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21 de outubro de 2014

Caveiras e Esqueletos: Moda e Tribos que se Conectam

Com o Halloween e o Dia dos Finados (Zombie Walk) próximos, este é o momento perfeito para comentar sobre a tribo Omo Masalai, da Pápua Nova Guiné. Mais especificamente, o que nos fez reparar nesse povo é o festival que denominam de Sing Sing, onde pintam seus corpos com desenhos que lembram zumbis para assim apresentarem suas danças da morte. É realmente impressionante a estética desse ritual porque logo nos remete ao cenário alternativo, da qual muitas pessoas traduzem, à sua maneira, o esqueleto humano, seja ele por maquiagens, eternizando em sua pele por meio da tatuagem ou simplesmente vestindo uma roupa estampada com ossos. E são dessas interpretações que vamos fazer a ligação entre tribos e culturas tão distintas, mas que de um modo fantástico acabam se unindo.

Omo Masalai; imagens que falam mais do que palavras

A preparação para o ritual:

Moda Mainstream:
Ao contrário do que muitos possam pensar, foi a moda mainstream que reproduziu em costuras as primeiras formas do esqueleto. A década de 20 foi uma época marcada pelo surrealismo e o fascínio por temas mais obscuros, proibidos. Foi durante a efervescência cultural que a estilista Elsa Schiaparelli em parceria com Salvador Dalí, criou o vestido esqueleto em 1938, para sua coleção Circus. Isso daria o início das variedades de peças que iríamos ver ao longo do século XX inspiradas nas caveiras.

Vestido esqueleto de Elsa Schiaparelli

Cinquenta anos depois, Alexander McQueen faria sua versão na Primavera de 98.

Já na Primavera de 2009, Christian Lacroix daria moldes de ossos os acessórios da sua coleção.

Dior na Alta Costura de Outono 2000, ainda sob comando de Galliano, em referência às caveiras mexicanas. DSquared2 Inverno 2010 e a bota com salto de vértebras. O colar de Yaz Bukey inspirado na África, Primavera 2012.

O vestido com aplicação de um bordado em forma de costelas assim como o vestido com as costelas formadas por tiras de tecido, ambos da Dsquared2 em 2010, são peças que foram muito copiadas por marcas alternativas desde então (3º foto).

Na Alta Costura de Inverno 2011, Iris Van Harpen cria uma nova forma para o vestido esqueleto. No ano seguinte, o modelo seria usado pela Chanel nas fotos da exposição The Little Black Jacket.

Jean Charles Castelbajc dando irreverência ao desenho
 na passarela Inverno 2011.

A moda alternativa com toque mainstream de Betsey Johnson, onde volta e meia usa a estampa nas coleções. Aqui, Primavera 2011 e Inverno 2012.

E coleção Primavera 2012.

Nas Subculturas
Quando voltamos às subculturas, pode-se imaginar que ao ver imagens da tribo Omo Masalai, tenha vindo na memória a imagem de Rick Genest, ou Zombie Boy. A estética do canadense tem uma representação específica sobre a morte. As tatuagens demonstram sua transformação em zumbi, algo que ele se identificou na infância. Como disse em entrevista: "Minha arte corporal representa anarquia. Parecer estar morto enquanto vivo, é desafiar as próprias leis da natureza".

Zombie Boy na revista Rebel Ink de 2013

Porém, antes da existência de Genest, as provocações do movimento Punk a sociedade conservadora faria surgir artistas que se apresentariam com rostos pintados de caveira, é o caso de Michale Graves, ex-Misfits. A maquiagem é inspirada nos filmes B de terror das décadas de 1950 a 1970. A estética do americano se destaca como influência nas subculturas, principalmente pela importância que a banda tem no rock. Sua imagem é muito difundida no meio alternativo, sendo bem provável que também sirva de referência na beleza de certas coleções de moda. 

O cantor compondo o visual horror punk.

Algumas imagens de sua aparência pós-pintura. Além do rosto, Graves também usava peças de roupa com a estampa. Veja que ele se interliga a tribo mesmo não sendo próximos.

 Kyary Pamyu Pamyu e sua versão Kawaii. Segundo entrevista, a cantora diz amar filmes de terror, além de ter muitos lados obscuros.

Na moda alternativa, foi em meados dos anos 80 que a estampa de esqueleto teve seu ápice, quando Axl Rose - no auge do Guns N' Roses - surge com a jaqueta estampada por ossos. Com a grande evidência que o cantor tinha na época, o desenho alcança o mesmo e assim centenas de reproduções.

Axl Rose e sua famosa jaqueta.

