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6 de dezembro de 2021

Subcultura: Sapeurs de Brazzaville

Há mais de uma década, os Sapeurs viraram os queridinhos do mundo da moda e o bairro de Brazzaville, capital da República do Congo, virou o destino dos fotógrafos interessados em registrar essa subcultura. Não é por menos, os Chapéus podem pagar até 4.500 dólares em roupas de grifes europeias, como Dior, Jean Paul Gaultier, Armani, Kenzo, Gucci, Versace.



Metade da população do Congo vive na pobreza. Em uma cidade pobre como Brazzaville, o propósito é montar o look de forma a parecer rico. Os Sapeurs preferem vestir-se bem a comer bem. Economizam por anos, fazem empréstimos para comprar suas roupas de luxo. Podem emprestar roupas entre si e até comprar peças sob medidas de Boutiques da cidade. Criatividade é importante, ternos e smokings são coloridos e monocromáticos, a inspiração é nos dândis. 





Os sapeurs são da classe trabalhadora: policiais, costureiras, alfaiates, donas de casa, carpinteiros que precisam administrar bem o salário, por isso que no cotidiano usam as roupas comuns. As roupas extravagantes eles usam em seus encontros e para animar as ruas, onde são respeitados. Faz parte ter um comportamento delicado, educado e atencioso. 






Sapeurs vem de SAPE, “Societé des Ambianceurs et des Personnes Elegantes” (Sociedade de Criadores de Ambiente e Pessoas Elegantes), Há quem diga que a sigla na verdade vem do termo francês "sapes" (trapos), devido a origem da subcultura. 



Como começou? 

O estilo começou como uma emulação. Na década de 1920, quando os franceses chegaram ao Congo, trouxeram junto o mito da elegância parisiense, empregados domésticos desdenhavam das roupas usadas que recebiam dos patrões e passaram a usar seus míseros salários para adquirir roupas vindas de Paris imitando os patrões de forma exagerada. O estilo também era adotado por congoleses que passavam um tempo na França, estudando e ao retornarem ao Congo, mantiveram os trajes. 

Em 1960, o Congo conquista sua independência. Na década de 1970, o então presidente Mobutu Sese Seko passou a evitar todas as coisas ocidentais e baniu o terno, pedindo que as pessoas usassem roupas nacionais congolesas tradicionais. Jovens se incomodaram e passaram a usar o estilo sapeur de forma ainda mais extravagante, com regras de vestimenta (por exemplo, no máximo três cores ao mesmo tempo) e fazendo competições de elegância. Ainda na década de 1980, os sapeurs podiam ser banidos dos espaços públicos. 




Mulheres 

Existem mulheres que adotaram o estilo. Apenas no ano de 2010 o primeiro grupo feminino foi estabelecido, são chamadas de “Les Sapeuses”. Assim como em outras sociedades patriarcais, os papéis de gênero (comportamentos atribuídos ao sexo) foi o que impediu por muito tempo que as mulheres se sentissem confortáveis de participar da subcultura. 


Cuidar dos filhos e da casa, não ter liberdade de expressão são papéis de gênero impostos às mulheres. Desta forma, a adesão delas ao estilo foi através da persistência de serem aceitas. Sim, os homens teriam de aceitá-las. Assim como nas sociedades ocidentais (e talvez da maior parte do mundo), as mulheres precisam de concessão dos homens para estarem presentes em diversos ambientes da vida em sociedade. O machismo impediu as mulheres de fazerem parte da subcultura e elas só conseguiram por pressão. Com muitas petições, as mulheres exigiam o direito de serem sapeuses. 




Os grupos masculinos resistiram sob a alegação que não era apropriado mulheres se expressarem da mesma maneira que os homens. A solução foi elas criarem grupos exclusivos pra o sexo feminino, o que abriu as portas para que mais mulheres participassem da subcultura, pois se sentiam mais seguras e confortáveis num ambiente com outras mulheres. Os homens se sentiram pressionados: ou resistiam aos grupos femininos ou permitiam a participação delas. Após 90 anos de existência do estilo, em 2010, eles decidiram aceitar as mulheres. Uma grande conquista das mulheres numa sociedade em que não podem se expressar plenamente. As sapeuses também podem gastar milhares de dólares numa peça de moda grifada e vestem roupas tão sofisticadas como a dos homens e podem incluir algum detalhe local, como ráfias. Como ocorre em outras subculturas, a referência estética é masculina. 


Desta forma, as Sapeuses vestem ternos. E aqui abro um parênteses sobre a história das mulheres: “se vestir de homem” é uma estratégia utilizada por mulheres há milênios, como forma de adentrar em espaços proibidos à elas. Esta é uma estratégia milenar para ter acesso a ambientes masculinos, se vestir como eles é uma forma de romper uma barreira, uma tentativa de serem tratadas de forma mais 'igualitária'. Temos um exemplo muito conhecido desta estratégia que foi o das mulheres na subcultura heavy metal. Estes exemplos demonstram o poder da quebra de gêneros (estereótipos de comportamento ligados ao sexo), em que ambos os sexos poderiam - e deveriam - se vestirem como quisessem sem estarem presos à tais estereótipos. 







Segundo o antropólogo francês Remy Bazanquisa, Sape é uma consequência do intercâmbio cultural entre o Congo e a França iniciado no século 15 e perpetuado pelo colonialismo e ao longo das décadas teria sido uma forma de resistência colonial, ativismo social e protesto pacífico. 




