Há pouco mais de um dia atrás uma polêmica rolou na internet em sites do meio Heavy Metal.
Foi "denunciado" que a loja de departamentos sueca H&M estava vendendo camisetas com logos e símbolos de bandas de metal neo-nazistas.
Houve debates e questionamentos na web sobre até qual ponto uma loja corporativa chegaria, na ânsia para vender produtos, comercializando logos e símbolos de uma subcultura sem saber seus reais significados.
Finalmente, pouco mais de 24 horas depois, o assunto foi desvendado: Henri Sorvali das bandas de metal finlandesa Moonsorrow / Finntroll foi o responsável pelo Culture Jamming.
Culture Jamming é uma espécie de ativismo street art que visa romper ou subverter a cultura mainstream. Os adeptos acreditam que o público tem o direito de responder às imagens de marketing em lugares públicos que nunca pediram para ver. É como uma reação contra o conformismo social, criando novos tipos de produção cultural que transcendem, ao invés de simplesmente criticar o status quo. Eles tentam expor os métodos de dominação da sociedade de massa para promover a mudança progressiva. Banksy, Borat, Jello Biafra, John Lydon e Michael Moore são famosos Culture Jammers.
Henri Sorvali e seus amigos botaram o mundo metal pra questionar até que ponto a subcultura tem tido sua estética massificada em lojas de departamento.
Como eles fizeram esse protesto artístico?
Eles pegaram roupas da atual coleção de primavera da H&M, fabricaram estampas e patches de falsas bandas neo-nazis que pertenciam à uma gravadora falsa, a "Strong Scene Productions" e aplicaram nas roupas. Tiraram fotos e a seguir, espalharam as fotos na internet. Em pouco tempo, até grandes sites de noticias HM ingenuamente divulgaram que a mais recente coleção da H&M tinha roupas "de inspiração metal"
baseadas num imaginário genérico sobre a subcultura.
As falsas peças feitas pelo coletivo de Culture Jamming "Strong Scene Productions"
Henri Sorvali explica qual a motivação por trás do ato:
"Queria salientar o fato de que você não pode comercializar uma subcultura sem realmente conhecer todos os diferentes aspectos da mesma. O conhecimento sobre o seu produto é essencial em marketing.
O objetivo do grupo (que tem dezenas de pessoas de diferentes áreas da música e da mídia ao redor escandinávia) foi a discussão sobre o fato de que a cultura do Metal é mais do que apenas logos "cool" em roupas da moda e tem muito mais aspectos ideológicos e estéticos em subgêneros diferentes do que algumas empresas estão tentando expressar. A cena metal é variada, polêmica e uma espécie de lobo que você não pode acorrentar e esperar que ele se comporte em seus termos, como um cão. O Strong Scene é um coletivo que não tem absolutamente nenhuma intenção política nem ideológica e só está trazendo a conversa para o nível que deve ser discutido! Você chama isso de trolling, podemos chamá-lo de interferência cultural."
E por que a escolha do tema "neo-nazi"?
Ele explica:
"Queríamos trazer o lado feio do metal para para mostrar que nós, como metalheads estamos mais conscientes do conteúdo que você está vendendo às pessoas do que você como vendedor. Há tantas coisas erradas com a comercialização (mainstream) do metal, que nós sentimos que alguém tinha que fazer uma declaração sobre o assunto. Acho que isso é uma grande lição para marcas corporativas. Se você escolheu o metal para cooptar a moda, pode haver um pouco de retorno adverso de algumas pessoas que o conhecem."
O músico finlandês Henri
Sorvali que fez a "pegadinha do malandro" junto com seus amigos alertando que o Heavy Metal é
muito mais do que uma estampa em lojas de departamento!
Coincidentemente, recentemente fizemos um post sobre a cooptação de símbolos ocultistas e pagãos pela moda. É muito interessante saber que alguém, do outro lado do mundo, está na mesma vibe de questionamentos que nós, do Moda de Subculturas.
Algumas pessoas criticam subculturas por serem "fechadas, atrasadas e aprisionantes" e este protesto vindo através de uma intervenção artística, por membros de uma subcultura, com um questionamentos super viáveis e reflexivos, mostra que apenas um grupo, unido das mesmas ideias poderia colocar em atividade tal provocação social.
Aos que se identificam com suas subculturas e exigem que elas tenham seus símbolos respeitados: ainda existem pessoas com interesse em fazer a diferença!
Não sei pq, mas isso me faz muito pensar no conceito de apropriação cultural - ok, que mais diferenciado, afinal independente da cor, credo e outras questões, qualquer pessoa pode ser da subcultura - mas isso não significa que pode "virar bagunça". Há fatores ali que fizeram tal subcultura ou cultura ser conhecida justamente como tais. Excelente post! Beijo.
ResponderExcluirVerdade, apropriação cultural também rolaria vários debates e questionamentos! Eu mesma não sei dizer o quanto é politicamente correto e o quanto é a livre expressão por elementos ou símbolos que aprecia/se identifica. Ainda preciso ler muito sobre e conhecer opiniões. O fato é que a comercialização "sem essência" sempre dá uma estragadinha né??
ExcluirCom certeza, alguns fatores/elementos definem subculturas ;)
Bjss
Que coisa LINDA de se ler! Pega exatamente a questão que muitos de nós levantamos nos comentários do seu texto sobre a massificação de símbolos do "universo ocultista".
