Pessoas que apreciam estéticas alternativas, gostam de expressar sua individualidade através das roupas em looks únicos, autorais ou de acordo com as subculturas que são parte.
Mas como os Looks do Dia (e as sugestões de compras da blogueira) podem funcionar pra esse público que, em sua origem, não gosta de imitar ninguém?
E outra questão: o que o público alternativo quer ver nos looks de blogs alternativos? A realidade, o desejo ou o idealizado?
Muitos blogs com ênfase em publicidade e lifestyle (incluindo Looks), criam uma relação de vouyerismo e poder com suas leitoras. A blogueira detém o poder da vida ou objeto desejado e as leitoras, vouyers, recebem um estímulo de consumo à curto e médio prazo. Porém, devido aos publiposts, nem sempre há garantia de que você conhece bem a autora, surgindo assim, uma linha tênue de "ser ela mesma" e uma espécie de "fashion victim" que vende um produto.
Há quem diga que blogs sem looks da blogueira são impessoais. Eu não concordo. Sempre há a opinião do autor nos artigos e estes indicam que tipo de assunto o autor gosta/tem interesse em abordar, revelando assim, um gosto pessoal.
Quando se trata de Looks em blogs alternativos, sinto uma espécie de faca de dois gumes, não apenas porque Moda e tendências mainstream nunca estiveram tão poderosamente influentes dentro da cena alternativa quanto ao tema abordado [neste post], a questão de manter a autenticidade em meio aos merchans.
Existe uma linha tênue entre indicar uma peça num look (como você usaria) e a relação curta e efêmera de um leitor que viu a peça no look, não curtiu o jeito que foi usado e fica achando que aquela peça não compensa ser comprada. Quando se trata de moda alternativa, eu acredito que não podemos limitar o olhar do outro. Precisamos dar opções e deixá-lo livre pra decidir como usar algo. Dar referências e inspirações e não necessariamente ideias prontas do tipo "use assim", "use com isso" ou "como usar..."
Acredito que possam funcionar como dicas e não como regra a ser seguida.
Nós prezamos muito que cada um desenvolva seu próprio estilo dentro da subcultura que faz parte ou se identifica. É preciso que haja o toque pessoal que é o que vai te diferenciar de outra pessoa com a roupa igual à sua.
O produto que indico aqui pode não servir para seu estilo pessoal, mas uma visita ao site da loja pode te fazer gostar de outra peça ou lembrar de outra pessoa e assim você indica a loja à outra, formando assim, uma corrente de divulgação alternativa.
Um look pronto mostra como eu usaria a peça. Mas cada um tem seu estilo particular e precisa desenvolver sua criatividade sem se prender aos looks prontos. Há quem sofra de insegurança, pensando que se não usar a peça “x” que tá na tendência e que a blogueira está indicando, não estarão por dentro...
Não é estranho quando um alternativo não consegue montar os próprios looks? Não é exatamente o alternativo que usa a roupa que quer, como quer, sem ligar se tá de acordo com as regras ou não? De repente, os blogs também tem essa influência negativa de deixar quem é mais inseguro refém de uma aparência ideal e “correta”.
Um dos desafios dos blogs alternativos de Moda e Looks é não questionarem a cultura de massa. Espaços alternativos precisam ser questionadores, senão, não podem ser considerados "alternativos". Não podemos transmitir aos leitores, as mesmas neuras de moda e estilo que blogs mainstream passam, ao contrário, precisamos incentivar as pessoas a assumirem ser elas mesmas, independentes das opiniões alheias, não serem mais uma ovelha seguindo o rebanho.
Somos brasileiras e temos corpos (e cores) diferentes das Americanas e Europeias. Em redes sociais como Lookbook.nu e Instagram, status e popularidade se fazem importantes através de hypes e likes. É comum garotas brancas, magras e com pernas longas no lookbook.nu (site que inspira muitas blogueiras). E é possível que brasileiras queiram imitar seus corpos na ilusão de que a roupa cairá melhor. Será que além de criarem o “melhor” look pra ter mais likes e hypes, ao mesmo tempo, induzem-nos a desejar corpos idealizados que não são nosso padrão??
Estilos pessoais e patrocinados de blogueiras chegam a nós e por hábito, tendemos a usá-los como referência. Mas até que ponto queremos ser como elas? Como essa loucura de imagens e informações de um mundo “hemisfério norte” altera nossa própria visão de estilo?
