interesse em continuar trabalhando.
O Baby Boomers tem entre 50 e 70 anos, são pessoas ativas
e não lembram em nada a antiga imagem de "avós".
Quebradores de regras por excelência
Como inventores da juventude, suas cabeças não reproduzem a decadência do corpo. As limitações que seus pais lhes impuseram foram rompidas uma a uma. A internet e as redes sociais ajudaram ainda mais a revolução, pois a web elimina idade, permitindo que as pessoas se identifiquem umas com as outras pelos interesses em comuns, assim, as faixas etárias deixam de ter divisões. No mundo de hoje, graças aos Baby Boomers, idade não é fronteira para nada.
"Se vestir de acordo com a idade" não significa nada para os Boomers,
que adoram romper com as regras impostas pela sociedade.
Para os que acompanham os artistas dessa geração, pouco importa a idade. Não faz diferença. Boa energia, vitalidade, criatividade, ousadia... e trabalhos que ainda influenciam o modo como pensamos.
Cabelos coloridos, minissaia, couro, botas de cano alto...
as regras ditadas pela moda caindo uma a uma...
as regras ditadas pela moda caindo uma a uma...
O Manifesto de Sue Kreitzman*
Sue Kreitzman é uma artista plástica e culinarista. É filha do primeiro ano de nascimento dos Baby Boomers. Ela tem uma casa incrível em Londres (como vocês podem ver no vídeo) e fez um manifesto, que transcrevo abaixo.
"Não use bege, ele pode te matar.
Ouse ser vulgar.
Evite minimalismo como uma praga.
Ignore os preceitos de "medonho" e "bom gosto".
viva e trabalhe "fora da caixa"
Ou - se você precisa viver dentro da caixa - decore-a com brilho, guirlandas com ornamentos vistosos e jogue tralhas e fascinantes inutilidades em todos os cantos.
Nós somos espalhafatosos.
Nos somos desprezíveis.
Nós somos velhas selvagens e alguns poucos velhos selvagens
e estes são os mantras que vivemos"
Um pouco de sua casa artística e ela lendo o manifesto:Ouse ser vulgar.
Evite minimalismo como uma praga.
Ignore os preceitos de "medonho" e "bom gosto".
viva e trabalhe "fora da caixa"
Ou - se você precisa viver dentro da caixa - decore-a com brilho, guirlandas com ornamentos vistosos e jogue tralhas e fascinantes inutilidades em todos os cantos.
Nós somos espalhafatosos.
Nos somos desprezíveis.
Nós somos velhas selvagens e alguns poucos velhos selvagens
e estes são os mantras que vivemos"
O Estilo na terceira idade
A Sue é uma das seis senhoras entre 73 e 91 (são parte da Geração Silenciosa) anos que fazem parte do documentário Fabulous Fashionistas. Notem que estas senhoras não nasceram dentro das datas consideradas geração Baby Boomer, nasceram até 20 anos antes, porém é preciso levar em conta que enquanto os Baby Boomers estavam entre os 15 e 25 anos, estas senhoras estavam na faixa dos 30/40, então elas viveram toda a revolução, talvez não tenham feito parte diretamente mas as conquistas dos Boomers as afetaram indiretamente pra toda vida. A ideia fundamental de Fabulous Fashionistas é deitar por terra estereótipos de velhice, não apenas no que diz respeito ao visual mas também à moda, há quem aponte o documentário como uma “semente da revolução”.