ResponderExcluirÉ triste demais que pessoas usem símbolos, estampas e similares sem saber o que significam ou o que representam! Não creio que seja algo que possamos, simplesmente, deixar pra lá; com o pensamento de que o problema é de quem compra e usa sem saber. Será mesmo que nada pode ser feito? Não podemos simplesmente arrancar as roupas dessas pessoas (não por falta de vontade da minha parte), mas seria legal colocar em suas cabeças, de alguma forma, que símbolos possuem significados e contextos - e que seria interessante se elas, ao menos, soubessem quais são.
Achei a ideia simplesmente genial! Imaginaria algum jovem liberal surtando após comprar uma dessas peças por causa da estampa "cool" e descobrir que tem ligação com ideologias contrárias ao que acredita!
Beijões, Sana!
Eu fiquei bem surpresa de ver que eles, músicos de bandas de metal finlandesa (alguns nomes de participantes não foram revelados!) terem ficado de saco cheio e feito uma intervenção através de um protesto artístico! Eles foram e fizeram algo né??
ExcluirE realmente o problema nem seria tanto quem compra sem saber, mas as empresas que para vender tem preferido pegar o que já existe e que não é muito conhecido ao invés de criar algo novo.
hahahahaha!! Ia ser louco ver uma pessoa assim surtando mesmo!!! :D
Nossa! Que sensacional!
ResponderExcluirBom saber que tem gente pelo mundo inteiro que também ta levantando questionamentos desse tipo!
Fico imaginando um debate desse tipo aqui, em um país onde a grande maioria é cristã e muitos deles compram roupas com símbolos ocultistas achando que é só um símbolo cool, descobrindo que aquele símbolo é algo que eles julgam "do capeta".. Acho que começariam a colocar fogo nas Marisas da vida...
Mas voltando a realidade, é bem complicado essa coisa de vender uma ideia sem saber o que ela representa exatamente, ou até saber, mas aproveitar da ignorância (no sentido de falta de conhecimento mesmo) da grande massa apenas para vender produtos. Até porque muitas vezes são esses símbolos de cada subcultura que ajudam um "seguidor" a identificar outros que compartilham do mesmo pensamento. Como fazer se chega um momento em que qualquer pessoa começa a usar sem entender o que tem por trás daquilo? É como se estivesse tirando a identidade de algo que é particular daquela subcultura para transformar em algo que gere lucro e apenas lucro...
Adorei o post!
bjin
http://monevenzel.blogspot.com.br/
É sempre legal saber que alguém lá fora questiona as mesmas coisas que nós. Coisas que às vezes o pessoal aqui do Brasil nem se liga!
ExcluirOlha, esse debate ia ser com ânimos esquentados kkkkk não duvido nada que não rolasse umas violências por aí! :P
Mas é bem isso mesmo, pelo consumo vale tudo, até tirar significados das coisas e torná-las banal. Faz tempo que esse sistema que só visa o lucro e a exploração funciona assim, já tava na hora do pessoal fazer algum coisa!
Obrigada Mone!
Bjs
cara, se eu que tento estudar sempre que posso sobre simbologia já não costumo comprar coisas com estampas lindas mas que não compreendo o significado imagina só o povo que compra sem entender bulhufas e acha que tá "arrasando"...
ResponderExcluirachei uma boa iniciativa desse Henri, massificar algo que a massa não tem o menor entendimento é muito perigoso e infelizmente tem gente que não pensa assim, você pode sofrer preconceito ou até coisa pior por aquilo que usa, se for um símbolo nazi então...
bjuu Sana :)
http://hippiegrungerajneesh.blogspot.com.br/
Pô também sou assim!! Tem coisas que acho linda mas não adquiro porque a simbologia não tem a ver com minha filosofia de vida. Mas nessa coisa de consumir sem saber, já entra um outro tópico também que é a questão da cultura né? Nós somos tão carentes de cultura - existe a informação mas nem sempre chega à todos - que esse acaba sendo um agravante.
ExcluirFoi uma lição bem ousada mesmo, pegar um dos assuntos mais polêmicos - nazismo - e colocar pra vender em lojas de departamento. Muito criativo mesmo!!
Bjs pra vc tb! ;)
hahahahaha palmas, muitas palmas!!! Sensacional!!!!
ResponderExcluirAdoro ver estas coisas! Me agrada tanto quando o tapa é bem dado na cara da burguesia!!
É aquela bagunça que a gente vê por aí: garota usando rebite, tacha, caveira, sem nem fazer ideia de onde veio. Para que serve. Só pela moda.
E fazer uma intervenção destas em tempos de Twitter, Tumblr e Facebook foi de matar! A repercussão rápida mostra o perfil do atual mainstream: apenas faça, não questione.
Amei a ideia. Queria ver alguém fazer uma destas aqui, a bagunça ia ser boa! Teve até uma ideia parecida, depois que copiaram a propaganda da Risqué e fizeram outra proposta sobre ela, mas não foi algo "interferência cultural".
As pessoas precisam urgentemente enfiar a cabeça fora da caixa!
Eu também quando fiquei sabendo não pude deixar de abrir um sorriso pela "ozadia" dos caras!! :D
ExcluirBem criativo e esperto, pegaram o tema do nazismo que é super polêmico e colocaram pra vender pra massa - que não questiona! A
Eu acho que vi esse lance da Risqué que você fala, achei super legal também! Foi muito criativo, atrevido, esse pessoal é que devia estar nas agências de publicidade! Também foi um tapa na cara! ADORO!