É muito chato que garotas "alternativas" desejam ter corpos idealizados pelo mainstream. É como se anos e anos que as subculturas pregaram o “seja você mesma” tenham se convertido em “seja como a mídia quer que você seja”. É uma cultura que insistimos em copiar. Precisamos parar de copiar estéticas machistas, sexistas, gordofóbicas de fora e do mainstream! Nosso corpo é diferente, podemos ser estilosas, nós temos capacidade, não precisamos imitar o corpo de ninguém.
As europeias têm um ideal de beleza de pernas longas, por isso usam e abusam de sainhas curtinhas, porque pra cultura mainstream delas, as longas pernas são sexies, estão nada mais nada menos do que mantendo um estereótipo de sensualidade regional. Porém, acho legal salientar que, ao contrário dos alternativos americanos que cada vez mais se rendem aos padrões da beleza mainstream, especialmente na Inglaterra ainda respeitam o verdadeiro conceito de alternativo, é bem fácil encontrar meninas fora do padrão corporal, publicando seus maravilhosos estilos em suas redes sociais.
Meses atrás fiz uma pesquisa de opinião no MdS e uma coisa que me surpreendeu foi a relação de amor e ódio dos leitores com a sessão "Look do Leitor". A ideia da sessão era publicar fotos de estilo pessoal que os leitores me enviavam. Claro, alguns se montavam, só que outros menos. Dentre os leitores que disseram adorar a sessão, gostavam porque os looks se aproximam da realidade mostrando como adaptar ao Brasil, pois os looks do exterior seriam "distantes" de nossa realidade. Os que não gostavam da sessão alegaram que os looks eram "muito simples".
Então, pergunto: o que é um look alternativo simples? Temos que sair montados com vinil e bota de plataforma às 14h? A atitude conta muito num look alternativo. E como reclamar que os looks são muito simples sendo que muito do que se vê hoje são 200 garotas vestidas iguais com o "alternativo" de lojas de departamento? Looks simples e autorais não pode, mas looks fast-fashion parecidos uns com os outros pode???
Muitas de nós visitamos blogs de moças alternativas estrangeiras e apreciamos seus estilos pessoais ou looks do dia. Mas a realidade delas é um pouco distante da nossa. Não apenas pela disponibilidade de roupas e acessórios iguais ou semelhantes aos delas são escassas ou inexistentes aqui no Brasil, mas também devido ao clima que é diferenciado.
Lá fora, elas têm acesso fácil à lojas e produtos alternativos, nós aqui, podemos passar uma vida inteira sem nunca ter conseguido nos vestir como gostaríamos devido à escassez de produtos.
Em países como EUA, Inglaterra ou Japão, a moda alternativa é algo muito palpável, basta sair às ruas pra encontrar uma loja física de produtos diversos. Há toda uma cultura já enraizada em algumas cidades ou bairros fazendo com que haja opções do alternativo ter locais para comprar e usar suas roupas.
Sim, eu acredito que o idealizado e distante é do ser humano, MAS o que acho que também acontece é que viciamos e romantizamos nosso olhar pro estrangeiro! Damos ao estrangeiro idolatria e pensamos que teremos status quando nos tornarmos semelhantes à eles, pois temos uma autoestima baixa, uma síndrome de vira latas! Mas não deveria ser assim! Não podemos nos prender somente ao que vem de fora desvalorizando quem faz looks autorais, instrutivos e diferentes no Brasil.
Nós temos um clima complicado e tendemos à medida que ficamos mais velhas a garimpar e peneirar mais nossos estilos pessoais, criando nossas identidades. Sabemos que temos poucas lojas alternativas e pouca variedade de estilos, e também temos poucas opções de lazer na maioria das cidades brasileiras, assim, como usar o alternativo no dia a dia? Não é interessante que mais de nós mostremos isso?
Ou será que os leitores ainda preferem que postemos apenas looks de balada, estilos inatingíveis ou looks prontos? Será que não é mais interessante a blogger mostrar estilos e variedades reais e possíveis dentro de seu estilo pessoal??
Mas como os Looks do Dia (e as sugestões de compras da blogueira) podem funcionar pra esse público que, em sua origem, não gosta de imitar ninguém?
E outra questão: o que o público alternativo quer ver nos looks de blogs alternativos? A realidade, o desejo ou o idealizado?
