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10 de dezembro de 2014

Por que os anos 90 estão tão em voga?

Que os anos 90 estão aí, relidos até não poder mais a gente já sabe. Embora as décadas de 1950 a 1970 também estejam dando as caras, a década de 1990 parece ter uma referência - às vezes até literal - mais forte e presente dentro das tendências tanto mainstream quando as nascidas entre os hipsters.

Dentre o que foi moda nos anos 90 e que agora aparece como tendência, podemos destacar os vestidinhos ao estilo camiseta ou Kinderwhore, cropped tops, sandálias de plástico, sapato boneca, referências clubber/holográficas/neon, tattoo chocker, plataformas, sapato com meia, o grunge que resgata o minimalismo básico da época com silhuetas específicas, o uso de tênis como calçado pra todas as horas, maquiagens mais "naturais", cabelos na alturas dos ombros...

O filme "Patricinhas de Beverly Hills (Clueless)" representa bem a moda juvenil da época: uma mistura de referências dos anos 60, grunge, esportividade, roupas em formas simples.


Mas porque será que tá rolando esse interesse tão "completo" pela década?
Não fiz uma pesquisa sociológica antropológica filosófica sobre o assunto, mas vivi os anos 90 todinho - minha adolescência foi naquela época - e o que posso dizer é que: 

Naquela época, o slow fashion era real! 
A gente só consumia o necessário, não havia um consumismo exagerado como sendo o padrão comportamental. Lojas de departamento ficavam em grandes cidades, o fast fashion não imperava embora já existisse. As roupas não eram tão baratas porque não tinha tanta oferta asiática, muito era feito aqui mesmo. E pareciam durar mais em termos de qualidade, tanto que a gente até repassava pra outra criança da família. Hoje, as roupas se estragam tão rápido que algumas não tem condição de serem doadas! Voltam à natureza como lixo.

A gente não tinha internet e tinha tempo pra fazer coisas, até sobrava tempo!
Pra conversar com seus amigos você tinha que telefonar ou encontrá-los pessoalmente, não à toa, na minha cidade, à tarde, as ruas ficavam cheias de gente jovem (porque estudávamos de manhã) conversando e andando ou sentadas nas calçadas da frente de suas casas em grupinhos batendo papo até o anoitecer. Hoje, não é tão usual ver grupos adolescentes nas ruas de minha cidade à tarde, imagino-os todos em casa, na frente de seus computadores...


As lojas de moda alternativa aqui do Brasil ainda não tinham o formato de hoje.
Haviam as lojas rock que vendiam camisetas de banda, acessórios e coturnos e as lojas da Galeria do Rock pra quem fosse pra SP. Nada de lojas online com coleções anuais onde a gente podia montar nosso visual, por conta disso, a gente comprava nossas roupas em lojas mainstream e customizava! 
Usávamos a criatividade pra "copiar" um look de uma subcultura que a gente se identificava ou de um artista que gostávamos, peneirando peças aqui e ali. 
Pela gente ser meio "forçado" a se virar pra desenvolver nosso estilo, nossa relação com a moda era mais intensa, nós treinávamos o olhar pra encontrar a peça certa.

Não queríamos ser lindas... era necessário ter atitude!
A gente queria ser estranha. 
Ser linda era apenas um detalhe já que a diferenciação quebrava com os padrões de beleza pré estabelecidos.
Quanto mais diferenciação você trouxesse na sua aparência, mais legal era!
A verdade é que seu comportamento importava mais que sua aparência. Se destacava quem tinha atitude. E aquelas garotas com atitude eram as garotas que queríamos imitar o comportamento ou ser do grupinho. Não interessava a marca da roupa ou da maquiagem dela. 

Nancy, personagem de Fairuza Balk em "Jovens Bruxas (The Craft)" é uma amostra de como ter atitude era importante para uma garota.

Maquiagem mínima!
Se você fosse gótica, com certeza sua maquiagem seria elaborada, afinal, uma boa maquiagem é parte da estética dessa subcultura, mas se você não fosse, sombra, olho preto e batom. Nada mais.
O minimalismo da maquiagem era real, o natural era realmente natural.
Teve épocas que apenas eu na sala de aula usava maquiagem, nenhuma outra garota usava. Eu usava só porque eu era "do rock" e fazia questão de usar meu batom e meu lápis de olho. Só! 

Maquiagem alternativa da época: delineador ou lápis e batom escuro.
 

As Kitties eram garotas de peso e atitude, a maquiagem pesada delas não se compara com a maquiagem pesada de hoje.


