Semana passada, saiu a intrigante notícia de que os sites Ebay e Etsy estavam comercializando t-shirts estampadas com a carta de suicídio de Kurt Cobain e que já haviam vendido 200 mil unidades do produto custando 25 dólares cada.
Quando li de primeira, de cara senti estranheza, era algo bizarro demais para ser verdade. Talvez por ser grande fã de Cobain e conhecer bem a finalidade da carta, tenha sentido tal impressão. Só que de longe fui a única. Logo em seguida soube da petição acusando as empresas de “glamourização das doenças mentais”, e assim, os produtos foram retirados do mercado.
Entre as justificativas do porquê ser falta de respeito, Julian Godinez, criador da petição, descreve que “a doença mental e o comportamento suicida não é uma questão de moda, e não se destina a ser glamourizada ou ser ostentada numa camiseta”.
De fato, essa não é uma estampa qualquer. Não é um simples papel com escritas. A carta representa uma das últimas angústias do cantor. Para algumas pessoas – porque há de tudo – pode parecer uma bobagem, um alarde à toa, mas não é. Doenças mentais têm crescido de forma surpreendente no mundo, a depressão já é chamada de o mal do século. As taxas de suicídio vêm aumentando, inclusive no Brasil, país que tanto vende a imagem da felicidade. Os sorrisos estão ficando cada vez mais forçados.
Mesmo com os altos índices, essas doenças ainda são vistas na sociedade com estigmas supernegativos. Além da tortura física, como depressivo e suicida, Kurt também sofreu, e ainda sofre, do martírio moral. A eterna culpa de ter sido um fraco, já que ele era um homem bem sucedido na profissão que escolheu, era casado e com uma filha. Desse modo, observa-se o desconhecimento sobre o assunto. Não podemos também esquecer o que a família passa. No dia de sua morte, o sofrimento de Kurt pode ter acabado, mas os dos seus parentes foi o início.
Talvez pelo fascínio que os ídolos causam, exista gente, principalmente adolescente, que ache “cool” ter a imagem de depressivo, bipolar, etc, pois de algum jeito ficam mais próximos de seus admiradores. Ou até mesmo isso lhes traga empatia por saber que ambos sentem coisas semelhantes. Porém, é preciso enxergar o lado cruel dessa história. Não é glamour ter transtorno mental. Quem sofre sabe o quão duro e incapacitante é estar nela. A idade vai passando e as frustrações se acumulam. A vida perde o sentido e passa num piscar de olhos!
Se você sofre de depressão ou conhece alguém nessa condição, indico a página Acabe com o Estigma, onde há relatos pessoais sobre o tema. Os testemunhos reais podem servir de conforto para quem está lutando contra o transtorno. E claro, procure ajuda médica, é necessário para enfrentar a situação. Nós também estamos a disposição caso queiram relatar sua história.
No livro "Kurt Cobain, a construção do mito", Charles R. Cross dedica o penúltimo capítulo abordando o tabu que aos poucos vem sido quebrado. Chega a ser irônico noticiar esse assunto diante de um músico que odiava tanto a imprensa quanto a moda. Ele provavelmente ficaria espantado ao ver fãs usando a camiseta. Fica a questão para se pensar: Será que os transtornos mentais sofrem tanto preconceito que banalizam sem ter a devida noção???
Realmente é ridículo como esse tipo de coisas são glamourizadas, já tinha percebido antes, no tumblr se vê bastante. Que bom q deixaram de vender as camisetas!
ResponderExcluirPois é, até onde vai a ética das empresas, né? Questão a se pensar! Bjkas
ExcluirÉ muito bom ver que existem blogueiros que compreendem a importancia de se abordar a questão do adoecimento mental com respeito. Achei este post realmente muito bom! Sei o que é ter um quadro depressivo grave e realmente não há nada de glamouroso nisto. Hoje, depois de vários anos de tratamento, superei e levo uma vida normal. É muito bom colocar as coisas desta forma para os jovens de hoje, quebrando tabus que geram preconceito contra o sofrimento mental e deixando claro a seriedade do assunto, que realmente não é para ser glamurizado e estampado em uma camiseta.
ResponderExcluirParabéns pelo post!
Obrigada! É significativo ler um elogio por quem passou por depressão. O objetivo era chegar nesse ponto mesmo, transformar o oportunismo em alerta de transtornos mentais. E que bom vc conseguiu se tratar. Bjkas e saúde!
ExcluirSeu texto falou tudo, o último parágrafo então... sem comentários! Ótima postagem, boa análise. Parabéns... muita gente deveria ler.
ResponderExcluirwww.escolhasalternativas.com.br
Obrigada, Angélica! Volte sempre, bjkas!
ExcluirAconteceu a um tempo atrás com outra marca na qual não me recordo o nome, o lançamento de umas camisetas inspiradas nos uniformes que os judeus usaram nos campos de concentração. Nem preciso descrever muito sobre o quanto isso é absurdo e sem sentido. O ponto positivo da história vai para para a petição que levou a retirada do produto no mercado, acredito que isso mostra a insatisfação que houve da banalização da carta e também da morte dele. Não só por ele ser o Kurt, mas porque isso é absurdo mesmo. Kurt foi um artista que me influenciou muito. Um músico cujo o trabalho conquistou e ainda conquista várias pessoas ao redor do mundo. Seus sentimentos e sofrimentos transcritos naquela carta não merecem ser usados assim. O sofrimento de ninguém merece
ResponderExcluirJehssy,
Oi Jehssy! O caso do uniforme foi com a Zara. Em ambos os casos, Zara e Kurt, foi o público que questionou e pediu a retirada dos produtos. Como vc bem disse, o sofrimento de ninguém deve ser comercializado. É uma boa reflexão também fora da moda, pois encontramos mto isso na mídia em forma de sensacionalismo.
ExcluirLegal saber que Kurt lhe influenciou, esse ano tem documentário dele sendo lançado, parece q vem coisa boa por aí. Bjkas!
Sim, estou sabendo do documentário que será produzido por Frances Bean Cobain. :) também estou esperando! Abraço! :*
ExcluirE eu que achava que já tinha visto de tudo nesse mundo...
ResponderExcluirA que nível as pessoas estão chegando?
Quando vi o título da postagem não tava acreditando que era sério até ler tudo.
É um absurdo o que essas empresas fazem para conseguir dinheiro. Banalizar o sofrimento de outras pessoas e, ainda pior, banalizar uma doença séria dessa forma e ainda tentar tornar em algo normal e cool é ainda mais inacreditável.
Ainda bem que ainda existem pessoas com bom senso que conseguiram tirar essas roupas do ar.
Adorei seu texto e sua reflexão!
bjin
http://monevenzel.blogspot.com.br/
Fãs do Nirvana não tem que ser depressivos, assim como fãs do Kurt suicidas. Adolescência ridícula de hoje tarja tudo como "Cool" e "modinhas". Deixem de ridicularidade, glamourizar uma coisas dessas é desumano. Além do mais fãs do Kurt mesmo admiram o trabalho que ele fazia e a força de vontade que ele tinha de mudar. Gostar do Nirvana é gostar de Rock, não porque Cobain tinha tais problemas mentais e se suicidou. Outros podem até msm se identificar com o problema dele e etc, mas não são assim porq gostam de Nirvana e são fãs do Nirvana. Deixa de ser ridícula sociedade
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