Muitos blogs com ênfase em publicidade e lifestyle (incluindo Looks), criam uma relação de vouyerismo e poder com suas leitoras. A blogueira detém o poder da vida ou objeto desejado e as leitoras, vouyers, recebem um estímulo de consumo à curto e médio prazo. Porém, devido aos publiposts, nem sempre há garantia de que você conhece bem a autora, surgindo assim, uma linha tênue de "ser ela mesma" e uma espécie de "fashion victim" que vende um produto.
Há quem diga que blogs sem looks da blogueira são impessoais. Eu não concordo. Sempre há a opinião do autor nos artigos e estes indicam que tipo de assunto o autor gosta/tem interesse em abordar, revelando assim, um gosto pessoal.
Quando se trata de Looks em blogs alternativos, sinto uma espécie de faca de dois gumes, não apenas porque Moda e tendências mainstream nunca estiveram tão poderosamente influentes dentro da cena alternativa quanto ao tema abordado [neste post], a questão de manter a autenticidade em meio aos merchans.
Existe uma linha tênue entre indicar uma peça num look (como você usaria) e a relação curta e efêmera de um leitor que viu a peça no look, não curtiu o jeito que foi usado e fica achando que aquela peça não compensa ser comprada. Quando se trata de moda alternativa, eu acredito que não podemos limitar o olhar do outro. Precisamos dar opções e deixá-lo livre pra decidir como usar algo. Dar referências e inspirações e não necessariamente ideias prontas do tipo "use assim", "use com isso" ou "como usar..."
Como os Looks e as sugestões de compras da blogueira podem funcionar pra esse público que, na teoria, não gosta de imitar ninguém?
Acredito que possam funcionar como dicas e não como regra a ser seguida.
Nós prezamos muito que cada um desenvolva seu próprio estilo dentro da subcultura que faz parte ou se identifica. É preciso que haja o toque pessoal que é o que vai te diferenciar de outra pessoa com a roupa igual à sua.
O produto que indico aqui pode não servir para seu estilo pessoal, mas uma visita ao site da loja pode te fazer gostar de outra peça ou lembrar de outra pessoa e assim você indica a loja à outra, formando assim, uma corrente de divulgação alternativa.
Um look pronto mostra como eu usaria a peça. Mas cada um tem seu estilo particular e precisa desenvolver sua criatividade sem se prender aos looks prontos. Há quem sofra de insegurança, pensando que se não usar a peça “x” que tá na tendência e que a blogueira está indicando, não estarão por dentro...
Não é estranho quando um alternativo não consegue montar os próprios looks? Não é exatamente o alternativo que usa a roupa que quer, como quer, sem ligar se tá de acordo com as regras ou não? De repente, os blogs também tem essa influência negativa de deixar quem é mais inseguro refém de uma aparência ideal e “correta”.
O perigo das alternativas não questionarem a cultura de massa
e continuarem externalizando machismo e gordofobia.
Um dos desafios dos blogs alternativos de Moda e Looks é não questionarem a cultura de massa. Espaços alternativos precisam ser questionadores, senão, não podem ser considerados "alternativos". Não podemos transmitir aos leitores, as mesmas neuras de moda e estilo que blogs mainstream passam, ao contrário, precisamos incentivar as pessoas a assumirem ser elas mesmas, independentes das opiniões alheias, não serem mais uma ovelha seguindo o rebanho.
Somos brasileiras e temos corpos (e cores) diferentes das Americanas e Europeias. Em redes sociais como Lookbook.nu e Instagram, status e popularidade se fazem importantes através de hypes e likes. É comum garotas brancas, magras e com pernas longas no lookbook.nu (site que inspira muitas blogueiras). E é possível que brasileiras queiram imitar seus corpos na ilusão de que a roupa cairá melhor. Será que além de criarem o “melhor” look pra ter mais likes e hypes, ao mesmo tempo, induzem-nos a desejar corpos idealizados que não são nosso padrão??
Estilos pessoais e patrocinados de blogueiras chegam a nós e por hábito, tendemos a usá-los como referência. Mas até que ponto queremos ser como elas? Como essa loucura de imagens e informações de um mundo “hemisfério norte” altera nossa própria visão de estilo?
É muito chato que garotas "alternativas" desejam ter corpos idealizados pelo mainstream. É como se anos e anos que as subculturas pregaram o “seja você mesma” tenham se convertido em “seja como a mídia quer que você seja”. É uma cultura que insistimos em copiar. Precisamos parar de copiar estéticas machistas, sexistas, gordofóbicas de fora e do mainstream! Nosso corpo é diferente, podemos ser estilosas, nós temos capacidade, não precisamos imitar o corpo de ninguém.
