A idéia de usar um vestuário de eras passadas não está mais reservada à recriações para teatro ou cinema. Aqueles com uma queda por saias armadas, corsets, chapéus e maneiras elegantes, econtraram seu nicho na era moderna. Essas pessoas que apreciam épocas passadas estão longe de serem pertencentes apenas à cena gótica (embora tenha sido na cena gótica que surgiram eventos do tipo). Para alguns, vestir-se de forma histórica, é mais do que uma estética, é um modo de vida que expressa a rejeição dos ideais sociais atuais, proclamando: "A época em que nasci não se encaixa em mim, então, escolhi outra época pra viver". Ou ainda "Não quero você, século XXI! Quero ter classe!"
Se vestir de modo belo, independente da classe social, foi comum na Inglaterra e França entre o século XVIII e XIX e era chamado de dândismo (dandyism). Era uma vestimenta de protesto contra a divisão de classes, usado para mostrar a superioridade da mente que o vestia. Hoje, o estilo dândi é mais sobre vestir-se com elegância e sofisticação, e curiosamente, tornou-se o oposto de sua idéia inicial, já que os homens de classe mais baixa dificilmente podem comprar um terno bem cortado.
Essa nova cultura, ou subcultura de adoradores de trajes históricos, também costumam ter entre seus adeptos pessoas atraídas pelo burlesco. Óbviamente, toda subcultura tem uma parte musical e essas bandas também vestem-se em roups inspiradas em épocas passadas e fazem shows em eventos específicos para esse público. Emilie Autumn e Rasputtina são exemplos destas bandas. O fato de Emilie Autumn ter se tornado a banda favorita de compradores de uma grande loja de moda alternativa americana, mostra como a estética histórica tem se tornado grande a acessível aos jovens daquele país.
Já o guarda roupa neo-vitoriano é cheio de corsets para a perfeita silhueta ampulheta, saias e vestidos armados com bloomers, petticoats, crinolinas e infinitos acessórios como chapéus, joalheiria e sombrinhas. Acima de tudo, a pessoa que traja essas roupas visa a individualidade e uma aura romântica.
Há neo-vitorianos que se dizem fazer parte da cena gótica, mas na verdade acontece um crossover entre a subcultura gótica e a nascente subcultura de admiradores de moda histórica. Para estes neo-vitorianos góticos, maquiagem dark é essencial!
É sabido que roupas inspiradas em épocas históricas são vendidas há algum tempo em lojas alternativas estrangeiras. Há a oferta destas roupas e há quem as compre.
Mas que graça tem se vestir de forma histórica se não há lugares para ir?
Nos anos recentes houve a necessidade de criar-se eventos específicos para que essas pessoas (e bandas) pudessem se divertir. Afinal, ao contrário daqui do Brasil, no exterior, primeiro surgiram as ofertas de roupas e depois os eventos.
Há um famoso evento nos EUA que começou em 2007 com foco nos anos 20 e 30, mas recentemente passou a incorporar Vitoriano, Barroco, Rococó, assim como passou a fazer eventos mensais com música, arte, dança e outros tipos de entretenimento com temática histórica. Esses eventos, chiques, luxuosos, visualmente atraentes, passaram a atrair a atenção da imprensa: do New York Times à Burlesque Magazine. Esse evento se chama Dances of Vice.
Há outros eventos regionais nos EUA, como o Edwardian Ball que acontece em São Francisco e Los Angeles há 10 anos. Como entretenimento trazem bandas de neo-cabaret, troupe de dançarinos e atrações circenses. Também há o Vampires Masquerade Ball em Portland, Estado do Oregon, criado em 2002, cujo público é majoritáriamente góticos romântico-decadentes e fetichistas. Tem como atrações os artistas locais. Ambos os eventos são menos frequentes que o Dances of Vices, mas atraem um público grande e específico.
Na Europa, os bailes hitóricos mais conhecidos e frequentados são os organizados pela fotógrafa belga Viona. Em 2006 começou o Gala Nocturna, um evento histórico temático. O Sarabande, que esse mês fará sua segunda edição, é um Baile de Verão. Ambos são eventos cujo dresscode histórico é obrigatório. Viona organiza também (mas não é a criadora) do Picnic Vitoriano, realizado desde 2008 no WGT, que é voltado especificamente, mas não unicamente ao público gótico, no picnic o traje histórico pode ser uma reprodução fiel ou misturado com a estética gótica.
Amizade e paixão por moda histórica: Shien Lee, organizadora do americano Dances of Vice fotografada pela belga Viona:
No Brasil, também existem admiradores de estéticas e costumes de épocas passadas. O primeiro picnic vitoriano a seguir os moldes do Picnic organizado por Viona, foi o Picnic Vitoriano Curitiba, cuja equipe organiza outros eventos temáticos históricos. Em Florianópolis, a Sociedade Histórica Desterrense também busca o reconstrucionismo histórico. O Picnic Vitoriano São Paulo, e o Picnic Vitoriano de Porto Alegre também já garantiram seu espaço, e outros picnics estão sendo organizados em outros Estados do Brasil como Belo Horizonte (MG), Palmas (TO) e Fortaleza (CE).
Todos esses eventos no Brasil (e no exterior), foram criados por pessoas alternativas, mas não significa que pessoas "não-alternativas" não possam participar. O importante é ter a paixão ou mesmo o desejo de vestir-se e comportar-se como em outras épocas.
Esses eventos históricos são, antes de tudo, um desejo de seus participantes de escapar do mundo atual, onde tudo é instantâneo, não há cavalheirismo, as pessoas se vestem com pouca elegância. Também nos dias de hoje as músicas costumam ser executadas em clubes num som extremamente alto e maléfico e hoje em dia praticamente não há mais tempo para simplesmente sonhar deitado numa relva sem ser assaltado.
As pessoas estão despertado seus desejos de fuga para épocas em que tudo tinha seu tempo ideal de acontecer - mesmo que fosse lento - e onde as poses e boa aparência ainda eram extremamente necessárias para manter a diferenciação na sociedade.
Fontes: Viona Art, Edwardian Ball, Dances of Vice, Vampire Ball.