Ser magra poderia ser um desejo mas não uma fixação.
Claro que as mulheres queriam ser magras isso é antigo, e muito se fala da magreza da Kate Moss naquela década. Mas a real é quanto você olha pra Naomi Campbell, Claudia Schiffer e outras tops da época, elas eram magras, mas não eram esqueléticas, aquele era meio que o "padrão" de corpo de uma modelo.
A magreza de Kate era uma coisa que nós, garotas reais dos anos 90, não éramos fissuradas. Era uma coisa distante sabe? 
Não tinham fixado na nossa cabeça que estávamos gordas mesmo estando magras e não tinha photoshop emagrecendo e afinando partes do corpo numa capa de revista.


Top models na campanha de Versace. 
Essas coxas seriam consideradas "gordas" para uma modelo dos dias de hoje?



Talvez seja tudo isso que o mundo esteja sentindo falta, sabe?
De mais naturalidade, espontaneidade, menos pressão estética, de mais tempo ao tempo...
O interesse pela década seria meio que ao mesmo tempo uma nostalgia e uma resposta aos excessos da estética atual, onde existe muita artificialidade, desperdício e ostentação. 

Mas não seria uma contradição fazer da simplória década e 1990 um objeto de consumo fast fashion?
Será que esse interesse pela década não é interesse em nos vender um novo estilo de vida pra gente consumir?

E vocês já tinham nascido nessa década? Quais as memórias que vocês tem da moda/estética?

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7 comentários:

  1. Caramba...rolou até uma lágrima de canto de olho...lembranças de um tempo diferente, onde o fazer era mais que ter, o ser era mais que aparecer. Lembro de camisetas de colégio assinadas pelos colegas, vigília na banca para comprar revistas com pôsters, trocar os cadarços dos tênis e pintar com caneta permanente. Pintar boca com batom de coco e as unhas com esmalte Café pq não achava mais escuro que isso. Amarrar lacre da latinha na bolsa, cortar gola e colocar alfinete de segurança...Pintar a boca com canetinha! Coturno só na loja do exército, e tinha que customizar em casa, na raça (meus pés doem de lembrar hehehe). Camiseta de banda era rara, usava pra ir no show e não queria nunca mais lavar...Eu chorei de saudade. Eu faço muitas destas coisas até hoje. Não quero nunca deixar este espírito morrer em mim.

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    1. Saba Vívien, eu adooooooro os dias de hoje, mesmo!
      Mas tenho extrema dificuldade de me adequar à certos hábitos especialmente o de consumo e descarte, eu acho que como minha cabeça começou a ser formada naquela década e da forma que eu fui educada, hoje, mesmo querendo, eu não consigo ser consumista nem ostentar, nem ficar fazendo lixo. E dou um viva aos 90s por isso!!
      E eu fiz a maioria das coisas que vc citou kkkkkkk - coturno em loja do exército ou da polícia era de praxe!!

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    2. Também gosto dos dias de hoje Sana. Hoje conheço mais gente que pensa como eu, graças a internet. Bandas novatas tem mais chance de ganhar espaço, por causa do Youtube. Tem tantas coisas legais!
      Mas quando vejo este consumismo louco, este negócio de "preciso deste batom pra ontem" me arrepia os cabelos! Não fui criada assim, que nem vc, e sinto tristeza de ver a geração 2000 da minha família, que não viveu este tempo, não achar meu modo de vida algo possível ou até mesmo normal.
      ;(

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    3. Sim, essa foi uma grande vantagem da internet! Por exemplo, eu era uma fã da Doro solitária, de repente conheci milhares de outros fãs graças à ela o/
      Nossa tb não sou muito desse pensamento do "tenho que ter djá" e vamos ver o que a geração 2000 prepara pra nós, mas ainda dentro da geração Y, a "geração bocejo" tem uma linha de comportamento que preserva alguns costumes da era pré internet.

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  2. Minha infância foi na década de 90 e eu sinto falta de tudo isso. Sempre que eu assisto um filme dessa época dá uma nostalgia. Essa foi uma época gloriosa!!

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    1. Fui criança na década de 80, parte de 90 e sei beeeem a nostalgia que os filmes da época trazem! Eram ótimos tempos sem preocupação hahaha :D

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  3. Acho que os 90's a década em geral é incrível pelos comerciais que ainda estão no nosso inconsciente como também os filmes que eram quase que mágicos de tão criativos e sem falar nas musicas e artistas que surgiram durante esse tempo.além do mais a tradicional nostalgia que rola quando se passa quando uma década comemora vinte anos.

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