As participantes do documentário:
Sue Kreitzman, 73 anos; Jean Woods, 75 anos (falo dela a seguir), cabelos brancos, ama coturnos Dr. Martens e as lojas Topshop e Urban Outfitters - voltadas para os adolescentes; Gillian Lyne, 87 anos, ama mini-saias e trabalha sem parar desde os 40 como coreógrafa responsável pelo Cats e pelo Fantasma da Ópera; Daphne Selfe, 85 anos, é modelo, um tempo atrás umas fotos dela circularam no facebook. Ela foi redescoberta com 70 anos, e tem contrato com uma grande agência de modelos internacional. As outras duas participantes são Bridget Sojourner, 75 anos e Jean Barker ou Baronesa Trumpington de 91 anos. Vocês podem assistir o doc completo aqui (não consegui incorporar no post):http://tune.pk/video/973051/Fabulous-Fashionistas-2013
Blogs revolucionários:
Advanced Style - Um blog simples e direto, Advanced Style de Ari Seth Cohen, é focado em street style, mas não de jovens, de senhoras e senhores acima de 60 anos. É dele as fotos de rua que ilustraram o post. A revolução que o Advanced Style fez foi levantar a questão de moda na terceira idade. Como já falamos, antes, as pessoas mais velhas eram anuladas na sociedade e nem se pensava em falar de moda sobre elas. Em tempos atuais, estudos vem sendo feitos sobre esse nicho de mercado que tende a crescer, pois todos nós envelheceremos e como adoramos moda, precisamos ser representados por marcas no futuro.
Trailer do filme que Ari fez sobre as senhoras que aparecem em seu blog. Aproximadamente a partir dos 2:00min, elas dizem frases interessantes como: "gosto de estar mais bem vestida que o resto das pessoas"; "se as pessoas não gostam de como estou vestida, eu não dou a mínima"; "Porque as pessoas tem tanto medo de fazer o que as outras pessoas não estão fazendo?" (da incrível Iris Apfel); "Eu não quero me parecer com todo mundo"; "Por um lado todos se parecem com todos e por outro, todos pensam que são indivíduos...".
The Idiosyncratic Fashionistas
Jean e Valerie são donas do blog The Idiosyncratic Fashionistas. Vocês podem ver elas falarem sobre seus estilos no vídeo abaixo. Segundo elas, "envelhecer "graciosamente" é um conceito ultrapassado. Preferimos envelhecer com verve. Este blog documenta os nossos esforços para viver de acordo com esse lema, em fotos e ensaios."
No vídeo abaixo, é engraçado quando Valerie (a de azul) fala que antigamente shorts curtos se chamavam simplesmente "shorts curtos" e não "hot pants". E isso é verdade, a moda relê roupas do passado e muda os termos pra parecer que são peças novas. Mas no fundo, é a mesma coisa...
E aqui, um video do blog delas, ensinando a fazer um turbante com uma legging (de pés fechados). Estas senhoras não deixam nada a desejar em termos de criatividade!
* Trecho atualizado dia 18/04/2014
Fontes, Consultas: "Super 50´s" - Revista Elle, agosto 2013; e "Age Free", Elle, fevereiro 2014.
Fotos Google e Advanced Style.
Artigo das autoras do Moda de Subculturas. É permitido usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, para isso precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Compartilhar e linkar é permitido, sendo formas justas de reconhecer nosso trabalho. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É proibido também a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, porém, a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.
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ResponderExcluirVocê me perguntou no meu blog pessoal e eu respondi lá =D
ExcluirOlha, não faço idéia se existe um curso melhor que o outro, sei que o que varia é o foco. Vai depender do rumo que quiser dar à sua carreira. Eu fiz Design de Moda pq é mais abrangente, tem curso que foca mais em criação (formam estilistas) mas 90% do que escrevo no blog NÃO aprendi na facul hahaha! É tudo pesquisa minha mesmo, até o que escrevo no blog de história da moda. XD
Sou fã do teu blog, adoro os posts, sou alucinado por história da indumentária, e ler aqui me faz lembrar a disciplina da facul. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada! =D
ExcluirSério, que postagem linda!
ResponderExcluirÉ graças aos Baby Boomers que hoje nós podemos o que quisermos! Fora todas as conquistas que alcançaram para nós, ainda podemos tê-los como inspiração para não desistir de nossos ideais e nem de nossa identidade, não importa que idade tenhamos.
Adorei!
Siiiim! Graças à eles terem saído às ruas, ousado lutar e desobedecer a ordem, podemos ser o que somos hoje! São inspiradores!! =D
ExcluirLindo post como sempre.
ResponderExcluirQuanta gente linda,estilosa,e a felicidade deles é nítida!