Surgida em 2006, a marca cult e underground Kreepsville 666 tem seu foco voltado a criar peças sob temas de horror. Foi ela que reviveu, na cena alternativa, a ideia de um vestido-esqueleto, sendo super copiado depois. As mãozinhas de esqueleto também foram popularizadas por eles.


A estilista alternativa Louise Black vende suas peças artesanais pelo Etsy desde 2006. Ela é a responsável pela criação do corset-camafeu, esta peça autoral é uma das mais copiadas por marcas alternativas desde então.


As criações de Louise Black e Kreepsville influenciaram outras marcas a criarem peças com grandes estampas de esqueleto, como as versões da Restyle e Sweet Carousel Corsetry:


A Black Milk foi uma das pioneiras ao lançar 
a trend do body/maiô esqueleto alguns anos atrás.

Pouco antes da ascensão de Zombie Boy na mídia após desfiles Mugler e no clipe Born This Way de Lady Gaga, Alexandre Herchcovitch havia colocado modelos com makes de caveira no Inverno 2010 de sua marca masculina. O visual facial era reflexo de um dos temas da coleção: a Morte.


Já para o Inverno 2014, Luella Bartley e Katie Hillier fizeram do conceito Girl Power uma coleção com referências de luta, e assim lenços com a estampa surgiram, mostrando que a figura ainda permanece com força no mainstream.

Campanha e desfile da marca

Claro que há muitos mais exemplos da gravura se difundindo na estética fashion, mas o interessante é observar a visão de cada estilista, subcultura ou tribo transmitem a ideia de Morte ou de memento mori. Diante das diferenças culturais existentes e que passam a impressão de grande distância entre eles, um mesmo assunto acaba os conectando e expondo que no fundo somos seres humanos inerentes ao tema. 

Em especial as subculturas, onde dizem que as mesmas estão em extinção pela rápida absorção do mainstream sobre elas, relacionar-se com uma tribo não colonizada, pode resultar em novas criações que as façam continuar contrapondo-se à cultura dominante. 


* Artigo original do Moda de Subculturas. Para usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos, achamos gentil linkar o artigo do blog como respeito ao nosso trabalho. Tentamos trazer o máximo de informações inéditas em português para os leitores até a presente data da publicação.
Todas as montagens de imagens foram feitas por nós.
Fotos: Google.

29 de abril de 2014

O trabalho visionário de Nicola Formichetti e sua parceria com a Diesel

A parceria entre Nicola Formichetti com a Diesel vem nos chamando a atenção ultimamente. Desde que virou diretor criativo da empresa, nota-se que alguns assuntos podem ser relevantes ao cenário alternativo e que ainda não foram enfatizados como deveriam, ou simplesmente analisados com mais detalhe.
Sobre Formichetti, seu currículo é bem chamativo. Está nesse circuito há mais de uma década, com passagens pela revista Dazed and Confuzed e em grifes como Thierry Mugler. Possui multifaces na moda, mas seu grande reconhecimento é como stylist. Foi ele quem alavancou a carreira de Lady Gaga cuidando de seu visual por três anos a partir do clipe Bad Romance. E de sua ex-assistente, a stylist Anna Trevelyan (ela comandou a última campanha da Melissa e hoje é um dos nomes mais influentes na área).

Formichetti é nipo-italiano, morou em Londres e diz "Não se pode julgar uma pessoa pela forma que está vestida, nem por aquilo que faz, porque talvez não tenha dinheiro para expressar-se como gostaria." 


Formichetti foi o responsável por criar o visual de Gaga...

... e deu um empurrão na carreira de Anna Trevelyan para os holofotes da moda.


Quando trabalhou na revista Dazed and Confused, Nicola, que nasceu no Japão, criou editoriais como este, com a participação de Kyary Pamyu Pamyu entre outras cantoras japonesas e chinesas.
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Em entrevista à Elle Americana, ao ser perguntado se gostaria de fazer roupas relevantes, deu a seguinte opinião: “Eu estou na moda há dez anos e acho que o sistema é um pouco antiquado. Eu quero fazer coisas novas. Há tantas coisas que eu tenho visto por um longo tempo, quero dar espaço aos jovens, quero criar coisas que são excitantes, quase como Rick Owen fez (coleção Verão/13)”.

Nicola gosta de abrir portas para pessoas que por algum motivo a indústria continua a ignorar. Chegou a declarar à Vice que não trabalha por dinheiro e sim por amor e criatividade. É provável que por esse motivo, nas suas atuações como stylist ou diretor criativo, não é dado só espaço a corpos mainstream. Encontram-se curvas de todos os tipos, acompanhados de tattoos, cabelos coloridos e sem distinção de raça, gênero ou deficiências.


