De onde veio esse fenômeno da moda retrô que já perdura alguns anos tanto na moda dominante quanto na moda alternativa? Para entender, é preciso voltar um pouco no tempo, praticamente uma década.
É preciso ter em mente que a moda também reflete a época em que vivemos. Em 2002 se iniciou a guerra ao terror no Oriente Médio e a crise financeira iniciada em 2008 nos EUA se espalhou pra zona do Euro recentemente. Em épocas assim, a Moda costuma buscar referências estéticas de eras inocentes, felizes, pacíficas e nostálgicas como forma de escapismo. Esse escapismo Retrô na Moda teve a ajuda de uma moça que chamou a atenção da mídia mainstream na hora certa (em 2001): Dita Von Teese.
Dita se interessa pela estética dos anos 1930 aos 1950 e costuma usar roupas vintage de brechós. Ela também é fã de Bettie Page e fazia fotos sensuais inspiradas na modelo pin-up dos anos 50. Pratica tight lacing, o que a levou a ter uma estreita relação com a subcultura fetichista e estampar a capa das mais variadas revistas do gênero, trajando constantemente roupas de látex. Além disso, desde 1992 apresenta algo que era praticamente desconhecido do grande público: um show de striptease neo-burlesco. Mas a garota alternativa ativa no underground tinha um fã: o dândi Marilyn Manson já acompanhava seu trabalho há algum tempo...
Capas de revistas fetichistas em fotografias sensuais e eróticas:
Em 2001, Dita e Manson começam a namorar. Formavam um casal único: um grotesco roqueiro + uma dançarina burlesca-fetichista. Em companhia do roqueiro, Dita atraiu a atenção da grande mídia americana por sua profissão incomum, suas roupas de látex, mini cintura afinada com ajuda de corsets e estilo retrô. Em pouco tempo virou musa de importantes estilistas, alguns deles responsáveis pelo lançamento das tendências mundiais. Passou a ser comum ver o casal na primeira fila dos desfiles de moda. Vestida pelos grandes nomes, surgia constantemente em publicações sob o título de "a mais bem vestida".
No começo do namoro com Manson, Dita usava roupas fetichistas, depois, quando teve contato com estilistas famosos, suas roupas ganham um ar mais glamuroso.
No contato com o mainstream, o visual da cantora
aos poucos foi se tornando mais glamouroso.
No ano de 2004, Dita rompeu com Manson e a partir daí nota-se uma mudança brusca em seu estilo. Querendo ou não, o roqueiro ajudou a apresentá-la ao mainstream. O cantor sempre gostou de desfilar com mulheres diferentes do padrão como parte de sua imagem excêntrica. As roupas de Dita costumavam ser de marcas alternativas fetichistas, hoje são de grifes como Dior e Louboutin. Antes, a dançarina estampava capa de revistas fetichistas underground obscuras, hoje estampa editoriais da Vogue.
A Dita fetichista deu lugar à Dita glamourosa que veste Dior, Louboutin, é musa de Jean-Paul Gaultier e ajudou a popularizar a moda retrô para as massas e dar um novo fôlego nesta cena alternativa.
Em algumas ocasiões, Dita foi convidada a palpitar em coleções que estavam sendo criadas, começava então uma forte influência de seu gosto pessoal na moda dominante, onde passou-se a ver nas passarelas coleções cheias de corsets, referências fetichistas, retrôs e burlescas. Isso aconteceu quando Dita se adaptou ao mundo mainstream, praticamente abandonando sua associação com o fetichismo underground e focando no neo-burlesco.
Esse abandono se deu porque o termo "Burlesque" na América pós-pornô, remete à algo doce, leve, ingênuo. É um termo aceitável ao grande publico. Enquanto que a palavra fetiche - subcultura da qual Dita fez parte por anos - na América, costuma ser associada a pessoas com alguma forma de doença mental, culto ao diabo, sendo um estilo de vida completamente rejeitado pelo grande mercado e pelo público de massa.
Então, houve uma adaptação de Dita ao mercado para que seu trabalho juntamente com sua nova estética (mais retrô e menos fetichista) tivesse a aceitação do grande público. O fetichismo que ela vende agora não é mais o fetichismo underground, é um fetiche light massificado, ultra-glamouroso, sensual e feminino, pois a cultura de massa, especialmente a norte-americana, vende o imaginário underground sem seu lado mais obscuro. Seu fetiche é ultra-glamouroso, sensual, cheio de corsets e poses elegantes.
O fetiche underground envolto em couro e vinil, deu lugar à um fetiche light, com corsets, cintas ligas e muito preto: ideal para ser vendido para as massas:
A popularização da estética antiguinha na moda dominante ajudou também a nascer uma grande confusão: o termo "pin-up" é errôneamente divulgado como um sinônimo para "moda retrô". A mídia vende ao grande público que a moda que a Dita usa é "moda pin-up", mas Pin-up é trabalho de modelos em fotos sensuais e uma estética que perpassa subculturas englobando não uma moda em si, mas vários estilos. Falei sobre isso no post Pin-ups e as Subculturas.
No meio alternativo, onde ela já era conhecida, sua fama e referências estéticas aumentaram. A moda alternativa redescobriu os anos 1950, antes reduzido à subculturas como a rockabilly. A febre cinquentinha trouxe cor às subculturas que antes vestiam praticamente só preto. Também trouxe de volta a feminilidade dos saltos altos, saias e vestidos inspirados no new look Dior.
Modelos alternativas em ensaios fotográficos ao estilo “pin-up” apareceram aos montes na última década.
E claro, a provocação sensual de donas de casa versão alternativa dão as caras em editoriais.
O glamour de Dita versus modelo alternativa:
Quando pensar sobre corsets de volta à moda, fetichismo light para as massas, shows burlescos se espalhando pelo país, garotas usando roupas inspiradas nos anos 1950, batons vermelhos, francesinha inversa, sobrancelhas marcadas, pele pálida, franjinha à la Bettie Page, concursos “miss pin-up”, estéticas alternativas sendo aceitáveis no mainstream... Dita Von Teese tem uma parcela de responsabilidade junto com os grandes estilistas. E isso é algo que entra pra história da moda alternativa!
Finalizo com um conselho de Dita:
"Ignore as críticas...só a mediocridade está a salvo do ridículo. OUSE SER DIFERENTE!"
Como um dia Dita ousou ser, hoje ser retrô não é mais tão diferente assim.
Acompanhe nossas mídias sociais:
Direitos autorais:
Artigo original do blog Moda de Subculturas. É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.
Artigo original do blog Moda de Subculturas. É permitido compartilhar a postagem. Ao usar trechos do texto como referência em seus sites ou trabalhos precisa obrigatoriamente linkar o artigo do blog como fonte. Não é permitida a reprodução total do conteúdo aqui presente sem autorização prévia. É vedada a cópia da ideia, contexto e formato de artigo. Plágios serão notificados a serem retirados do ar (lei nº 9.610). As fotos pertencem à seus respectivos donos, não fazemos uso comercial das mesmas, porém a seleção e as montagens de imagens foram feitas por nós baseadas no contexto dos textos.