Se existe algo que herdamos da década de 1930 foi a consciência
corporal que se refletiu na sensação de liberdade de movimentos. E uma das peças que surgiu no período foi a frente única. Na coleção "Dark Glamour", que criei em parceria com a loja Dark Fashion, desenvolvemos uma blusa frente única chamada "Dóris", neste post apresentarei de forma breve a história da peça! Acompanhem.
A cantora Shirley Manson usando uma frente única de tecido metalizado, que foi moda no fim dos anos 1990 e começo de 2000. A cantora também usa um short no modelo "hot pant", que você pode ler a história da peça clicando aqui.
A blusa que criei em parceria com a Dark Fashion, recebeu o nome "Dóris" em referência à Doris Day e seu icônico vestido frente única azul no filme "Ama-Me ou Esquece-Me", de 1955.
Contexto Sócio-Histórico
Se na década de 1920 a jovem era andrógina e ousada, na década de 1930 ela cresceu e se tornou uma mulher que fez uso dos conceitos construídos de feminilidade, retornando sua cintura no lugar e usando bainhas longas. Basicamente a garota de 20 anos chegou aos 30 anos e queria deixar pra trás a rebeldia andrógina.
A década de 1930, fortemente marcada por uma grande crise econômica resultada da quebra da bolsa de valores americana em 1929, fez com que as pessoas buscassem formas de fuga da dura realidade. Uma dessas fugas foi o cinema, a outra foram os balneários.
A década de 1930, fortemente marcada por uma grande crise econômica resultada da quebra da bolsa de valores americana em 1929, fez com que as pessoas buscassem formas de fuga da dura realidade. Uma dessas fugas foi o cinema, a outra foram os balneários.
Mulheres vestindo frente única nos balneários, o lazer foi a fuga dos tempos de crise econômica.
O corpo feminino ideal tinha proporção de deusa, a mulher dos anos 1930 deveria fazer dietas, exercício físico, manter-se meticulosamente arrumada, usar maquiagem, fazer pedicure devido à exigência da moda de sandálias abertas e ter cuidados com a pele. Parece que falamos das exigências de beleza dos dias atuais, não é mesmo? Veja há quanto tempo reproduzimos a mesma ideia sobre o que é a mulher estar 'arrumada adequadamente'!
Para manter o corpo saudável eram recomendados os exercícios físicos e esse corpo era exibido nos balneários em pijamas de praia e trajes de banho fechados na frente e abertos atrás, visando exibir o bronzeado. Era um escândalo pois pela primeira vez uma parte do corpo da mulher era explicitamente exibida. Estes trajes diurnos de lazer inspiraram os vestidos de noite, onde as costas bronzeadas eram exibidas.
O bronzeado saudável adquirindo durante o dia na praia deveria ser exibido à noite, em vestidos que revelavam costas e braços.
A mulher dos 1930 precisava acompanhar a silhueta da moda, que consistia de ombros largos e angulosos, cintura no lugar ou levemente alta, quadris estreitos e pernas bastante alongadas. As roupas diurnas eram simples e utilitárias já as roupas de noite possuíam extremo glamour. Os trajes de praia uniam estes dois mundos.
A frente-única
É em todo este contexto de corpos livres de espartilho, exercícios físicos e passeios em balneários que a frente única surge, sendo a peça perfeita para exibir as costas bronzeadas e exercitadas. Embora tenha sido idealizada por Erté em 1917, foi Madeleine Vionnet quem a popularizou na década de 1930, levando os vestidos de noite europeus para a América, assim como outros figurinistas de Hollywood que levavam para a tela as criações de alta costura francesa.
O que marca a frente-única é sua presença em blusas e vestidos como uma tira que se amarra atrás do pescoço, deixando ombros e costas nuas. Frente discreta, mas ao virar de costas se torna reveladora.
O que marca a frente-única é sua presença em blusas e vestidos como uma tira que se amarra atrás do pescoço, deixando ombros e costas nuas. Frente discreta, mas ao virar de costas se torna reveladora.
Erté x Madeleine Vionnet / MET. |
A maior parte do glamour dos anos 1930 vem de Hollywood, o cinema
era a fuga da crise da América. Hollywood era o local onde a alta costura
européia era apresentada ao público influenciando o gosto das massas.
O corpo feminino atlético, bronzeado e impecável dos anos 1930 deveria ter proporções de deusa. O que se reflete em criações de alta costura européia que passaram a fazer parte dos figurinos de Hollywood.