Até que ponto os Sapeurs são de fato uma resistência colonial ao desejarem se vestir como os colonizadores, ativismo ou protesto pacífico eu não saberia opinar. O que percebo é que se sentem felizes neste processo. Se há um discurso político ao gastar 4 mil dólares numa peça de roupa, qual seria? Deixo com vocês e com os que estão envolvidos com estudos africanos essa análise. É um legado de imperialismo cultural, um legado pós-colonial?







Fontes: atualização em breve.


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14 de dezembro de 2018

Die Antwoord e Zef: a subcultura do branco pobre da África do Sul

Com o fim do apartheid na África do Sul, novas políticas foram criadas visando o apaziguamento das diferenças étnicas entre negros e brancos naquele país. É nesse ponto que a subcultura Zef ganha espaço. Atualmente é associada ao trio de rap Die Antwoord que orgulhosamente representa o estilo.

Yo-Landi Visser e uma de suas camisetas escrito "ZEF"/ Divulgação.

"Zef é o estilo azarão da África do Sul. Zef tem sido um insulto há muito tempo na África do Sul. Significa que você é um pedaço de merda" - Ninja, Die Antwoord

O Zef surge como consequência do empobrecimento dos brancos da África do Sul. Para entender como os brancos empobreceram precisamos voltar um pouco no tempo e contar de forma breve a história da colonização do país.

Os colonos holandeses chegaram na África do Sul no século 17 com o desejo de estabelecerem-se numa terra fora dos domínios britânicos, assim, ocorreu uma migração em massa de agricultores (os Voortrekkers), os "pioneiros", que desenvolveram sua própria linguagem e identidade. Os descendentes destes colonos são chamados de "Afrikaners". Em 1948 eles chegaram ao poder e o Apartheid foi instaurado.

O apartheid foi  um regime de segregação racial (1948 a 1994) onde os direitos da maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo de minoria branca. Ocorria a divisão dos habitantes em grupos raciais: "negros", "brancos", "de cor" e "indianos". Na década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania. Serviços públicos como saúde, educação e outros eram oferecidos de forma inferior aos negros enquanto os brancos ficavam com os melhores serviços.

Muitos Afrikaners trabalhavam na indústria do ouro na década de 1970, enriquecendo e levando um estilo de vida ostentatório. Apesar de uma vida financeira confortável, eram pouco educados e escolarizados. O termo "Zef" era usado para descrever a paixão destas pessoas pelo Ford Zephyr customizado de forma extravagante. O estereotipo do Zef era um bigode de morsa (bigodes super grandes) e um corte de cabelo mullet. 

Em 1994 ocorrem as primeiras eleições democráticas e consequentemente o fim do apartheid. A vida destes brancos muda radicalmente, levando-os ao empobrecimento. Sua cultura virou tabu, foi sendo desmantelada ganhando um significado de 'vergonha'. 

A recente geração de afrikaners de Joanesburgo reapropriou e parodiou esta cultura marginalizada. A cena cresceu em torno de  Die Antwoord, com Ninja, Yo-Landi e o DJ Hi-Tek que fazem rap em inglês, na língua Africaans (africânere dialetos locais.

"Zef é: você é o pobre mas você é extravagante. Você é pobre mas você é sexy, você tem estilo" - Yo-Landi

Zef: o visual do branco que entrou em decadência social com o fim do Apartheid

Características

O Zef envolve elementos que remetem à ostentação, como o uso de grillz nos dentes e a um visual barato associado à classe média baixa. 


As características do estilo Zef. / Reproduçao


Mullet, cuecas boxers estampadas, lentes de contato sclera, tatuagens de baixa qualidade, corte/penteado High Top Fade (o penteado do Ninja), jóias douradas, roupas over-sized (grandes para o corpo da pessoa), camisetas curtas estilo cropped (leia matéria aqui), pinturas no rosto e referências aos anos 1980 (as cores verde e rosa são frequentes) são habituais no visual do Die Antwoord.


Yo-Landi cheia de colares dourados e 
seu famoso corte de cabelo mullet. / Divulgação

Os estilos de Yo-Landi e Ninja passam a impressão de um visual de rua, marginalizado, casual, simplório e às vezes 'esquisito' e brega. As roupas de Yo-Landi costumam ter também um jeito infantilizado.


É importante salientar que o visual do grupo de rap remete a uma versão mais exagerada, uma paródia do comportamento 'pouco educado' dos Zefs que já foram bem de vida e perderam poder aquisitivo. Suas roupas com aparência de baratas e de modelagem simples se contrastam com os elementos de ostentação, como os acessórios em ouro.
A dupla estrelou o filme "Chappie" (2015) de Neil Blomkamp e manteve o visual Zef em cena associando-o a elementos cyberpunks e pós apocalípticos nas cenas de luta.


Fotos: Divulgação

Embora o Zef exista há décadas, foi com Die Antwoord que esta subcultura ficou mundialmente conhecida através da abordagem sarcástica dos artistas musicais. 

Seguimos no caminho de escrever sobre subculturas e estilos alternativos fora do eixo Europa / Estados Unidos. O Zef é apenas um dentre muitos.


E você, o que acha de 
Die Antwoord e do estilo Zef?



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