Em suas campanhas para a Diesel, Formichetti dá espaço à pessoas que não tem o rosto ou o corpo padrão. 
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Uma das pessoas que Nicola abriu as portas foi Rick Genest, o Zombie Boy. Descoberto em 2010 quando Nicola era diretor criativo da Mugler, Rick virou sensação, estrelou a campanha da marca e logo participou de vários desfiles e de claro, um clip com a cria estética de Formichetti: Lady Gaga.


Só que essa não é uma visão nova. Em toda linha histórica da moda, sempre existiu alguém que foi visionário, que não se importava em romper padrões. Em 1947, Diana Vreeland – considerada a maior editora de moda - ao ver expressões de choque por colocar uma modelo de biquíni no editorial da Harper’s Bazaar, diria tal frase: “É esse tipo de pensamento que faz a sociedade voltar mil anos!”.
Nas passarelas o espírito perpetuaria em estilistas como YSL, Westwood, Gaultier, McQueen e outros mais. O que impressiona é que, mesmo depois de tantos exemplos importantes, uma parte da indústria parou em certas questões sociais, chegando ao ponto de retroceder e necessitar de gente como Nicola para repetir, ou relembrar, o discurso de Vreeland. Colocar alguém que não carrega os estereótipos fashion ainda pode ser considerado uma ousadia.

Há barreiras a se quebrar, e Nicola sabe muito bem disso, pois sente na pele. Quando indagado pela Elle sobre encontrar uma garota incrível e que vai ser um futuro sucesso, porém ver que as grifes ainda não querem emprestar roupas (atitude comum no Brasil) responde: “É meio frustrante. Mas de certa forma, eu sou atraído por isso. Sinto-me atraído por alguém que é um pouco estranho. Fico animado por estar com eles e fazer algo junto, é quase como dizer: "f *da-se" à indústria. Eu não me importo. Mais ou menos como: Se você não nos quer dar roupas, eu não me importo, temos McQueen de qualquer maneira”.

É comum novos artistas que carregam em sua essência o alternativo, sofrerem preconceito da indústria pelo o tipo de imagem que propagam. Incompreendidos e sem oportunidade, muitos acabam não saindo do underground. Alguns não se importam, mas outros carregam a decepção por não terem tido a chance de conquistarem um espaço maior e serem mais reconhecidos pela sua arte.
Sabendo o quanto as referências de moda podem interferir no comportamento do ser humano, é importante que o consumidor questione a indústria. Afinal, se somos diferentes, por que não transmitir isso? E é nesse ponto que o mercado alternativo aparece.

Na abertura de sua exposição em Londres, Gaultier fala a em entrevista a Globo que “a Inglaterra e o Japão são os países com maior individualidade. Existe um culto a diferença”. Não à toa, na mesma entrevista à Elle citada acima, Nicola conta que é obcecado pelo Japão e que o próprio fundador e presidente da Diesel, Renzo Rosso, vive por lá.

A maioria das grandes tendências atuais sai desses países e são copiadas ao redor do mundo, exatamente pelo fato da busca ao “diferente” e que, de certo modo, terminará no encontro do “novo”. Interessante é que esses países também concentram enorme força no mercado alternativo, por justamente não terem problema em aceitar o incomum.

O incomum na campanha Diesel Tribute/Leather
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Fechando esse ciclo, vamos mostrar algumas imagens do último desfile da Diesel + Formichetti, que aconteceu no início de Abril em Veneza, Itália. Reparem na quantidade de elementos punks, bondage e grunge na coleção. E também na sua nova queridinha, a rapper Brooke Candy, uma das garotas-propagandas da marca. 

Desfile, clique para aumentar.




Campanha Diesel Accessories com Brooke Candy.

Ao contrário de outros estilistas que "usam" as subculturas, Formichetti tem um genuíno interesse e respeito, e de forma nenhuma suas campanhas tratam os alternativos como seres repulsivos; ao contrário, ele aprecia explorar o lado mais original de cada um deles.

Leia também, posts do blog relacionados ao tema Formichetti, Mugler, Zombie Boy:
- Mugler e Zombie Boy
- Zombie Boy, Hard to be Passive
- Moda Conceitual, Artistas, Thierry Mugler
- Em busca da diferença



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5 de junho de 2012

Zombie Boy na Gore Noir

A revista especializada em temas de terror e gore, a Gore Noir Magazine, tem sua quinta edição dedicada aos zumbis. E na capa, claro, só podia dar ele: Zombie Boy.
Gosto de ver ele trabalhando pra publicações alternativas - como fez recentemente para a Elegy - e deixando um pouco de lado os trabalhos mainstream. Abaixo algumas fotos usadas na matéria, clicadas pelo fotógrafo Kobaru.
Mais sobre Zombie Boy AQUI.

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