Madame Gres, 1939 / National Gallery of Victoria. |
Jean Harlow com o vestido enviesado criado por Gilbert Adrian para
“Jantar às Oito” (1933) foi a peça que fez a moda da frente única pegar de fato
nos EUA.
Quando pensamos nesta união de consciência corporal, corpo
bronzeado e cuidado, lazer, glamour e cinema, é fácil lembrar das fotografias
ou filmagens em que as atrizes de cinema estão posando junto à suas piscinas na
Califórnia, tipo de imagem que é reproduzida até hoje em ensaios fotográficos da cultura retrô. Mesmo que algumas possam não saber que o conceito vem desse período e contexto histórico, é impressionante como a imagem da mulher saudável, consciente de seu corpo fazendo uso de uma atividade de lazer, ainda é marcante em nossa cultura visual.
De sua criação em 1930, até os dias de hoje, poucos foram os
momentos em que a frente única saiu de cena, na década de 1950 a peça continuou
dominando a moda feminina. Além de Doris Day, citada no começo da postagem, a
frente única tem momentos icônicos nas telas, talvez a cena que mais recorra à
nossa mente seja a de Marilyn
Monroe com o vestido branco plissado em
“O Pecado Mora ao Lado” (1955) e o vestido dourado em “Os Homens Preferem as Loiras” (1953), este teve diversas
cenas censuradas por ser considerado revelador demais. Ambos foram desenhados
por Willian Travilla.
O icônico vestido branco frente única de Marilyn Monroe revela a sensualidade das costas da atriz. O vestido dourado que foi censurado nas telas.
Dois modelos frente única: à esquerda Vestido Dior 1963 e página da Vogue de 1953.
Na década de 1960
a peça era comum na subcultura hippie, sendo eles
apreciadores de moda artesanal, os modelos em crochê eram muito usados. A frente
única aparece também em macacões, especialmente na década de 1970 e se
populariza para uso no dia a dia.
Se na década de 1980 o modelo se restringe, em 1990 ocorre sua consagração onde especialmente entre 1994 e1997 a peça estava presente
até mesmo em trajes de gala! Quem lembra das frente únicas de Lady Di, a princesa rebelde (clica pra ler o post sobre ela) escandalizando a realeza britânica?
Frente única nas décadas de 1960 e 1970. |
Se na década de 1980 o modelo se restringe, em 1990 ocorre sua consagração onde especialmente entre 1994 e
Frente única na moda jovem da década de 1990.
Angelina Jolie, Gwen Stefani e Shirley Manson entre fins de 1990 e começo de 2000.
Madonna em campanha para Versace e Dita von Teese inova com uma falsa frente única.
Amy Winehouse em vestido retrô e Lady Gaga, num vestido que
lembra as proporções de deusa, como na década de 1930.
Com essa breve passagem pela origem da frente única, podemos ver que a peça surgiu associada a lazer, corpo atlético e dias ensolarados. Seu desenvolvimento a leva aos trajes noturnos elegantes e imortaliza com a sensualidade de Marilyn Monroe. Adotada por subculturas como a hippie, a peça se torna cada vez mais um traje do dia a dia, pra todas ocasiões e todas as idades.
É assim que retornamos à blusa "Dóris" de minha coleção com a loja Dark Fashion: uma peça que une através do tecido em veludo, o glamour dos anos 1930 com a sensualidade das costas nuas e um design atemporal, que nunca sairá de moda.
Espero que através da história da peça, seja resgatado o lado revolucionário da frente única à respeito das vestimentas femininas!
* Cupom de desconto na Dark Fashion: SUBCULTURAS
Na coleção Dark Glamour, o foco foi desenvolver uma peça chique e atemporal.
Blusa Dóris, criada em parceria com a loja Dark Fashion |
É assim que retornamos à blusa "Dóris" de minha coleção com a loja Dark Fashion: uma peça que une através do tecido em veludo, o glamour dos anos 1930 com a sensualidade das costas nuas e um design atemporal, que nunca sairá de moda.
Espero que através da história da peça, seja resgatado o lado revolucionário da frente única à respeito das vestimentas femininas!
* Cupom de desconto na Dark Fashion: SUBCULTURAS
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Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas, escrito por Sana Mendonça e Lauren Scheffel. É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o texto do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.
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