Pouco se fala, mas no século XIX houve uma espécie de “Moda Alternativa”
usada por mulheres que rompiam padrões sociais.
Decidi falar desse assunto aqui no blog porque ele tem muito a ver com post que publicarei logo a seguir, e é importante para que se entenda o contexto histórico da época. Tanto essas mulheres quanto a roupa que elas usavam foram precursoras do que viria a ser um novo comportamento feminino frente à sociedade no século XX.
Você com certeza já ouviu a frase "feministas são mulheres feias, lésbicas ou solteironas”. Ela tem sido usada há pelo menos 150 anos para “estereotipar” as mulheres que lutavam por seus direitos e que usavam roupas que fugiam do padrão social, ou seja, roupas alternativas à moda vigente na época. Já passou da hora de conhecer um pouco da história pra poder superar isso, certo?
Histórico
Durante alguns milênios, a participação da mulher na sociedade foi relegada ao princípio da procriação e de coadjuvante do homem. Por séculos não lhes era permitido sequer o aprendizado (nos faz também lembrar da luta da paquistanesa Malala para que mulheres também sejam alfabetizadas). A ideologia do século XIX, era altamente patriarcal e esta estipula identidades de gênero fixas, onde os trajes femininos e masculinos tendem a ser claramente diferenciados, e quem adotar em público a roupa do sexo oposto será considerado revoltante e repugnante. Só que com o advento da industrialização, resultado da Revolução Industrial, a mulher foi obrigada aos poucos a se lançar no mercado de trabalho...
Decidi falar desse assunto aqui no blog porque ele tem muito a ver com post que publicarei logo a seguir, e é importante para que se entenda o contexto histórico da época. Tanto essas mulheres quanto a roupa que elas usavam foram precursoras do que viria a ser um novo comportamento feminino frente à sociedade no século XX.
Você com certeza já ouviu a frase "feministas são mulheres feias, lésbicas ou solteironas”. Ela tem sido usada há pelo menos 150 anos para “estereotipar” as mulheres que lutavam por seus direitos e que usavam roupas que fugiam do padrão social, ou seja, roupas alternativas à moda vigente na época. Já passou da hora de conhecer um pouco da história pra poder superar isso, certo?
Histórico
Durante alguns milênios, a participação da mulher na sociedade foi relegada ao princípio da procriação e de coadjuvante do homem. Por séculos não lhes era permitido sequer o aprendizado (nos faz também lembrar da luta da paquistanesa Malala para que mulheres também sejam alfabetizadas). A ideologia do século XIX, era altamente patriarcal e esta estipula identidades de gênero fixas, onde os trajes femininos e masculinos tendem a ser claramente diferenciados, e quem adotar em público a roupa do sexo oposto será considerado revoltante e repugnante. Só que com o advento da industrialização, resultado da Revolução Industrial, a mulher foi obrigada aos poucos a se lançar no mercado de trabalho...
As mulheres que no século XIX resolveram se lançar no mercado de trabalho eram de classe operária (pobres) ou mulheres (de qualquer classe social) que optaram por ficar solteiras - significando serem independentes de um homem pra pagar suas contas, o que na época era algo tão desafiador que elas eram relegadas à cidadãs de segunda classe (entendem porque "ficar pra titia" é um termo que sugere que ser solteira é algo negativo?).
Os Trajes
Comparação de trajes de meados do século XIX:
à esquerda, o traje "alternativo" com calças e saia mais curta
e à direita, o traje da Moda com saias longas e mais pesadas.
As calças também foram usadas como rebeldia (siiiim, mulheres rebeldes sempre estiveram por aí!). E como as questões de gênero eram muito definidas na época, e calças eram associadas à homens, essas mulheres, corajosas e pioneiras, foram assediadas socialmente, algumas vezes de forma violenta. E passaram a usar a peça somente nos ambientes domésticos, em círculos fechados ou na área rural.
Uma mulher usa calças em casa, local que não seria hostilizada.
E uma jovem usa vestuário alternativo, com elementos da moda masculina
(paletó,colete, camisa, gravata, chapéu de palha).
E uma jovem usa vestuário alternativo, com elementos da moda masculina
(paletó,colete, camisa, gravata, chapéu de palha).
Algumas eram feministas que exigiam uma participação maior das mulheres na sociedade. E daí vem a frase que citei acima: é claro que numa sociedade tão patriarcal como a do século XIX, mulheres de calças, só podiam ser "lésbicas, feias ou mal amadas! E querem roubar o lugar dos homens!".
Mas as mulheres que decidiam trabalhar, serem solteiras, usarem calças, não estavam querendo ser homens, queriam apenas uma opção de roupa mais leve e que as permitisse mais liberdade de movimentos.