As europeias têm um ideal de beleza de pernas longas, por isso usam e abusam de sainhas curtinhas, porque pra cultura mainstream delas, as longas pernas são sexies, estão nada mais nada menos do que mantendo um estereótipo de sensualidade regional. Porém, acho legal salientar que, ao contrário dos alternativos americanos que cada vez mais se rendem aos padrões da beleza mainstream, especialmente na Inglaterra ainda respeitam o verdadeiro conceito de alternativo, é bem fácil encontrar meninas fora do padrão corporal, publicando seus maravilhosos estilos em suas redes sociais.
O que o público alternativo brasileiro quer ver nos looks de blogs alternativos:
a realidade, o desejo ou o inalcançável?
Meses atrás fiz uma pesquisa de opinião no MdS e uma coisa que me surpreendeu foi a relação de amor e ódio dos leitores com a sessão "Look do Leitor". A ideia da sessão era publicar fotos de estilo pessoal que os leitores me enviavam. Claro, alguns se montavam, só que outros menos. Dentre os leitores que disseram adorar a sessão, gostavam porque os looks se aproximam da realidade mostrando como adaptar ao Brasil, pois os looks do exterior seriam "distantes" de nossa realidade. Os que não gostavam da sessão alegaram que os looks eram "muito simples".
Então, pergunto: o que é um look alternativo simples? Temos que sair montados com vinil e bota de plataforma às 14h? A atitude conta muito num look alternativo. E como reclamar que os looks são muito simples sendo que muito do que se vê hoje são 200 garotas vestidas iguais com o "alternativo" de lojas de departamento? Looks simples e autorais não pode, mas looks fast-fashion parecidos uns com os outros pode???
O que o leitor de blogs alternativos quer em termos de
posts de looks e maquiagens?
Lá fora, elas têm acesso fácil à lojas e produtos alternativos, nós aqui, podemos passar uma vida inteira sem nunca ter conseguido nos vestir como gostaríamos devido à escassez de produtos.
Em países como EUA, Inglaterra ou Japão, a moda alternativa é algo muito palpável, basta sair às ruas pra encontrar uma loja física de produtos diversos. Há toda uma cultura já enraizada em algumas cidades ou bairros fazendo com que haja opções do alternativo ter locais para comprar e usar suas roupas.
"Por mais que digam que os leitores queiram ver coisas reais, úteis, que possam ser incluídas no dia a dia delas, a maioria das leitoras, quer mesmo ver aquilo que é inatingível e distante, idealizado, porque talvez isso seja do ser humano, mesmo, independente de ser alternativo ou não", disse certa vez Erika, do Black Baroque.
Sim, eu acredito que o idealizado e distante é do ser humano, MAS o que acho que também acontece é que viciamos e romantizamos nosso olhar pro estrangeiro! Damos ao estrangeiro idolatria e pensamos que teremos status quando nos tornarmos semelhantes à eles, pois temos uma autoestima baixa, uma síndrome de vira latas! Mas não deveria ser assim! Não podemos nos prender somente ao que vem de fora desvalorizando quem faz looks autorais, instrutivos e diferentes no Brasil.
Nós temos um clima complicado e tendemos à medida que ficamos mais velhas a garimpar e peneirar mais nossos estilos pessoais, criando nossas identidades. Sabemos que temos poucas lojas alternativas e pouca variedade de estilos, e também temos poucas opções de lazer na maioria das cidades brasileiras, assim, como usar o alternativo no dia a dia? Não é interessante que mais de nós mostremos isso?
Ou será que os leitores ainda preferem que postemos apenas looks de balada, estilos inatingíveis ou looks prontos? Será que não é mais interessante a blogger mostrar estilos e variedades reais e possíveis dentro de seu estilo pessoal??
Giovana, Erika, Rúbia, Marcela, Sandila: são apenas algumas das brasileiras alternativas que sou fã dos looks próprios, autorais e completamente adaptados à realidade nacional.
E vocês leitores, o que buscam em Looks do Dia da blogueira?
* Postado originalmente em abril de 2014, em meu outro blog que não está ativo no momento, importado e com texto adaptado ao MdS pois é um tema que merece ser trazido à tona aqui também.