Siiiim! =D
ExcluirOlá. Descobri seu blog recentemente e estou adorando tudo! Este post veio me ajudar numa reflexão que vinha tendo há algum tempo: onde está a nova revolução cultural? Ficava até triste em pensar que não havia nada mais para contradizer, para se rebelar, parecia que o mundo estava pronto aí para todos, a batalha já havia sido enfrentada em gerações passadas. Por vezes também me vinha ao pensamento sobre as pessoas que estão na terceira idade e percebia: esse lance de 3ª idade parece que não existe mais. Meus ídolos do rock ainda têm a energia dos 20 anos, nao consigo vê-los em seus 60´s ou 70´anos. Nesse ano faço 36 anos e não me sinto como alguém de 36 anos deveria ser (ou como dizem para ser), sei lá, acho que estou ainda na adolescência. Estou esperando a fase do adulto sério chegar. Será que sou imatura? Enfim, só sei que nas minhas reflexões nao entendia nada na geração atual, parece tão massificada, tão repetida, sem nada para lutar (acho que tudo já veio pronto para eles), sem nada de novo para oferecer em questão de mudança cultural. Agora com o seu texto, passo a entender estava procurando o novo na geração errada. Quem comanda a nova mudança cultural são os baby boomers, aqueles que mudaram os rumos da juventude do mundo, agora mudam os rumos da antiga terceira idade. Vovó e vovô ficaram no passado.
ResponderExcluirObrigada pelas palavras, muito legal sua história!
ExcluirEu adorei o "estava procurando o novo na geração errada."! Como você disse, o espírito rebelde deles continua, até na terceira idade! =D
Em nada me pareço com minha avó. Na minha idade, ela era muito doente. Triste. Olhar distante. Os netos nem a vistavam. Eu estava sempre por lá. Ela me falava de suas lembranças: boas e ruins. Comovida chorava e ria. Mas havia um detalhe. Sempre bem vestida. Lembro de suas roupas, bem talhadas, feitas para a sua idade. Andei levando uns tombos, mas frequento a piscinas e de bikini, ando de shorts e rio de forma escandalosa. Recebo bem os sorrisos de simpatia do sexo forte. Não exijo idades. Mas tem que ser lindos, ou ter algum charme. Fui paquerada por um menino, creio tinha uns 6 anos. Um amor. Foi a minha mais alta paquera. Até hoje rio muito. Sentada na piscina, tarde muito quente. O vento muito forte jogava com força a água do chafariz. Levantava ondas. Nisso notei que um preguinho me olhava e olhava. E falava comigo e com um bracinho pra trás outro pra frente tentava ir para junto de mim. O vento e a água o impedia. Gritei algumas palavras: sabes nadar, mergulhar. A boca era um biquinho. Com tava queridinho e fashion de bermuda pra baixo do joelho. E que galante!! elegante. Ria-me às gargalhadas, Depois aquietei-me, pois ele estava fazendo um esforço danado, cansado respirava com sofreguidão. Tenho a idade do momento, se converso com menininhas de 2 ou 3 anos. Tenho essa idade.Surgiu um estranho ódio contra o PT em muitos âmbitos da sociedade: suspeito que esse ódio é porque as políticas públicas permitiram aos pobres usarem o avião e visitarem seus parentes no nordeste, que conseguiram comprar seu carrinho e entrar num shopping moderno. O lugar deles, dizem, não é no avião mas permanecer lá na periferia, pois esse é seu lugar. Mas eles foram integrados na sociedade e em seus benefícios.
ExcluirDevemos aproveitrar as oportunidades que os países centrais em profunda crise nos propiciam: reafirmar nossa autonomia e garantindo nosso futuro autônomo mas relacionado com a totalidade do mundo ou desperdiçá-las e vivermos atrelados ao destino sempre decidido por eles que nos querem condenar a sermos apenas os fornecedores dos produtos in natura que lhes falta e assim voltam a nos recolonizar.omo Lia Lufit numa de suas crônica detesto todos esses termos: melhor, idade, 3a idade, idoso, velho, velhice. Tenho e sou do momento. Em todas as idades o mais importante é sentir-se bem e participar e comunicar-se, alegrar-se. Devolver sorrisos, pois a natureza nos sorri linda, brilhosa, colorida e perfumada. Hunh! que sabor é saber viver!