Quer dizer... essas mulheres sugeriram opções alternativas, mas tinham sua estética ridicularizada até não poder mais. Em 1850, Amelia Bloomer apresentou um traje que consistia de uma saia curta sobre uma calça turca volumosa. Amelia e outras mulheres, usavam-no por ser confortável, prático e seguro - sem a intenção de lançar moda. Mas a peça chamava muita atenção, atraia multidões de homens agressivos e tamanho era o assédio, que elas precisaram parar de usar a roupa poucos meses depois pra evitar mais violência.
Trajes com bloomers (calças bufantes)
Lá por 1880 apareceu uma turma da nova geração, uma espécie de "contracultura" (no sentido anacrônico da palavra) de artistas e escritores, que eram contra o que eles viam como a desumanização provocada pela era Industrial. Eles foram chamados de Pré Rafaelitas. Para eles, a rigidez das roupas e espartilhos vitorianos eram desinteressantes e artificiais.
Através do revivalismo romântico eles produziam arte de vanguarda. Desenhavam vestidos inspiradas na Era Medieval que foram gradualmente adotados por suas esposas, filhas e pessoas ligadas ao círculo de amizade. A moda mainstream se opunha à esta moda alternativa e zombava dos pré-rafaelitas na mídia.
Eles acreditavam que a sociedade era obcecada por uma falsa aparência de respeitabilidade. Defendiam uma cultura que dependia de bens artesanais e roupas com base nos estilos do final da Idade Média, pois as roupas medievais eram simples, elegantes e bonitas. Muitos deles eram vegetarianos ou defensores dos direitos animais.
Comparação entre o traje mais leve da turma alternativa (pré rafaelitas) e o traje da Moda do período, mais rígido, austero e elaborado.
O vestido estético oferecia mais liberdade de movimento do que a moda em vigor na Inglaterra Vitoriana. Estas mulheres não usavam espartilhos e sim corpetes, vestidos fluidos, com pregas suaves. A cava das mangas era no lugar “normal” contrastando com o ombro caído da moda vitoriana que restringia os movimentos dos braços.
Oscar Wilde e Charles Dodgson, também conhecido como Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, eram defensores e adeptos desta moda alternativa. O estilo de Wilde é amplamente reconhecido como a moda masculina (alternativa) do movimento estético. Cabelos lânguidos, jaqueta e calções de veludo, chapéu de abas abertas, calças ao estilo turco, gravatas com o nó solto. Wilde era uma das figuras centrais do Movimento e foi muito ridicularizado, mas entendia sobre o poder de se comunicar através da aparência.
Oscar Wilde e Lewis Carroll, defensores de uma moda alternativa
Enquanto as mulheres de calça as usavam somente em casa e os Pré-Rafaelitas desfilavam nas ruas suas roupas de inspiração medieval causando rebuliço, em 1890 apareceu um esporte novo, chamado Ciclismo.
As mulheres da elite ficaram encantadas com as bicicletas! Caras demais para a classe baixa comprar... E a bicicleta exigia trajes mais soltos para poder pedalar. Assim, quando a classe média e alta passa a sentir a necessidade de "usar calças" e peças mais leves, acontece uma mudança definitiva sobre as roupas que as mulheres usavam. É inegável que era impossível andar de bike com os trajes vitorianos elegantes!
Elite vitoriana adota elementos da moda alternativa, calças
e roupas mais leves para poder pedalar
e roupas mais leves para poder pedalar
Com o tempo, o traje "alternativo" acabou sendo utilizado por uma parcela maior das mulheres, como as atrevidas gibson girls que foram as precursoras das pin-ups!
O ciclismo é um símbolo de empoderamento e emancipação que mudou em definitivo a forma como as roupas eram vistas, dando liberdade ao corpo feminino. E as roupas alternativas, tiveram sua parcela de responsabilidade ao colocar novos elementos na moda dominante.
Concluindo
Vale olhar com outros olhos para as frases machistas citadas, olhar as bicicletas com outros olhos... quem insiste em dizer que Moda Alternativa não tem importância social, que não muda o mundo, olhe os exemplos acima... Tanto o trabalho, quanto a educação passaram a dar às mulheres a necessidade de se sentirem mais representadas politicamente na sociedade. Leitura, estudo, trabalho, usar calças, saias curtas e biquínis, hoje coisas corriqueiras, vieram de longas batalhas femininas... Uma luta que se travou por quase um século, inclusive através de um movimento que será assunto do post a seguir. ;)
Para saber um pouquinho mais:
Vocês podem ler textos mais detalhados sobre esses assuntos no meu outro blog, o História da Moda:
- Moda Alternativa no Século XIX
- A Roupa Estética e da Reforma
Curiosidade: ainda hoje em alguns países árabes, mulheres são proibidas de pedalar. E aí,
aproveito pra indicar pra vocês um filme que fala sobre isso: "O Sonho de Wadjda", sobre uma garotinha árabe que sonha ter uma bicicleta, ouve rock e usa all star e é meio
fora do padrão. É o primeiro filme escrito e
dirigido por uma mulher saudita e
questiona de forma muito sutil a posição das mulheres na sociedade
árabe.
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